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Ensaios clínicos
Gel microbicida revelou uma protecção de 30 por cento contra infecção por VIH
Depois de vários falhanços que pareciam condenar à morte a investigação nesta área, os resultados preliminares de um ensaio clínico que está a testar um gel microbicida e a sua eficácia na protecção contra HIV parecem ser capazes de dar um novo fôlego a estas pesquisas. Apesar de não serem considerados estatisticamente relevantes, para já, foram suficientes para garantir um financiamento de mais de 100 milhões de euros da Fundação Bil Gates e do Governo Britânico.
A procura de um gel vaginal que impeça a entrada do vírus na corrente sanguínea ainda não parou, apesar dos sucessivos fracassos registados. Até agora os microbicidas testados tinham demonstrado uma desanimadora ineficácia e, em alguns casos, chegaram mesmo a revelar o efeito contrário aumentando a vulnerabilidade à infecção por VIH.
No entanto, um projecto iniciado em 2005 parece ter produzido resultados animadores. O gel testado chama-se Pro2000 e terá conseguido reduzir o risco de infecção para as mulheres em 30 por cento, um número que ainda não é considerado estatisticamente relevante mas que garante algum optimismo. É a primeira vez que um ensaio clínica de um gel microbicida para aplicação tópica produz resultados positivos.
“Pode ser pouco, mas se amanhã começássemos a usar um produto destes que prevenisse 30 por cento das infecções e mesmo quer só fosse usado por 30 por cento das pessoas, se fizermos as contas, estamos a falar de uma redução de centenas de milhar de infecções por ano”, nota Pedro Mesquita, um investigador português que trabalha no Departamento de Pediatria e Microbiologia e Imunologia do Albert Einstein College of Medicine, em Nova Iorque, e que participou neste projecto nos testes pré-clínicos.
O projecto multi-nacional (foi levado a cabo em sete centros clínicos, no Malaui, Zimbabué, África do Sul e EUA) contou com um grupo de controlo que estava a aplicar um placebo e ainda um grupo que não aplicou qualquer produto. O estudo que concluiu agora a fase II/IIb de ensaio clínico envolveu um total de 3100 mulheres que não estavam infectadas e registou 194 novas infecções. Nos novos casos diagnosticados, 36 mulheres encontravam-se no grupo que usava o Pro2000. Os resultados deste ensaio foram divulgados este mês mas o Pro 2000 está também a ser testado num outro ensaio clínico que decorre em Inglaterra, no Imperial College of London e que é patrocinado pelo Medical Research Council do Reino Unido. O ensaio britânico está já na fase III e deverá apresentar resultados publicamente em Agosto.
O cientista que desenvolveu um modelo in vitro para avaliar efeitos tóxicos de potenciais microbicidas para a mucosa epitelial, nota que actualmente há vários trabalhos em curso que visam estudar a eficácia destes microbicidas associados a outros fármacos, nomeadamente algumas das drogas que são usados nas terapias anti-retrovirais.
Pedro Mesquita refere que tem sido muito difícil tentar encontrar o índice terapêutico certo, ou seja, conseguir o máximo da eficácia com o mínimo de toxicidade. Constatando que a pesquisa de um possível vacina para o vírus de VIH já conta com 20 anos de trabalhos sem alcançar o sucesso, o investigador português valoriza esta alternativa que finalmente revela resultados promissores. “O segredo no futuro poderá ser combinar várias drogas num mesmo gel ou, idealmente, num sistema idêntico ao usado nos anéis vaginais contraceptivos para libertar as drogas durante um mês e que permita combinar um produto que iniba a entrada do vírus, um que iniba a actividade de determinadas enzimas do VIH, entre outros produtos”, refere. :espi28::espi28::espi28:
25.02.2009 - 18h14 Andrea Cunha Freitas
Jornal O Público
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