• Olá Visitante, se gosta do forum e pretende contribuir com um donativo para auxiliar nos encargos financeiros inerentes ao alojamento desta plataforma, pode encontrar mais informações sobre os várias formas disponíveis para o fazer no seguinte tópico: leia mais... O seu contributo é importante! Obrigado.

A longa lista dos condenados

xicca

GF Ouro
Membro Inactivo
Entrou
Abr 10, 2008
Mensagens
3,080
Gostos Recebidos
1
À beira da extinção

A extinção de animais faz parte da evolução da vida na Terra, mas, desde que o bicho homem resolveu dar sua contribuição a esse processo, o desaparecimento de espécies tem se acelerado de forma preocupante. Na semana passada, foi divulgado o mais completo estudo sobre a situação dos mamíferos no planeta. O quadro que emerge da pesquisa é o mais sombrio desenhado sobre essa classe de animais. Um quarto das 487 espécies de mamífero classifi cadas pela ciência se encontra em risco de desaparecer. Isso significa 1 141 espécies, quinze vezes mais do que o número de mamíferos extintos nos últimos cinco séculos.

O estudo foi realizado pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), uma instituição composta de 11 000 cientistas de 160 países. Alguns dos animais relacionados estão ameaçados de desaparecer por causas naturais. É o caso do diaboda- tasmânia, um marsupial carnívoro que lembra um urso pequeno, que desenvolveu um tipo de câncer fatal que contagia os exemplares da espécie através do contato físico. Segundo os cientistas, porém, a grande maioria dos animais ameaçados é vítima da ação humana. “O perigo de extinção das espécies, hoje, decorre quase exclusivamente do desmatamento, que destrói os habitats, e da caça”, disse a VEJA o biólogo sul-africano Mike Hoffmann, do departamento de biodiversidade da IUCN.

Calcula-se que o desmatamento atinja 40% dos mamíferos do mundo. As florestas são destruídas para dar lugar à expansão urbana e à agricultura, o que explica os altos índices de animais sob risco no sul e no sudeste da Ásia, onde as populações crescem em ritmo acelerado. Nessas regiões, 80% dos primatas podem desaparecer. A população de orangotangos-de-bornéu que habitam florestas da Malásia e da Indonésia resume-se a 14% da existente em meados do século XX.

A outra grande ameaça às espécies, a caça indiscriminada, freqüentemente é praticada por total desconhecimento da importância da preservação desses animais. “Moradores de regiões remotas, que matam primatas e cervos para comê-los, não fazem idéia de que estão caçando espécies ameaçadas de extinção”, explica a primatóloga inglesa Liza Veiga, que vive em Belém e participou do estudo da IUCN fornecendo informações sobre animais da Amazônia. “O cuxiú-preto, um macaco já próximo de desaparecer, é caçado para que seu pêlo seja usado na fabricação de espanadores”, ela relata. O Brasil, com 82 espécies sob risco, está entre os países com o maior número de mamíferos ameaçados — perde apenas para a Indonésia, o México e a Índia.

Os mamíferos aquáticos encontram-se em situação ainda mais grave do que os terrestres: 35% das espécies correm perigo. Os especialistas acreditam que a proporção seja ainda maior. Isso porque estudar esses animais não é tarefa fácil. Os biólogos precisam passar longos períodos navegando. Hoje existem informações insufi cientes sobre um terço dos mamíferos aquáticos. O declínio populacional de animais como golfinhos e baleias passa despercebido em 70% dos casos.

Os principais fatores que levam os mamíferos aquáticos à morte são os acidentes ocasionados durante a pesca de outras espécies — eles são capturados e feridos nas redes — e a poluição das águas, geralmente causada pelo crescimento das cidades nas regiões costeiras. Outras ameaças aos mamíferos aquáticos são a destruição dos corais, que abrigam espécies que lhes servem de alimento, e os ruídos provocados por embarcações e sonares, que afetam seu sistema nervoso e interferem em sua comunicação.

Embora as cifras mais alarmantes produzidas pela IUCN digam respeito aos mamíferos, o estudo contempla também pássaros, anfíbios, peixes, répteis, crustáceos, corais e plantas. No total, 38% das espécies do planeta correm o risco de desaparecer. O cenário futuro pode ser ainda pior, já que o grau de ameaça foi determinado, na maioria dos casos, sem levar em conta o aquecimento global, apontado como o grande vilão ambiental das próximas décadas. “A mudança climática ficou fora do
cálculo porque, com exceção de alguns animais muito dependentes do gelo, como o urso-polar, as espécies ainda não sofrem seus efeitos”, disse a VEJA o biólogo americano Thomas Lacher, da Universidade Texas A&M e colaborador da IUCN.

O relatório deixa claro que é possível reverter o destino dos animais ameaçados. Alguns, entre eles o elefante africano, que até recentemente estavam sob grau elevado de ameaça de extinção foram reclassificados em categorias de risco menores, graças aos esforços de instituições que trabalham para preservá-los. São esforços que necessitam ser empreendidos em escala global.

O CALVÁRIO DE CADA UM
Alguns dos mamíferos ameaçados podem desaparecer em conseqüência de causas naturais, como o diabo- datasmânia, mas a maioria é vítima da caça e da ocupação de seus habitats pela expansão
urbana e pela agropecuária

O MAIOR DOS PRIMATAS
Em agosto, pesquisadores encontraram 125 000 gorilas-dasplanícies no norte da República do Congo. Mesmo assim, eles continuam a correr risco de extinção. Nos últimos 25 anos, a população desse animal diminuiu devido à caça e a doenças como o ebola

SÓ NO ZOOLÓGICO
Nativos da China, os cervos de-père-david já não existem na natureza, apenas em cativeiro. Foram dizimados devido à caça e à destruição de seu habitat. Quando se reproduzirem em quantidade
expressiva, serão reintroduzidos no ambiente selvagem

DOENÇA FATAL
Do tamanho de um cachorro pequeno, o diabo-da-tasmânia existe apenas na ilha australiana que lhe dá nome. Nos últimos dez anos, sua população se reduziu em 60%. Nesse caso, a culpa não é do homem. A espécie desenvolveu um tipo de câncer que impede os animais de se alimentar

ALERTA MÁXIMO
O lince-ibérico é um dos 188 animais classifi cados na categoria de alto risco de extinção. Sua população não passa de 140 adultos, que habitam o sudoeste da Península Ibérica. Seu alimento favorito, o coelho europeu, está sumindo. Além disso, o lince é vítima da caça e de doenças

IGUARIA À MESA
Natural do noroeste da Indonésia, o macaco-de-celebes é caçado para servir de alimento. Sua carne é apreciada na região. Como se não bastasse, seu habitat vem sendo destruído

VÍTIMA DA URBANIZAÇÃO
A população do orangotango-de-bornéu, primata das florestas da Malásia e da Indonésia, reduziu-se a 14% da que existia até meados do século XX. A espécie é dizimada pelo avanço da atividade humana em seu território





Revista Veja
 
Topo