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10 coisas para esquecer de 2008

xicca

GF Ouro
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Abr 10, 2008
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É para esquecer...

A crise do "subprime" começou em 2007, nos Estados Unidos, mas a hecatombe da economia real só se sentiu este ano, em que a expressão "a pior crise desde 1929" entrou no léxico das conversas de café.

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O que começou como um colapso bolsista e do mercado imobiliário alastrou de forma vertiginosa. Com as bolsas internacionais a caírem como cascatas, desde o Verão do ano passado, os investidores mais dados à especulação viraram-se para o que ainda tinha potencial de valorização: as matérias-primas. Os primeiros meses de 2008 ficaram marcados por uma subida sem paralelo do preço dos cereais e do petróleo e, à medida que os combustíveis incorporaram as subidas do crude, as actividades económicas mais expostas aos aumentos foram postas em xeque.

Num Verão de emoções quentes, vários países europeus, entre os quais Alemanha, França ou Reino Unido, foram palcos de protestos das classes profissionais mais afectadas pela inflação da gasolina e do gasóleo. Em Portugal, foram os pescadores a dar o primeiro passo. Nos primeiros dias de Junho, a quase totalidade da frota pesqueira em Portugal ficou em terra, num protesto que reivindicava ajudas financeiras para enfrentar o aumento de custos. Uma linha de crédito bonificado de 40 milhões de euros, negociada com Bruxelas, resolveu o problema, mas, quase de seguida, os camionistas entraram em campo.

A paragem dos transportadores de mercadorias bloqueou o país. Bombas de abastecimento vêem-se a braços com falta de combustíveis, escasseiam produtos nas prateleiras nos supermercados e até o abastecimento do Aeroporto da Portela, em Lisboa, fica em risco. Os veículos pesados que boicotam o protesto são apedrejados pelos colegas de profissão que estão parados. Mais um pacote de ajudas financeiras, acordado entre o Governo e a principal associação do sector, acabou por desmobilizar os profissionais. Mesmo a tempo de verem o petróleo atingir o pico de 147 dólares por barril, em Julho.

Paralelamente, o mundo financeiro não vive dias melhores. Os títulos "tóxicos" do "subprime" permaneceram algures nos balanços dos bancos e a desconfiança generalizada sobre o grau de exposição das instituições aos produtos derivados do crédito de alto risco dos Estados Unidos começa a fazer mossa.

O acesso mais difícil a empréstimos, a par da desvalorização dos activos, põe a solvabilidade de várias instituições em causa. Fannie Mae e Freddie Mac, duas empresas de refinanciamento de crédito, são as primeiras a dar sinal de fraqueza e são salvas pelo Governo norte-americano. Mas o mesmo não acontece com o Lehman Brothers, um dos principais bancos de investimento dos Estados Unidos. As autoridades governamentais e monetárias do outro lado do Atlântico tomam uma decisão, em meados de Setembro, que hoje é vista como um erro crasso na gestão da crise: deixam aquele banco ir à falência.

Nas semanas seguintes, o dominó de instituições em falência alastra à Europa e Setembro e Outubro ficarão na memória como meses negros. Com o mercado bancário pelas ruas da amargura, com mais risco no crédito, as taxas de juro aumentaram até níveis sem paralelo nos últimos anos. A Euribor a seis meses, o indexante mais utilizado nos créditos para habitação em Portugal, atingiu o recorde de 5,448% em Outubro. Numa economia como a portuguesa, cujos salários reais estão há vários anos a encolher, chegar ao fim do mês com algum dinheiro na conta tornou-se um exercício digno de um gestor financeiro. O alívio só aconteceu com descidas concertadas das taxas de juro pelos bancos centrais e planos conjuntos de auxílio a bancos. Em Portugal, o Governo anunciou uma sistema de garantias aos bancos de 20 mil milhões de euros, o BPN foi nacionalizado e foram injectados 450 milhões de euros no BPP. Com a sangria do sistema financeiro estancada, começam a surgir os problemas na economia real, dependente da procura. O sector automóvel entrou em agonia e mais uma vez a chuva de milhões, na Europa e nos Estados Unidos, tenta conter a hemorragia. Mas o controlo de danos não afasta o cenário de recessão, que só com algum tipo de intervenção divina não acontecerá em Portugal.

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Independentemente do desfecho dos casos de alegadas fraudes no BCP e no BPN, já é certo que 2008 será de má memória para a elite financeira em Portugal. As instalações prisionais da Polícia Judiciária têm, desde final de Novembro, um inquilino ilustre: José Oliveira e Costa, antigo presidente da Sociedade Lusa de Negócios (SLN), detentora do BPN, está em prisão preventiva depois de ter sido constituído arguido por burla agravada, falsificação de documentos, fraude fiscal e branqueamento de capitais.

A detenção surgiu depois de serem descobertas operações fraudulentas no BPN, feitas através de "off-shores" e balcões virtuais e ocultadas às autoridades de supervisão durante anos a fio. As auditorias internas encomendadas pela actual administração do grupo SLN, encabeçada por Miguel Cadilhe, estimam em 950 milhões de euros o valor das perdas e imparidades não declaradas por antigos gestores do grupo. O facto de Oliveira e Costa ser um antigo secretário de Estado de Cavaco Silva e de vários antigos dirigentes social-democratas terem orbitado na esfera do grupo económico trouxe o caso para a esfera política.

No caso BCP, as diligências das autoridades não determinaram prisões, mas o processo envolve igualmente operações fraudulentas, "off-shores" e figuras públicas de peso. O Banco de Portugal (BdP) acusou, este mês, sete antigos gestores do banco pelos ilícitos cometidos no banco, e entre eles estão Jardim Gonçalves, Paulo Teixeira Pinto e Filipe Pinhal, que ocuparam o lugar de presidente do grupo bancário. Cristopher de Beck, Castro Henriques, António Rodrigues e Alípio Dias, antigos administradores, foram os restantes elementos notificados, a par de outros dois quadros do BCP, ainda em funções.

As fraudes na banca trouxeram para o debate público a eficácia das entidades de supervisão em Portugal, pondo Vítor Constâncio debaixo dos holofotes. Já houve uma comissão parlamentar de inquérito parlamentar à actuação da supervisão, motivada pelo BCP; em Janeiro, haverá outra para averiguar o caso BPN.

Seria bom acordar no dia 1 de Janeiro de 2009 e apagar da memória alguns dos acontecimentos de 2008. Seria bom esquecer que a Euribor a seis meses atingiu o recorde de 5,448%, fazendo disparar as prestações do crédito à habitação. Seria bom esquecer que o petróleo atingiu os 147 dólares por barril, provocando uma subida dolorosa do preço dos combustíveis. Seria bom olvidar que a nossa selecção tombou nos quartos-de-final do Europeu e que, mais recentemente, comprometeu o apuramento para o Mundial de 2010 e foi goleada pelo Brasil. Seria, igualmente, bom que a pequena Maddie tivesse sido encontrada ou que, pelo menos, alguém fosse responsabilizado pelo seu desaparecimento. E como seria bom se não tivesse existido uma "noite branca" e se nos despedissemos com saudade de George W. Bush. Ah, e já agora, seria mais do que bom se os professores e o Governo não tivessem passado o ano em permanente guerra e se os bancos que nos guardam as poupanças de uma vida fossem mais seguros que os tradicionais colchões.

E mesmo que não nos fosse possível esquecer tudo isto - e muito mais -, já seria bom se , pelo menos, ficassem arrumadinhos num cantinho da memória, apenas para nos lembrar que seriam irrepetíveis. Mas o petróleo há-de voltar a subir, a Euribor não descerá eternamente, os golos continuarão a entrar na baliza da nossa selecção e os professores voltarão para a rua.

Até lá resta-nos aproveitar a esperança do velho ditado "ano novo, vida nova" e acreditar que no final de 2009 teremos menos coisas para esquecer. Ou, talvez, mais coisas para lembrar.

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2008 termina como 2007: num crescendo de criminalidade violenta e sem soluções eficazes à vista. Ajustes de contas entre grupos criminosos que terminam em mortes, gangues de bairro que se vingam matando e mutilando, crises domésticas que acabam com vidas, assaltantes que espalham o medo e a morte, de Sul a Norte.

Claro que nada disto é novo, sempre existiu crime. Mas a intensidade, a frequência e a violência com que estes fenómenos passaram a acontecer parecem quase irreais, para quem, como nós, sempre viu estas situações extremas longe das nossas ruas e do nosso País. Como é que as coisas chegaram a este estado? De onde é que vem toda esta violência? O que é este sentimento intranquilo que nos leva a verificar duas vezes se portas e janelas estão bem fechadas e a pensar outras tantas antes de sair de casa?

O facto é que o Governo e o aparelho da Justiça não têm respostas concretas para estas perguntas. E quando não há respostas, há desorientação e atavismo. Quando não se compreendem os fenómenos é fácil agir de forma inconsequente, com medidas pontuais e sem eficácia, justificadas por estatísticas e tendências habilidosamente manipuladas.

Foi isso que fizeram o ministro da Administração Interna, Rui Pereira, e o Governo de uma maneira geral, que sempre desvalorizaram o que já era notório para a maioria dos portugueses. Viram os seus argumentos cair por terra com estrondo, em Agosto, quando o Gabinete Coordenador de Segurança anunciou um aumento de 15% nos número de crimes, sustentado principalmente pela criminalidade violenta.

A pressão da opinião pública, que exigia do Estado protecção, tornou-se insustentável e o Governo, através de Rui Pereira, reagiu com o anúncio de mais leis. Hoje, quatro meses volvidos, os diplomas ainda não foram aprovados. A passar no Parlamento, a proposta do ministro prevê que o simples uso de armas em acções criminosas se torne sinónimo de prisão preventiva. Às polícias foi exigido um comportamento de grande visibilidade pública.

O procurador-geral da República, Pinto Monteiro, respondeu à pressão anunciando publicamente a sua prioridade ao combate à criminalidade violenta e incentivou os procuradores, no terreno, a usarem mais a prisão preventiva.

Estas medidas pontuais, desprovidas de um sentido estratégico, tiveram apenas o efeito de acalmar a sociedade, momentaneamente. Quatro meses depois, o tempo esfumou essa sensação aparente de que algo tinha mudado e já pouco ou nada resta do espalhafato das operações policiais diárias nas televisões e jornais.

Os assaltos violentos e as mortes parecem estar a regressar, com contornos ainda mais violentos - veja-se o assassinato recente de um jovem casapiano por um elemento de uma multidão de jovens que invadiu a instituição ou o sequestro e roubo de 70 pessoas num restaurante por assaltantes. A única coisa que parece ter mudado é a atitude da sociedade, silenciosa e conformada. E o País, que já foi "de brandos costumes".

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Precipitação, pressões políticas, manipulação, subserviência a Inglaterra e excesso de mediatismo ditaram o fracasso da investigação que mais tinta fez correr. O rasto de Madeleine Beth McCann perdeu-se aos três anos no dia 3 de Maio de 2007, na praia da Luz, em Lagos.

Arquivado por falta de provas, o processo deixa marcas profundas na história da Polícia Judiciária (PJ), que se revelou frágil e permeável. Pôs a nu a falta de independência da instituição e a sua dificuldades em lidar com um ambiente adverso de que não faltam exemplos - a ausência de colaboração da polícia britânica e diligências que a PJ não concretizou por recusa do Ministério Público e do juiz de Instrução de Portimão.

Pela primeira vez, a Judiciária foi escrutinada e atacada em várias frentes, dentro e fora da instituição. Com o embaixador britânico a viajar de Lisboa para a praia de Luz, para apoiar publicamente o casal McCann, em nome do Governo do seu país, começava a desenhar-se o caminho que levou a um beco sem saída. Nos dias seguintes ao desaparecimento, a PJ viu-se obrigada a anunciar que Madeleine tinha sido raptada, que já havia um suspeito e um retrato-robot. Falso. Pouco tempo depois, a vontade da imprensa inglesa foi satisfeita, com a nomeação forçada de um porta-voz, um inspector que nada tinha a ver com o processo.

Os pais da criança em nada ajudaram. Em múltiplas reuniões, insistiam na tese de rapto e prestaram declarações contraditórias, à semelhança dos amigos com quem passavam férias. Enviar os vestígios biológicos para o laboratório de Birmingham revelou-se o grande tiro no pé. Os resultados tardaram e foram inconclusivos. Nada mudou, nem quando o coordenador, Gonçalo Amaral, foi afastado, em Outubro de 2007, numa altura em que a tese de homicídio acidental ganhava força. Não aguentando a "falta de apoio", pediu a reforma antecipada e escreveu um livro, "A Verdade da Mentira" para dar a conhecer a sua teoria. Já este ano, na era Paulo Rebelo (nomeado pela PJ para chefiar o departamento de Portimão e dirigir a investigação), o processo acabou mesmo por ser arquivado. Concretizava-se, assim, a "profecia" do procurador-geral da República, Pinto Monteiro, que em Maio anunciou "temer" o insucesso da investigação. Três meses o então Director Nacional da PJ, Alípio Ribeiro, já tinha admitido ter havido "precipitação" em constituir arguidos Kate e Gerry.

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O ano fica de tal modo marcado pela contestação dos professores que, possivelmente, quando o XVI Governo for estudado, será um dos marcos recordados. Unida como nunca, a classe bateu recordes, em Portugal: maiores manifestações e greve. Lurdes Rodrigues mantém-se no cargo, mas o Executivo teve de afinar discurso e estratégia. O modelo de avaliação, publicado em Janeiro e que já deveria estar a ser aplicado desde o ano lectivo anterior, ainda não o foi nem será. Em Abril, ME e Plataforma Sindical aprovaram o Memorando de Entendimento - um modelo simplificado para docentes contratados e em vias de progressão. Oito meses depois da Marcha da Indignação, em Novembro, 120 mil pessoas voltam a manifestar-se em Lisboa. A primeira reacção da ministra é desvalorizar a dimensão do protesto, mas o ME inicia uma ronda de audições nunca feita: são ouvidos todos os conselhos executivos assim como o Conselho de Escolas, Conselho Nacional de Educação, Confap, sindicatos e até professores militantes socialistas. Todos os grupos parlamentares pedem a suspensão do processo, e, não fosse a falta de 30 deputados do PSD, a recomendação tinha sido aprovada.

A 20 de Novembro, é anunciada nova simplificação, mas a 3 de Dezembro os professores respondem com a maior greve de sempre: 90% para os sindicatos e 60% para a tutela. No dia seguinte, no Parlamento, a ministra admite, pela primeira vez, substituir o modelo a partir do próximo ano lectivo. Os professores à beira da reforma até 2011 são dispensados da avaliação. Para o Governo, o processo está fechado e o sector apaziguado; para os professsores, o ano começa com outra greve, a 19 de Janeiro.


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Pode o PSD estar transformado num partido autofágico e devorar Manuela Ferreira Leite antes das eleições legislativas? Se a resposta a esta pergunta for sim, "ele pode", a líder social-democrata será a terceira a perder o lugar antes do escrutínio do eleitorado. Marques Mendes caiu por pressão de Luís Filipe Menezes, Luís Filipe Menezes caiu por pressão de Manuela Ferreira Leite e nas últimas semanas Marques Mendes e Luís Filipe Menezes engrossaram o coro dos que pedem a cabeça de Manuela Ferreira Leite.

Este bizarro ciclo vicioso tem uma explicação simples: o PSD não sabe viver fora do poder e os crescentes períodos de oposição agravaram essa predisposição genética ao ponto de os líderes já nem sequer irem a votos. É preciso recuar até 1999 para encontrar um líder derrotado fora das urnas: Marcelo Rebelo de Sousa caiu devido às conspirações de Paulo Portas que corroeram a Alternativa Democrática mal amanhada para suceder à Aliança Democrática de Francisco Sá Carneiro.

Manuela Ferreira Leite assumiu a presidência do PSD para devolver a credibilidade perdida e resgatar o partido das garras do populismo e da demagogia. A verdade é que as elites que a levaram ao céu estão afastadas da gestão quotodiana do exercício do poder e muitos desses notáveis perderam a luz que antes revelavam a dar a cara pela líder. O diabolizado Santana Lopes volta como candidato à maior autarquia do país e Pedro Passos Coelho está entronizado como o "príncipe mediático" que se prepara para tomar o poder. Aconteça o que acontecer daqui em diante, o que se passou neste ano de mandato dificilmente deixará de ser pago no próximo ano.

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É, talvez, a mais significativa nuvem negra no panorama político internacional: George W. Bush. Uma nuvem a apagar da memória já a partir do próximo dia 20 de Janeiro, quando Barack Obama o substituir na Casa Branca, mas que esteve presente ao longo de todo o 2008.

O recente episódio do "sapato", na última visita do presidente dos Estados Unidos da América a Bagdade, é, por isso, um paradigma de como parte muito substancial do Mundo (não exclusivamente árabe) vê a passagem de George W. Bush pela História Contemporânea.

Depois da guerra no Afeganistão - numa resposta directa aos ataques de 11 de Setembro, e com a anuência compreensiva de boa parte do mundo ocidental; depois das decisões políticas - quase sempre inexplicadas e muitas vezes sustentada em falsos relatórios ou, muito simplesmente, na mentira -, que culminaram no ataque e invasão do Iraque; depois dos negócios pejados de corrupção e de impunidade ali feitos em nome da reconstrução nacional; depois dos voos secretos da CIA e do centro de detenção de Guantánamo - onde tiveram assento todas as possíveis e impossíveis práticas de tortura, num arrepio impressionante aos mais elementares princípios da justiça e dos direitos humanos; até a política económica e financeira seguida por George W. Bush sai arrasada por uma crise à escala planetária de consequências, ainda agora, imprevisíveis. É, por isso, um presidente desastrado e de má memória o que faz por estes dias as malas para regressar a casa. De má memória para demasiada gente. A começar pelos norte-americanos, que castigaram nas urnas os republicanos sempre que foram chamados a votar.

A História julgará o republicano do Texas. Mas não deixará de o associar a um dos períodos mais conturbados do Mundo dos tempos modernos.

Pior não é possível, dirão alguns. Daí que a esperança depositada em Barack Obama seja, hoje, um capital único na política internacional. Até porque o democrata eleito presidente logrou congregar uma expectativa que só tem paralelo em Roosevelt.


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As relações entre a Rússia e a Geórgia são complexas e difíceis desde o colapso da União Soviética, em 1991. De forma muito genérica, os georgianos acusam a Rússia de imperialismo, e a Rússia critica a Geórgia de nacionalismo extremo e de uma política externa anti-russa.

No conflito de 2008, o Ocidente - e, sobretudo, os Estados Unidos - contribuíram para a guerra. A OTAN pressionou a adesão da Geórgia e da Ucrânia, alguns países europeus bloquearam a decisão mas a Aliança comprometeu-se a oferecer o estatuto de país-membro numa fase posterior. Naturalmente, a Rússia entendeu tudo isto como uma "ameaça". A intervenção da força aérea, o bloqueio naval e a invasão demolidora dos meios terrestres mostraram a fraqueza georgiana (que não teve o prometido apoio ocidental), mas também o despertar do gigante russo. Vladimir Putin (agora como primeiro-ministro) e Dmitri Medvedev (presidente) formam uma dupla de muito respeito, com um vastíssimo poder nas mãos. Pelo caminho, Abkházia e Ossétia do Sul mostraram que os seus motivos independentistas são bem mais justificados que as razões que levaram o Kosovo a constituir-se como um país artificial patrocinado pela OTAN.

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No único Estado-membro da União Europeia onde foi obrigatório referendar o Tratado de Lisboa - que visa, segundo a Comissão Europeia, desbloquear a paralisia institucional em que a União se encontra - os eleitores disseram maioritariamente "não". Mas o "não" que veio de Dublin, afinal, não contou. É para esquecer, é como se nunca tivesse acontecido. No último Conselho Europeu, em Bruxelas, os Vinte e Sete criaram condições para os irlandeses repetirem a votação em 2009. Ironicamente, a proposta foi feita por Nicolas Sarkozy, o presidente da mesma França que, em 2005, rejeitou, em referendo, um Tratado Constitucional de efeito semelhante ao do Tratado de Lisboa.

É uma decisão politicamente polémica - a que, na prática, "invalida" um referendo popular e abre portas a nova consulta - e com consequências que suscitam reflexão. Sobretudo se a "moda" pegar... Até porque a possibilidade de os irlandeses repetirem o "não" existe.


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Da esperança à desilusão total. A selecção nacional de futebol pode ser considerada como o fiasco de 2008, um ano péssimo da equipa de todos nós, não só porque ficou pelo caminho nos quartos de final do Europeu, como também porque, após a troca de seleccionador - Carlos Queiroz sucedeu a Luiz Felipe Scolari -, tem o apuramento para o Mundial de 2010 seriamente ameaçado.

À partida para o Europeu da Áustria e da Suíça, Portugal alimentava o sonho de chegar ao título. As boas campanhas no Euro 2004 (finalista vencido) e no Mundial 2006 (quarto lugar) davam à selecção de Scolari argumentos de peso para se impor. Além disso, depois da brilhante época de Cristiano Ronaldo ao serviço do Manchester United (campeão inglês, vencedor da Liga dos Campeões e Bota de Ouro), era de esperar que o génio madeirense também conduzisse Portugal no caminho da glória.

A fantástica recepção dos emigrantes na Suíça ajudou a elevar os níveis de confiança e a selecção começou bem a competição, com duas vitórias convincentes - sobre a Turquia (2-0) e a República Checa (3-1) -, que permitiram o apuramento para os quartos de final, como primeira classificada do respectivo grupo. O terceiro jogo, frente à Suíça, tornou-se assim numa mera formalidade e Scolari poupou vários titulares, só que a derrota sofrida (0-2) veio a pesar muito no desfecho do Euro.

Logo após o triunfo com a República Checa foi oficializado algo que muitos já suspeitavam. Luiz Felipe Scolari não renovava contrato e trocava os euros de Portugal pelas libras de Inglaterra, no Chelsea. Estava consumado um divórcio que veio a contribuir para a posterior má campanha no Euro 2008. Pelo menos, essa é a teoria de Gilberto Madail, presidente da Federação Portuguesa de Futebol…

Portugal despediu-se do Euro com uma derrota inglória frente à Alemanha (2-3), num jogo que revelou muitos pontos fracos na selecção, entre os quais o sub-rendimento de Cristiano Ronaldo, na altura a contas com uma lesão.

O fim da era Scolari acabou por ser mais doloroso do que o esperado. A escolha de uma novo seleccionador foi demorada e Carlos Queiroz recebeu uma pesada herança, com a qual parece não estar a conseguir lidar.

O ano de 2008 continuou a ser maldito para a selecção nacional, que tem o apuramento para o Mundial de 2010 muito dificultado. A derrota em casa com a Dinamarca (2-3) e o empate a zero cedido à Albânia complicaram as contas a Carlos Queiroz, que nem nos jogos amigáveis consegue recuperar o prestígio perdido. A humilhação (6-2) no Brasil foi um bom exemplo disso.

O miserável ano da selecção nacional de futebol não foi a única nódoa do desporto português em 2008. Nos Jogos Olímpicos de Pequim, Portugal conquistou uma medalha de ouro, através de Nélson Évora no triplo salto, e uma medalha de prata, obtida por Vanessa Fernandes no triatlo, mas antes desses feitos, alguns atletas e os responsáveis do Comité Olímpico deram uma má imagem do país.

A judoca Telma Monteiro, por exemplo, falhou a subida ao pódio e, à moda do futebol, culpou a arbitragem.

Entre vários maus resultados, o presidente do Comité Olímpico, Vicente de Moura, disse que não queria continuar no cargo. Vieram as medalhas e mudou por completo de opinião e até se recandidata, contra a vontade dos atletas.




JN
 
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