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"É triste constatar que praticar o bem, salvar uma vida, devolver qualidade de vida, parece configurar crime", disse ontem ao CM Berta Dias, médica há 19 anos. "Apenas cumpri os meus deveres técnicos e éticos", afirmou.
Em Janeiro do ano passado, a cardiologista pediu a um cirurgião para aplicar um dreno à doente Esmeralda Completo que tinha líquido nos pulmões e estava "em agonia". A pneumologista e a oncologista assistentes não gostaram da atitude e participaram da colega, dando origem a um processo disciplinar que viria a ser arquivado.
"Lamento profundamente que só a mim tenha sido movido um processo disciplinar", refere a médica, de 43 anos, para quem o caso "carece de imparcialidade" ao tê-la como "única arguida". Dizendo que foi "fiel ao juramento hipocrático", a cardiologista garante ter sido "absolutamente injustiçada", confessando que a situação "teve um impacto grande" na sua vida "em termos emocionais e familiares, para não falar nos custos económicos".
"Estou convicta de que a minha acção e prontidão como médica foram a chave do êxito alcançado", sublinhou, garantindo que "faria tudo outra vez" e que não deixou de acompanhar a doente.
ESMERALDA LAMENTA CASO
Esmeralda Completo é doente oncológica há oito anos e sente-se revoltada com o que viu acontecer à médica que a salvou: "Não há direito de fazer o que fizeram à drª Berta: por ela me salvar a vida, processaram-na." Ex-empregada fabril de Oliveira do Hospital, com três filhos, de 14, 16 e 20 anos, a paciente garante que a cardiologista "foi a única" que a "tentou salvar". "A drª fez tudo por mim. Foi Deus que a pôs no meu caminho", assegura. Esmeralda diz que "se tivesse possibilidades económicas processava as outras médicas", até porque considera que foi "negligenciada por ser pobre".
COLEGAS QUESTIONAM DEONTOLOGIA
A pneumologista assistente de Esmeralda Completo considera que a atitude de Berta Dias foi "intempestiva" e colocou "em risco a vida da doente". Por isso, participou dela superiormente. O mesmo fez a oncologista que seguia a doente desde 2004 e que não viu com bons olhos algumas atitudes da colega. As participações colocam em causa o comportamento da cardiologista, sobretudo no que se refere à ética e deontologia aplicadas à relação com as colegas de profissão. Depois de arquivar o processo disciplinar por não poder questionar a atitude da médica do ponto de vista técnico, o IPO decidiu remeter o processo para a Comissão Nacional de Ética da Ordem dos Médicos – que ainda não se pronunciou – por suspeita de infracção de normas deontológicas.
ESMERALDA LAMENTA CASO
Esmeralda Completo é doente oncológica há oito anos e sente-se revoltada com o que viu acontecer à médica que a salvou: "Não há direito de fazer o que fizeram à drª Berta: por ela me salvar a vida, processaram-na." Ex-empregada fabril de Oliveira do Hospital, com três filhos, de 14, 16 e 20 anos, a paciente garante que a cardiologista "foi a única" que a "tentou salvar". "A drª fez tudo por mim. Foi Deus que a pôs no meu caminho", assegura. Esmeralda diz que "se tivesse possibilidades económicas processava as outras médicas", até porque considera que foi "negligenciada por ser pobre".
DETALHES
PERFIL
Berta Dias é casada e tem três filhos menores. Só aceitou falar depois de obter autorização do IPO. Espera "que se tenham tirado lições para que coisas destas não se voltem a repetir".
AGRADECIMENTO
Esmeralda Completo tem 41 anos e diz que a médica já lhe deu ‘dois anos de vida’. A doente começou a ser seguida no IPO de Coimbra em 2000, devido a um nódulo numa mama.
PROCESSO
A cardiologista processou as colegas por difamação. O caso foi arquivado. Tem de pagar dez mil euros de honorários ao advogado.
CátiaVvicente