Sepultou a mãe dentro da despensa de casa!!!
Amadora: João prometeu à mãe levá-la de férias e assassinou-a à traição
Sepultou a mãe dentro da despensa de casa
Quando entraram pela despensa da casa de João José Canto, polícias e bombeiros não queriam acreditar. Embrulhado num saco de plástico e dentro de um casulo de espuma, o corpo da mãe do engenheiro não tinha cabeça. O filho cortou-a com a faca da cozinha. E se dúvidas tivessem sobre o dia e hora do crime, os inscritos com tinta de spray por cima da sepultura improvisada não deixam dúvidas. Data de nascimento e da morte da vítima: 30 de Setembro, 16h00. Por fim, a frase com que João, 46 anos, se despediu da mãe: "Os decepados são frescos".
Sempre calmo, discurso coerente. Foi assim que João se apresentou sexta-feira à PSP de Castelo Branco, dez dias depois de matar a mãe à pancada na casa em que esta vivia na Venda Nova, Amadora, e ontem manteve a mesma serenidade frente ao juiz do Tribunal de Sintra. Por isso não foi internado em qualquer ala psiquiátrica e recolheu em prisão preventiva como qualquer homicida. Naquela tarde de 30 de Setembro, Lucinda do Canto, aos 68 anos, estava radiante. O filho prometera levá-la a passar uns dias à terra, na aldeia de Almaceda, Castelo Branco. Antes das 16h00 já ela estava de malas prontas à porta.
O filho saiu de casa, em São Marcos, Sintra, e foi lá ter. Lucinda já tratava dos últimos pormenores para a viagem quando João a apanhou de costas e lhe desferiu uma primeira pancada na cabeça com um maço de calceteiro. A mãe respirava, já no chão em agonia, quando ele lhe aplicou o golpe fatal. Foi buscar uma faca à cozinha, decapitou a mãe, deixou lá a cabeça e levou o corpo para sua casa, antes de partir sozinho para Almaceda.
Chegou à aldeia e, dez dias depois, chamou a PSP. Motivo: queria suicidar-se, tal como a mãe pensou fazer quando o pai era vivo e a maltratava, mas a vida na família tinha de seguir o ciclo normal. Gostava da mãe mas, para ele se matar, ela teria de morrer primeiro. Cortar-lhe a cabeça foi tão só por gostar da imagem de um corpo decepado.
"O JOÃO ERA POUCO SIMPÁTICO"
Martinha de Freitas acredita ter sido uma das últimas pessoas a ver Lucinda do Canto com vida. A vizinha do rés-do-chão da vítima do crime macabro de São Marcos, Cacém, recorda que a mãe de João do Canto lhe bateu à porta, há pouco mais de uma semana, para pagar o condomínio do prédio da rua Elias Garcia, Venda Nova, Amadora. "Ela ia para a terra (Almaceda), mas antes ia ver o filho", sublinha Martinha que acrescenta: "O João era pouco simpático. Mal falava às pessoas".
"DISSE PARA NÃO TERMOS PENA DELE"
João Canto estava com a camisa "ensopada de sangue" quando apareceu em Rochas de Baixo, próximo de Almaceda, sexta-feira, às 08h30. Pediu a Manuel Freire para ligar ao INEM, sem dar explicações. A sua grande preocupação era "não sujar o telefone com o sangue que tinha nas mãos e pediu um pano". Limitou-se a dizer que "tinha muito que contar", mas só admitiu ter tentado suicidar--se. Bebeu uma caneca de leite dada por Clara Martins e apenas "disse para não termos pena dele".
ALMACEDA CONFRONTADA COM "A VERDADEIRA HISTÓRIA DE TERROR"
As opiniões sobre João Canto dividem-se na aldeia de Almaceda, Castelo Branco, de onde é originária a sua família e onde têm casa. Uns descrevem-no como uma pessoa "certinha e respeitadora", enquanto outros acentuam a sua frieza. Mas todos são unânimes ao classificarem o crime como "a verdadeira história de terror". Alguns, horrorizados, dizem que "deveria morrer" e já anteriormente tinham notado que "não dava a atenção devida à mãe, que era doente".
João Canto nasceu em Lisboa, mas passava férias em Almaceda e foi numa aldeia vizinha, Rochas de Baixo, que foi pedir ajuda na sexta-feira, depois de ter tentado o suicídio. A prima, Fátima Canto, só acreditou quando foi a Castelo Branco para o ver, mas, pelo que lhe foi dito, ele recusou falar com a familiar.
Há quem já anteriormente tivesse reservas relativamente a João Canto, por não acompanhar a mãe, doente, à aldeia a partir do momento em que o pai morreu. Fátima Canto tem uma explicação: "A ideia dele era ajudá-la a tornar-se independente, porque ela tinha a doença dos nervos e o seu feitio não era fácil".
A trabalhar em informática mas com "uma grande paixão pela electrónica", João Canto sempre se dedicou "ao desenho, fazendo o retrato de familiares". À excepção destes, o homicida nunca teve contacto com a população. "Era distante", classificam. A prima confirma que nunca "foi muito dado a saídas". Só lhe conheceu uma namorada, com quem viveu, mas de quem já se separou. Do que conhece da sua personalidade entende que "não vai conseguir viver com isto [ter morto a mãe]".
PORMENORES
PAI FOI EMIGRANTE
O pai de João José do Canto morreu há dois anos. O homicida herdou, com a morte do progenitor, várias casas na zona da Amadora e Sintra, e uma quantia em dinheiro no banco.
VIVIA DA REFORMA
Lucinda do Canto, que morreu às mãos do filho João José, vivia da reforma. A mãe do homicida trabalhou décadas numa fábrica na zona da Amadora.
CONDOMÍNIO EM FALTA
Há mais de um ano que João José Canto não pagava o condomínio do prédio onde habitava, em São Marcos, no Cacém. "Era pessoa de poucas falas. Vinha às reuniões, e nada dizia", disse ao ‘CM’ um vizinho do homicida.
In c.m