• Olá Visitante, se gosta do forum e pretende contribuir com um donativo para auxiliar nos encargos financeiros inerentes ao alojamento desta plataforma, pode encontrar mais informações sobre os várias formas disponíveis para o fazer no seguinte tópico: leia mais... O seu contributo é importante! Obrigado.

Açores: Dizem que é uma espécie de navio...

joseseg

GF Ouro
Membro Inactivo
Entrou
Mai 26, 2007
Mensagens
1,655
Gostos Recebidos
0
O Governo dos Açores prepara-se para receber um navio novo para o transporte marítimo entre as ilhas que tem mais defeitos do que um navio velho.

Trata-se do ferry "Atlântida", um barco para carros e passageiros encomendado em Abril de 2006 pela empresa Atlânticoline aos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC).

A Atlânticoline é uma sociedade de capitais públicos, criada pelo Governo regional para gerir os transportes entre ilhas. O "Atlântida" devia ter sido entregue em Maio de 2008, mas os problemas de projecto e de execução foram tantos que o prazo de entrega já derrapou para Maio próximo. O maior deles era o da estabilidade em avaria, que se estendeu depois à própria estabilidade intacta (em condições normais). No relatório de Fevereiro do Instituto Portuário e de Transportes Marítimos (IPTM), que supervisiona a segurança dos navios e os certifica, ainda lhe eram apontadas mais de 100 reservas e observações.

O navio foi contratado por 40 milhões de euros, mas as alterações introduzidas já fizeram subir o custo para quase 50. Era este o valor total do programa que o Governo dos Açores anunciara em 2006 para dotar o arquipélago de quatro navios novos. Em construção está apenas mais um, também ferry mas mais pequeno, orçado em 10 milhões de euros.

Se, às vezes, a vida das pessoas dá um livro, a deste barco dá uma novela. Foi projectado por um gabinete russo, mas assumido pelos ENVC. Os seus erros de cálculo revelaram-se fatais: nos primeiros testes, em Agosto de 2007, verifica-se que não tinha estabilidade em avaria (acidente).

Para a corrigir, lastraram-no e reduziram a capacidade de carga do navio de 800 para 600 toneladas (menos viaturas). Foi invocada uma excepção à Convenção de Solas (segurança marítima) para ter menos baleeiras, mas com isso o navio não pode afastar-se a mais de 200 milhas de um porto. E colocaram-lhe a toda a volta um apêndice, uma espécie de "aba" (defensas) que segundo o IPTM pode desequilibrar a descida dos salva-vidas e, consequentemente, lançar os seus ocupantes ao mar. O navio ficou mais pesado e a capacidade de desenvolver velocidade menor.

Nos testes seguintes, um ano depois, o peso do navio tinha aumentado em 300 toneladas (10% do seu peso) e o centro de gravidade subira, afectando a tal estabilidade intacta. Foi tirado peso nos superiores e colocado mais lastro. O navio afundou meio metro - e criou-se um novo problema com a altura das rampas de acesso nos portos. As questões foram tantas que fonte chegada ao processo disse que até faltavam os dispositivos de fixação das cadeiras - e isto tendo decks em conta o mar agreste dos Açores! Face à reclamação de que o peso da âncora não era suficiente, foi aumentada a corrente, sem ponderar que em muitas baías do arquipélago não há espaço para tal. No meio do caminho, foi decidido abdicar do combustível Ifo, mais barato, porque não havia os necessários propulsores no mercado. Só a gasóleo, os custos vão disparar.

Esta segunda-feira, em mais uma prova de mar, o gerador falhou. Não foi por isso testada a velocidade. Uma nova prova estava marcada para ontem. Não é, pois, por acaso que o anterior presidente dos ENVC, Navarro Machado, interrogado sobre o assunto na Comissão de Defesa em Outubro passado, afirmou que a história do navio era "muito triste" e que incluía "uma série de disparates".

Quem acompanhou de perto a conturbada construção, diz que ele é "sucata" e sem valor transaccionável. Não é essa a opinião do presidente da Atlânticoline, António Raposo. Disse ao Expresso que está à espera de um navio tecnologicamente muito avançado e está disposto a cobrar as penalidades previstas até ao último cêntimo. Mantém para 13 de Maio a sua primeira viagem. Tal como está a situação, só mesmo um milagre de Fátima.

Expresso
 
Topo