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Como o homem transformou o cão

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Como o homem transformou o cão

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Existe uma multiplicidade de raças de cães, desde o Greyhound ao Pequinês, do Galgo Inglês ao Bulldog. Todas estas diferenças foram exacerbadas e geradas pela acção do homem. Por vezes a produção de raças levou a cães extremamente funcionais, mas noutros casos, é mesmo a saúde dos animais que foi posta em risco.

O cão tem como parente mais próximo o lobo. Mas com a domesticação da fera, não foi só o temperamento que se alterou, também os ossos, pêlo, entre outros sofreram alterações, algumas por questão de adaptação e sobrevivência outras por intervenção do homem.

Até onde vai a mãe-natureza?

O pêlo dos animais é um dos aspectos em que a lei do mais forte terá sido determinante. Os animais de climas mais frios necessitam de duas camadas de pêlo e de um pêlo exterior grosso que funcione como capa impermeável. Já nos climas mais quentes, as pelagens são finas e pouco densas.

O Fox Terrier de pêlo cerdoso tem o pêlo áspero, curto e duro de forma a impedir que a chuva ou o vento rigoroso da Inglaterra toquem na pele. Já o Bichon Maltês tem uma pelagem fina e macia que protege o cão do sol da ilha de Malta, mas que não provoca calor.

O cão reproduziu-se de forma relativamente livre até ao século XIX, quando as raças foram standardizadas e os clubes começaram a surgir. Até esta altura, os cães acasalavam ou por intervenção do homem, que se preocupava sobretudo em garantir um cão quando o seu animal morresse, ou por selecção natural. As raças estabeleceram-se assim de acordo com as diferenças regionais e as barreiras naturais. Numa determinada região encontramos um determinado tipo de cão e conforme nos afastamos, esse tipo vai-se transformando noutro. Os terriers são exemplo disso. São muitas as regiões do Reino Unido que desenvolveram um tipo próprio de Terrier: Skye Terrier, Cairn Terrier, Lakeland Terrier, Norfolk Terrier, etc.

Até onde vai o homem?

O homem interveio na evolução do cão seleccionando quais os animais que tinham o direito de se reproduzir. Isto veio alterar completamente a linha evolutiva do cão, introduzindo outros requisitos para além da sobrevivência do mais forte. A beleza foi, por exemplo, um deles.

Quando o homem decidiu trabalhar as raças, redigiu um estalão para cada uma e instituiu o pedigree para que se pudesse diferenciar os cães com as qualidades desejadas para uma determinada função, caça, guarda, exposição, etc.. Mas isso não significa que os cães mantiveram exactamente a mesma aparência desde o século XIX. A grande maioria das raças já só foi reconhecida no século XX e até ao estabelecimento do padrão, a raça foi sofrendo alterações. Noutros casos, existem linhas de trabalho ou exposição que se desenvolvem dentro da mesma raça. O Springer Spaniel Inglês é um exemplo deste tipo de divisões dentro da mesma raça: os exemplares de trabalho são mais ágeis e leves e têm o pêlo mais curto. Os cães são cruzados com exemplares da mesma área, o que tende a manter afastadas as linhas trabalho e exposição.

Existem mais de 350 raças de cães hoje em dia, cobrindo variedade de tipos, tamanhos e funções.

Variedade de tipos de corpo

Através da selecção dos animais mais pequenos para procriar é possível reduzir o intervalo de altura de uma raça. Isto foi feito com várias raças, por exemplo o Chihuahua. Por um lado temos o Irish Wolfhound que pode chegar aos 90 cm, por outro temos o Pequinês que pode ter apenas 20 cm.

Outras transformações no tamanho tornaram possível manter o comprimento “normal” da raça e apenas miniaturizar os membros. O Baixote é um resultado deste processo. Através da selecção dos exemplares de pernas mais curtas, os criadores conseguiram produzir uma raça com quase o dobro do comprimento em relação à altura.

Variedades de tipo de crânio

O crânio original dos cães seria próximo do dos lobos, mas a intervenção do Homem veio alterar radicalmente as variedades de crânios existentes.

Existem formas de medir o crânio dos cães, o Índice Cefálico é a relação entre o comprimento e a largura da cabeça dos animais. Alguns cães apresentam o focinho mais alongado do que os lobos. Os cães com o nariz longo têm um índice cefálico inferior a 50 e são apelidados de dolicocéfalos. O Saluki é um exemplo de uma raça com a cabeça longa e estreita, mais larga entre as orelhas e com o stop pouco pronunciado.

Com um índice cefálico entre 50 e 80 encontramos, por exemplo o Labrador Retriever. Os mesaticéfalos têm um nariz médio, mas mais curto do que o focinho dos lobos.

Com o crânio mais curto, encontramos os braquicéfalos. Com um índice cefálico superior a 80, o Boxer é um cão com o nariz achatado e o stop bem pronunciado.

Quase sem stop é o Bull Terrier que, visto de frente, apresenta a cabeça em forma de ovo. Com uma cabeça longa, vista de perfil deve curvar para dentro ligeiramente desde o crânio até ao nariz. O nariz deve pender ligeiramente para baixo na ponta.

Diferenças de capacidades

Visão

Existem cães que foram seleccionados pela sua visão, sobretudo a sua capacidade de detecção do movimento. Estes cães são os sighthounds, tais como o Borzoi ou o Whippet. O seu talento é encontrar as aves abatidas a uma distância considerável do caçador.

Olfacto

Outros cães destacam-se pelo sua capacidade olfactiva. A sua selecção teve como base o desempenho na caça, mas hoje em dia são muito utilizados na detecção de estupefacientes, minas e outros produtos. O Bloodhound e o Pastor Alemão estão entre os cães com o olfacto mais apurado. No outro lado, temos os cães com focinhos achatado que devido ao curto nariz, possuem um olfacto menos apurado, ao nível do dos gatos. O Pug é um exemplo.

Problemas

Na tentativa de exacerbar características consideradas belas nas raças, o homem pode ter ido longe de mais.

O Bulldogue Inglês, por exemplo, tem partos muito complicados que requerem frequentemente cesarianas. Sem a intervenção do homem a maioria dos partos resultaria na morte da mãe e da ninhada. Mas foi devido à intervenção do homem que esta raça foi desenvolvida até ganhar as formas actuais.

Os focinhos extremamente achatados, como os do Pequinês acarretam problemas respiratórios para o cão. Como as vias aéreas são curtas, o ar tem pouco espaço para passar.

Os cães gigantes, como os Dogues Alemães e os S. Bernardo têm frequentemente problemas ao nível das articulações, nomeadamente displasias, que os podem deixar sem andar.

Os cães demasiado pequenos também têm problemas ortopédicos e os cães com muitas rugas, como o Shar Pei, têm tendência a problemas de pele, tais como alergias.

Os cães maioritariamente brancos, como o Dálmata, têm uma maior probabilidade de se tornarem cegos.

Não se pode esperar que os animais não tenham algum problema de saúde, ou seriam imortais, mas foi muito devido às transformações que o Homem impôs às raças que os cães desenvolveram estes problemas.

Benefícios

Na evolução do cão, deve-se ao Homem a manutenção da variedade. Caso não fossem estabelecidos padrões, não se poderia salvaguardar as raças. As aparências dos cães seriam apenas mantidas pelas barreiras naturais e com a globalização e comércio de animais seria difícil garanti-las.

Sem a intervenção do Homem, não haveria assim Labradores, não haveria Pastores Alemães nem Yorkshire Terriers, uma vez que os cães poderiam acasalar com qualquer fêmea e produzir o desconhecido. O principal benefício das raças é fixar um determinado temperamento e aparência do cão que acaba de nascer, o que permite a alguém que quer ter um cão escolher aquele que mais adapta ao seu estilo de vida.

Muitas das raças criadas pelo Homem não sobreviriam sem a sua protecção, ou depressa se alterariam para algo mais adaptado às exigência do estado selvagem. Mas o cão já não um animal selvagem, por isso até que ponto se pode reclamar uma selecção “mais natural”? E quais são os limites de um criador, quando os estalões permitem exacerbar características que podem prejudicar a reprodução, e esperança de vida dos animais?

Em suma, o Homem tem um papel muito importante no desenvolvimento das raças caninas. A sua acção fixou problemas, mas trouxe também alguma previsibilidade, beleza e especialização dos cães em determinadas funções.


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