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Afinal, dizer "xopinha de maxa" é grave

joseseg

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Para o Diogo, "ontem estava um dia de muito sor [sol]" e as "tesouas sevem pa recotar foias [tesouras servem para recortar folhas]". Se, à primeira vista, o discurso da criança até tem piada, um olhar mais profissional antevê problemas muito em breve.

Aos cinco anos, Diogo fala sem vergonha, mas omite uma série de consoantes e troca algumas letras. Está sinalizado para terapia da fala, tal como outros 300 alunos do pré-escolar e primeiro ciclo das escolas públicas e IPSS de Matosinhos.


foto Lisa Soares/JN

Ministério sinalizou 893 casos

O número de crianças com dificuldades de comunicação despertou a atenção da Câmara de Matosinhos que decidiu levar até às escolas terapeutas da fala, sem custos para os pais. Através de um protocolo com a Universidade Fernando Pessoa, 730 crianças do pré-escolar e 470 das IPSS, com cinco anos, estão a ser avaliadas por finalistas do curso de terapia da fala, com supervisão da docente do curso. No próximo ano, começam a ser acompanhadas para corrigir as deficiências na comunicação.

Numa sala pequena da EB1 da Cruz de Pau, em Matosinhos, longe do barulho e da troça dos colegas, Hugo vai respondendo às perguntas da avaliadora que rapidamente percebe as perturbações em causa. Nos papéis que têm diante de si aparece a imagem de um gelado, mas Hugo chama-lhe "xelado". Quando surge um galo pronuncia "alo" e em vez de laranja diz "lalanja".

"Os sons da língua devem estar todos adquiridos até aos seis anos. Se há sons omitidos, substituídos ou assimilações de sons os pais devem procurar terapeutas da fala", alerta Joana Rocha, terapeuta da fala e docente da Universidade Fernando Pessoa. Mas também não vale a pena entrar em pânico se a criança aos cinco anos ainda não consegue pronunciar correctamente a palavra frigorífico.

Antes do projecto começar, os casos mais "gritantes" detectados nas escolas de Matosinhos eram encaminhados para a Clínica Pedagógica de Terapia da Fala da Universidade Fernando Pessoa, onde as consultas são gratuitas.

Mas, recorda Joana Cruz, coordenadora do projecto agora em curso, havia muitos pais que não levavam os filhos", ou por dificuldades financeiras e de falta de tempo ou por desvalorizarem os problemas. "Ainda há a ideia de que com o tempo os miúdos corrigem a fala, mas o tempo só vai piorar as perturbações", alerta Joana Cruz, defendendo que as avaliações devem ser feitas o mais cedo possível.

Entre as 300 crianças sinalizadas em Matosinhos, as perturbações fonológicas são as mais comuns. Seguem-se as articulatórias, os atrasos no desenvolvimento da linguagem e, com menor frequência, as disfonias (rouquidão) e a gaguez. E quais são os motivos ? Há vários e cada caso é um caso.

As deficiências no desenvolvimento da linguagem podem estar relacionadas com perturbações auditivas (otites repetidas podem culminar na perda de audição), perturbações cognitivas, neurológicas, deficiências respiratórias e de deglutição, predisposição genética, entre outros factores. Até o chuchar na chupeta ou no dedo, depois dos três anos, pode interferir na fala.

Esse é, aliás, um dos problemas de Marco. Tem cinco anos e um sorriso que desperta a atenção da avaliadora. Os dentinhos da frente descrevem um arco, em cima e em baixo, sem juntar. Aquele "buraco" que fica no meio da boca dificulta a colocação da língua e interfere na fala, conforme se percebe quando lhe pedem para pronunciar cavalo: "cava-o", diz o aluno.

A intervenção precoce é uma das melhores formas de prevenir o insucesso escolar e também a exclusão social. "Se não forem acompanhadas, vão ser crianças de risco, com dificuldades acrescidas na aprendizagem da leitura e da escrita e prováveis vítimas de exclusão social ou até bullying", retrata outra especialista ligada ao projecto de Matosinhos. "As crianças são muito cruéis entre si".

Os terapeutas da fala lidam com todo o tipo de problemas de comunicação, dos menos graves aos mais severos, mas um dos mais frequentes nas crianças é a pobreza de vocabulário, sobretudo em escolas inseridas em meios menos desenvolvidos. São pouco estimuladas em casa e reflectem-no na comunicação. Dizem poucas palavras e tem dificuldade em construir frases correctamente.

Por outro lado, há "as muito espertas", que são capazes de dizer automóvel em vez de carro porque sabem que não conseguem pronunciar os "erres". "Mas esses casos são fáceis de corrigir porque são crianças inteligentes e têm noção do erro", refere Joana Rocha.

JN
 
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