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Massacre guerra colonial inspira romance José Manuel Pedroso

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Massacre guerra colonial inspira romance José Manuel Pedroso

Um facto verídico - o massacre, por um furriel, de seis militares portugueses numa messe, no norte de Moçambique, em 1973 - serve de base a «Pantaleão é nome de capitão», a estreia na ficção de José Manuel Pedroso.

Não é este o primeiro contacto do autor com as Letras: nos anos 80 escreveu alguns textos para crianças. Nada de comparável, porém, pela intenção e pelo fôlego, ao romance agora publicado, com chancela da Chiado Editora.

À Lusa, Pedroso contou que o massacre era conhecido e motivo de conversas quando, em Novembro de 1972, jovem alferes de Cavalaria, 21 anos feitos, «chegou à guerra» em Moçambique. Mais precisamente, no distrito de Tete.

«Falava-se do massacre, mas pouco - recorda - Dizia-se que era mau para o moral das tropas falar disso».

O cenário da acção no livro é, não o real, mas uma localidade que o autor inventou - Maturara -, fundindo os nomes, esses sim reais, de duas outras localidades do distrito de tete: Mutarara e Marara.

O massacre acontece na messe de oficiais e sargentos do Esquadrão de Cavalaria ali estacionado. Pantaleão, o comandante, não diz tudo o que sabe, «abafa as razões» do sucedido.

De Lisboa, é despachado para Moçambique um jovem alferes dos Serviços de Justiça. Objectivo: investigar os factos, tirar a limpo o «quê», o «porquê» e o «como».

Para o conseguir e elaborar o competente relatório, o alferes vai ter de procurar as testemunhas, ouvi-las, recolher-lhes o depoimento. E rapidamente se dá conta de duas coisas: uma a uma, as testemunhas vão sendo eliminadas e ele mesmo corre perigo de vida. Mas fará o relatório.

Fora da ficção, no teatro de operações de Tete, José Manuel Pedroso teve um registo comum a muitos milhares de portugueses da sua geração: viu e sentiu na pele os desastres da guerra.

Hoje, mais de 30 anos depois, acredita haver distanciamento suficiente para escrever sobre a experiência. Ele conseguiu-o.

«Durante muito tempo - disse -, as pessoas não tiveram capacidade, nem força, nem vontade para falar nisso. Finalmente, começa-se a escrevver, agora já há distanciamento que permita abordar esse tema com um certa frieza, com racionalismo, já sem a emoção de quem acabou de voltar».

Vai contar a escrever. Tem já praticamente acabado um segundo romance, a que deu o título de «0 teclista franciscano» e onde o leitor reencontrará a personagem central de «Pantaleão é nome de capitão».

«Ele [o alferes dos Serviços de Justiça] - adianta em jeito de sinopse - regressa a Portugal e já se nota que a sua relação com a mulher está afectada. Recomeça tudo nove anos depois, vai tentar reconstruir a vida afectada afectada pela guerra. Percebe-se que tudo o que lhe acontece é originado pelo trauma da guerra».

Há em toda esta ficção, admite, um fundo autobiográfico. Porque a guerra, no seu caso como no de milhares, causou traumas, influiu mesmo nas relações conjugais.

Como em «Pantaleão é nome de capitão», andam nas páginas de «O teclista franciscano» pessoas com quem José Manuel Pedroso Pedroso se cruzou, que conheceu. Para efeitos de ficção, não fez mais do que «recriá-las».




Diário Digital / Lusa
 
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