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Poço da Panela

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Fev 29, 2008
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Encravado entre o bairro de Casa Forte - um dos mais nobres da cidade - e o rio Capibaribe fica um dos pontos de maior concentração de fantasmas e assombrações do Recife. No arraial do Poço da Panela reina um clima nostálgico, quase como se o tempo ainda fosse os das sinhazinhas, escravos e senhores de engenho que mandavam em Pernambuco no século XIX. Lá predominam os casarões, as ruas calçadas com pedras irregulares, as árvores velhas e frondosas que peneiram a luz produzindo tenebrosas sombras mesmo com sol a pino. Enfim, um cenário mais do que propício para surgimento de fenômenos sobrenaturais.

O nome do arruado tem origem curiosa. Segundo conta o historiador Sebastião Vasconcelos Galvão no seu “Diccionário Histórico de Pernambuco” – publicado em 1910 – no século XVIII os moradores do lugar tinham dificuldade em conseguir água potável, que tinham que ser trazida das localidades vizinhas: um grande transtorno para quem vivia no tempo das carroças. Mas, para alívio de todos, uma nascente foi encontrada perto do vilarejo. Os homens se apressaram em escavar para melhor aproveitar água potável e uma panela de barro com fundo aberto foi posta no local para garantir a sustentação das bordas.

A água, por sinal, tem outra ligação com a história daquela comunidade. Ainda conforme Vasconcelos Galvão, em 1746 surgiu no Recife uma misteriosa epidemia de febre que, no entendimento dos médicos de então, deveria ser combatida com banhos no Capibaribe. O Poço da Panela tornou-se área preferida pelos pacientes vitimados pela doença. As águas do rio naquelas margens ganharam fama de milagrosas.

As décadas se passaram, o rio ficou poluído pelos esgotos, mas as águas do Capibaribe funcionaram com um bálsamo protegendo o Poço da Panela contra o urbanismo modernizante do século XX. O agrupamento de casas em torno da Igreja de Nossa Senhora da Saúde permaneceu com jeito de cidadezinha do interior. Muitos dos casarões do bairro mantiveram a sua imponência,como lembranças sólidas de um tempo de fartura. Sobre muitos deles, são contadas histórias bizarras. De luzes fantasmagóricas vistas à noite pelas janelas, de barulhos estrondosos em quartos onde ninguém está presente, de botijas escondidas nas paredes e apontadas em sonho por almas penadas.

Os vizinhos de uma das propriedades da área, por exemplo, costumavam ouvir murmúrios e gemidos assustadores. O lugar, que não tinha morador, ganhou fama de assombrado. Dizia-se que as manifestações eram provocada pelo fantasma de um zelador surdo-mudo vítima de um crime misterioso. O fato é que ninguém queria se aproximar do Sítio do Môco.

Nas janelas das casas são vistas luzes misteriosas. Há quem diga que, na década de 80, a moradora de um desses casarões quase se dá mal ao encontrar o esconderijo de um suposto tesouro indicado por espírito atormentado.Vestido de branco, ele teria se comunicada com a mulher durante o sono, dizendo que ela poderia ficar com o dinheiro maldito que o prendia ao mundo dos vivos, mas recomendado que nada fosse dito a qualquer outra pessoa sobre o assunto.

Desobediente, a boquirrota pediu o auxílio do marido para desenterrar a dinheirama, que deveria estar a poucos metros de profundidade perto de uma árvore grande do quintal. Quando o pobre coitado começou a escavar, foi atacado por um animal invisível, talvez um cachorro fantasma que seria o guardião do tesouro. Foram muitos arranhões tratados com litros de mercúrio cromo. E ouro, que é bom, nada. Triste de quem desrespeita as recomendações dos não-viventes

Os moradores mais antigos do Poço da Panela relatam muitas outras aparições fantásticas. Num dos sobrados abandonados da vizinhança, por exemplo, à noite é visto pela janela um misterioso homem de vestido de preto que parece rezar diante de uma vela. Ninguém até hoje se atreveu a entrar no casarão nesse momento para perguntar o motivo de tantas preces. Estaria o fantasma pagando uma dura penitência por um pecado capital cometido em vida? Quem teria coragem de perguntar? Todavia, Alguns dos malassombros do Poço da Panela, no entanto, não são apenas visagens difusas das quais é possível fugir com facilidade.

No século XIX, morava no local o advogado e político José Mariano, fundador do jornal "A Província", que se tornou um importante personagem da história de Pernambuco por causa da sua luta pela pelo fim da escravidão. No século XX, aboliciolista ele foi homenageado pela prefeitura com um monumento perto da igreja do bairro. O busto do ilustre pernambucano foi posto sobre uma coluna de pedra e, em frente dessa, foi posta uma estátua completa de um negro de peito nu, tendo nos pulsos correntes quebradas: símbolo da vitória diante da opressão.

Alguns moradores do Poço da Panela, no entanto, testemunham que em certa noites, quando todas as casas estão com a suas portas e janelas fechadas, a estátua de bronze ganha vida e caminha pelas ruas com passos arrastados. Os que já presenciaram esse passeio absurdo se arrependem de ter deixado a segurança de seus lares nas horas dominadas pelo silêncio e pela escuridão. Afinal, o Poço da Panela é território livre para o sobrenatural.
 
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