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O homem que há um ano matou com 21 facadas o amigo Maurício Levy, director de um departamento dos CTT, confessou-se culpado na primeira sessão de julgamento, ontem, na Boa-Hora, Lisboa. Jorge Enes, militar da Marinha de Guerra Portuguesa e ajudante de enfermagem, contou ao juiz Rui Coelho que correu atrás de Levy, homem com quem mantinha uma "amizade profunda", depois de ter escutado uma conversa entre aquele e a sua mulher, M.B., de quem estava separado há meses. "Dessa conversa, julguei que havia uma relação entre eles e resolvi ir falar com ele" à porta de casa.
Encontrou-o na garagem do prédio onde Levy morava, em Telheiras. "Ele viu-me e abriu a janela do carro. E eu cumprimentei-o. Perguntei-lhe: ‘O que é que eu te fiz?’", recordou, adiantando ter metido a cabeça, pela janela, dentro do carro do director dos CTT.
Segundo Jorge, nesse instante, o amigo golpeou-o com uma faca na testa e ele recuou. E foi quando viu um vulto [Levy, já fora do carro] a dirigir-se a ele. "Investi contra o vulto." Jorge, baixo e magro, disse ter conseguido tirar a faca "preta, tipo punhal" a Maurício, descrito como corpulento, e apunhalou-o 21 vezes. "Ele estava deitado de costas no banco do condutor e eu em cima dele", sublinhou, acrescentando que só parou de esfaquear o amigo quando deixou "de sentir resistência". Acusado de homicídio, responde ainda por ocultação de cadáver, pois foi até à praia da Adraga, em Sintra, e atirou o carro de Levy com o corpo lá dentro de uma ribanceira com cem metros.
MAIS DADOS
INCONFORMADO
Jorge Enes estava separado há dois meses da mulher, M.B., mas tinha esperança na reconciliação. Até que descobriu a traição do amigo Maurício.
FILHOS AMIGOS
O arguido alegou que a intenção de procurar Maurício Levy era falar-lhe dos filhos de ambos, que eram muito amigos e frequentavam juntos as aulas de Religião e Moral.
PEDIU DESCULPA
Jorge pediu desculpa à família de Levy, na sala de audiência, onde estava a filha da vítima. O arguido está em prisão domiciliária em Viana do Castelo.
Sofia Rêgo