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Documentário mostra morte de doente

brunocardoso

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Documentário mostra morte de doente


A morte em directo não é inédita na televisão. Por norma, ocorra velada, disfarçada, normalmente em cenários de conflito. Mas quando a morte é filmada, cara-a-cara, quando se capta o último suspiro de um homem que escolheu morrer a ficar à espera que a morte o colhesse, o Mundo pára para pensar. E discutir. Em Inglaterra, a polémica está instalada.

Esta quarta-feira, um canal de televisão britânico vai transmitir um documentário que acompanha os últimos dias de uma vida, os momentos finais de um ex-professor que escolheu ir à Suíça pedir ajuda para morrer. Realizado pelo canadiano John Zaritsky, capta o momento em que a viagem terminou para o americano Craig Ewert, em Setembro de 2006
“Tenho duas hipóteses: se avançar com isto, morro, como aconteceria inevitavelmente; se não avançar com isto, essencialmente vou sofrer, infligir sofrimento à minha família e depois morrer, possivelmente de uma forma pior, sem possibilidade de escolha”. Palavras de Craig Ewert, a 23 de Setembro de 2006, durante os preparativos para a última viagem, que ocorreria três dias depois.

O documentário mostra Ewert a trocar um último beijo com a mulher, Mary, companheira de 37 anos e mãe dos dois filhos do casal. “Amo-te muito, querida”, despediu-se. “Faz uma boa viagem, vemo-nos no futuro”, respondeu a esposa.

Pagou 3500 euros para morrer

No vídeo vêem-se responsáveis da Dignitas, a associação suíça que presta assistência à morte de doentes terminais, a ministrar uma mistura letal de sedativos a Ewert. Ao som de Mozart, o paciente sorve um sumo de ananás e bebe a mistura que o levará a sucumbir. Pagou 4500 dólares (cerca de 3500 euros) para pôr fim ao sofrimento.

“Obrigado”, diz Ewert pouco ante de morrer. A esposa, Mary, que defende a divulgação do documentário. “Ajudará muita gente a enfrentar os seus receios” e a vencer “os tabus” sobre a morte, acrescentou, em declarações à imprensa britânica.

Quem tem o direito a fazer o papel de Deus?

“Voyeurismo macabro”, da perspectiva dos grupos anti-eutanásia. “Trata-se de uma tentativa cínica de impulsionar a audiência televisiva”, acrescentou o director da associação “Assistência, não morte”, Peter Saunders.

“É triste e perigoso mostrar este tipo de documentários na televisão”, observou Domenica Roberts, da “Aliança Pró-Vida”. O canal televisivo, “Sky Real Lives” defende-se: “Trata-se de um filme eloquente e informativo, que aborda um assunto que afecta cada vez mais gente”, disse Barbara Gibson.

Mas pertence a Craig Ewert, que em vida escolheu morrer, a mais sentida e eloquente defesa da eutanásia. “Há gente que vai olhar para isto e dizer: o suicídio é errado, Deus proíbe-o. Mas, se tivesse vivido sem ajuda de tecnologia, já estaria morto agora. Quando os bebés prematuros nascem, sobrevivem porque os médicos fazem o papel de Deus. Os cristãos nunca dizem que é preciso acabar com o transplante de órgãos, que temos de deixar de ajudar os bebés prematuros. Para isso está bem fazer de Deus, mas quando se trata de acabar com o sofrimento de alguém, já dizem que não podemos fazer de Deus”.

Pais não vão ser julgados por morte de um filho de 23 anos

A emissão do documentário acontece numa altura de particular sensibilidade para o tema da eutanásia, no dia em que a Procuradoria-Geral de Inglaterra disse que não iria agir criminalmente contra os pais que ajudaram um jovem a morrer, na Suíça.

Daniel James, de 23 anos, morreu, em Setembro, numa clínica suíça, quase uma ano depois de ter ficado tetraplégico após uma lesão na coluna, durante um treino de râguebi. A promotoria não achou de interesse público julgar os pais por homicídio, apesar de ter detectado nas análises ao sangue do jovem uma quantidade elevada de barbitúricos, consistente com a possibilidade de uma morte assistida.

Primeiro-ministro britânico opõe-se à eutanásia

A título pessoal, o primeiro-ministro inglês, Gordon Brown, mostrou-se contra a eutanásia, mas não alinhou na tese do voyeurismo. “É muito importante que estes assuntos sejam acompanhados com sensibilidade se sensacionalismo e espero que os emissores do programa se lembrem de que têm um vasto leque de responsabilidades para com o público em geral”.

A lei no Reino Unido proíbe qualquer ajuda à morte, sendo a assistência prestada, ainda que a pedido expresso do enfermo, considerada homicídio. “Creio que é preciso assegurar que em caso algum neste país um doente ou uma pessoa idosa se sinta pressionada a concordar com morte assisitda ou que é isso que se espera dele”, disse Gordon Brown, em declarações à imprensa britânica. “É por isso que sempre me opus a legislação para morte assistida”, acrescentou.

Na Suíça a eutanásia não é criminalizada e muitas pessoas escolhem aquele país do centro da Europa como destino final, ou última paragem terrena. Segundo o Daily Telegraph, a “Dignitas” já ajudou mais de 100 britânicos a escolher a morte.

Fonte: JN
 
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