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Poder a metro - De Napoleão a Medvedev

joseseg

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Mai 26, 2007
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Da esquerda para a direita: Nicolas Sarkozy, Presidente da França, 1,65m; Maria de Belém, deputada do PS, 1,48m;
Silvio Berlusconi, Primeiro-ministro italiano, 1,65m; Marques Mendes, ex-líder do PSD, 1,61m;
Dmitri Medvedev, Presidente da Rússia, 1,57m e António Vitorino, ex-ministro da Defesa, 1,62m​

Passados quase duzentos anos da sua morte, Napoleão continua a ser fonte de apaixonada controvérsia, mas que nada tem a ver com o modo como exerceu o poder e desenvolveu estratégias militares, dominando a Europa com mão de ferro e coroando-se a si próprio como imperador.

Trata-se antes de um pequeno motivo, mas que consegue dividir biógrafos e historiadores, alimentar um caudal de artigos e teorias, umas mais conspirativas do que outras, mas todas à volta de uns, aparentemente, muito importantes 13 centímetros: media Napoleão 1,57 ou 1,70 metros? E esta disparidade resulta apenas da diferença entre as polegadas francesa e inglesa? Ou é obra da propaganda britânica que apostava no desgaste da imagem do líder francês e da contra-propaganda que visava engrandecê-lo?

Talvez nunca o venhamos a saber. Surpreendente? Nem por isso, quando, na actualidade, a altura de Kim Jong-il, o líder norte-coreano, é tratada como um segredo de Estado, Putin usa todos os artifícios para iludir a sua baixa estatura, Berlusconi declara publicamente ser mais alto do que Sarkozy e este passou a usar tacão e a mulher, Carla Bruni, sapatos rasos. Afinal, há casos em que o tamanho conta, ainda que por cá continue a prevalecer a sabedoria popular: "Os homens não se medem aos palmos" e "A mulher e a sardinha querem-se pequeninas" são invocados, sorriso à mistura, por Marques Mendes e Maria de Belém Roseira.

Com o seu 1,57 metros (menos dez centímetros do que o seu antecessor, Vladimir Putin), o homem que preside à Rússia desde Maio de 2008, Dmitry Medvedev é o mais recente elemento e provavelmente o mais baixo de uma apreciável galeria de líderes mundiais de estatura pequena - a dúvida deve-se a Kim Jong-il: a sua altura nunca foi revelada, estimando-se na imprensa internacional que se situe entre 1,55 e 1,65 metros, aumentando cerca de dez centímetros com os sapatos de plataforma.

Já Nicolas Sarkozy optou, após o casamento com Carla Bruni - que com o seu 1,70 metros mede mais cinco centímetros do que o marido - por sapatos com tacão (alegadamente) de sete centímetros e que se vendem, segundo preços anunciados na Internet, entre os dois mil e os 30 mil euros.

Mais centímetro menos centímetro é a ressalva que importa fazer, tendo em atenção diferentes fontes de informação e o que diz o próprio, caso em que Sílvio Berlusconi é exemplar: o primeiro-ministro italiano clama que mede 1,70 metros, mas a maior parte das referências à sua altura diminuem-na em cinco centímetros.

Portugal tem também os seus "baixinhos", "baixotes", "rodinhas baixas". Aqueles que, segundo os últimos dados antropométricos citados na imprensa, ficam aquém dos actuais 1,75 metros de média de altura da população masculina portuguesa - ainda na cauda da Europa, até os nossos futebolistas são os mais baixos, como ficou demonstrado num estudo recente de 30 ligas europeias de futebol.

Falar sobre um tema que pode ser sensível e encerrar, quiçá, algum melindre, apresenta-se como um desafio. Lançámo-lo a dois homens da primeira linha da vida política e que com mais ou menos humor (vidé o programa "Contra-Informação") têm sido visados quanto ao modo como esta poderia condicionar as suas carreiras políticas: Luís Marques Mendes aceitou, António Vitorino preferiu não ir a jogo. A visão feminina de um assunto que parece afectar de forma especial os homens foi dada por Maria de Belém Roseira.

"Ministro da Defesa não tem que ser Schwarzenegger" era o apelativo título de uma entrevista publicada há 13 anos pelo Expresso com António Vitorino, que assim respondia à quase provocação de que a sua estatura não ligaria bem com o cargo, nomeadamente com o momento de passar revista às tropas. No texto não perpassa o humor com que, dizem, habitualmente lida com o assunto e do qual até a revista "Economist" fez eco quando o português era comissário europeu, mas fica confirmada a posição de Vitorino sobre o tema da estatura quando agora recusou abordá-lo: "Se me fizerem perguntas sobre política ou defesa e o assunto vier à baila, respondo e brinco. Mas não faço disto um assunto". Não deixa, porém, de sugerir o nome de Marques Mendes: "Tem a proeza de ter menos um centímetro do que eu."


Kim Jong-il, Presidente da Coreia do Norte, 1,55m e Vladimir Putin, Primeiro-ministro da Rússia, 1,67m

A conversa com Luís Marques Mendes já estava agendada. O antigo líder do PSD manifestou uma única dúvida quanto a fazer declarações para este texto: "Se a minha estatura nunca me incomodou nem prejudicou, o que dizer sobre o tema?" Que nunca ganhou ou perdeu eleições por ter 1,61 metros de altura, que no PSD exerceu todos os cargos possíveis e poucos lhe faltam na política não partidária - e tendo apenas 51 anos... - , que leva 13 anos de governo em democracia, recorde que apenas partilha com Durão Barroso. "Sou uma das provas eloquentes de que uma baixa estatura não prejudica minimamente uma carreira profissional ou política."

Admite, porém, que "a luta política é tão dura e exigente que às vezes se tenta diminuir o estatuto político usando a questão da estatura de forma pejorativa, mas mais em programas de entretenimento ou no comentário político, não por parte de adversários políticos". Garante que lhe foi indiferente ter sido divulgado que subia para um caixote para ficar mais alto atrás do palanque e é como expressão de ternura que vê outro tipo de situações - caso de Alberto João Jardim se ter um dia dirigido ao seu pai como "o pai da criança". "Brinco com o assunto. Digo até que não sou baixinho, sou ajeitadinho, arrumadinho..."

É também num registo de humor que Maria de Belém Roseira se auto-retrata: "Costumo dizer que sou um produto das novas tecnologias, porque tenho a mesma (ou mais) capacidade do que os outros em menor espaço. E também estou mais adaptada à necessidade de protecção do ambiente e aos tempos de crise porque consumo menos ar e menos comida, e a minha roupa é mais pequena." A verdade é que o 1,48 metros registado no Bilhete de Identidade da deputada socialista - ao qual acrescenta uns dois centímetros argumentando que tal medição data dos 10 anos e ainda não havia crescido tudo - lhe dá um ar de miúda, muitíssimo distante dos seus 59 anos. Os saltos altos (que, revela, poderão ser de oito, nove centímetros, talvez mais nos sapatos compensados) fazem parte da sua imagem de marca e tornaram-se num hábito por volta dos 15 anos porque a mãe a achava baixinha. "Gostaria de ter sido mais alta, mas assumi com naturalidade o que sou. Nunca tive complexos.

Em causa estão padrões. Quem se afasta da média - para baixo ou para cima - pode acabar por ser objecto de atenção ou, temendo sê-lo, desenvolver um complexo. Regressamos ao imperador francês: complexo de Napoleão ou síndrome de Napoleão são designações para o Síndrome do Homem Baixo ou do Pequeno. Um complexo de inferioridade que seria o responsável pela maior agressividade comummente atribuída aos mais baixos, que assim tentariam dominar os mais altos e sobreviver num mundo hostil.

Uma teoria que, afinal, poderá não passar de um mito, a avaliar por um estudo realizado há dois anos pelo psicólogo Mike Elsea, da Universidade de Central Lancashire. "Quando as pessoas vêem um homem pequeno a ser agressivo tendem a pensar que isso se deve ao seu tamanho apenas porque esse atributo é óbvio e lhes capta a atenção." Ao contrário, neste teste à agressividade foram os homens mais altos a reagir pior.

A História também fornece exemplos: o antigo ditador do Iraque Saddam Hussein tinha 1,87 metros; Bin Laden, líder da Al-Qaeda, será, segundo o FBI, ainda mais alto. O tamanho conta? A resposta fica obrigatoriamente em aberto. A única evidência é que, altos ou baixos, todos são homens.

Expresso
 
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