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Símbolo da poluição, desastre é analisado 20 anos depois

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Símbolo da poluição, desastre é analisado 20 anos depois

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Quando as pessoas pensam em grandes derramamentos de petróleo, pensam no Exxon Valdez. Vinte anos atrás, o grande petroleiro derramou sua carga na costa do Alasca, e as imagens das aves marinhas cobertas de petróleo chegaram aos noticiários em um período no qual a conscientização ambiental começava a avançar rapidamente nos Estados Unidos.

O acidente se tornou um marco nas ações dos grupos ecológicos e dos legisladores, mas também resultou em centenas de estudos científicos que avaliaram as implicações do desastre para os moradores locais e o ecossistema, os métodos de correção dos problemas causados e as práticas de reação a derramamentos de petróleo. Nós decidimos rememorar o desastre e avaliar qual é a situação quanto a tudo isso, hoje.

O que aconteceu?
Pouco depois da meia-noite, em 24 de março de 1989, o petroleiro Exxon Valdez encalhou em um recife no Estreito Prince William, no Golfo do Alasca. A despeito do clima calmo nos dias que se seguiram, os esforços de limpeza não foram bem organizados, e uma tempestade em 27 de março ajudou a espalhar petróleo cru pesado por cerca de dois mil quilômetros de costa, em uma mancha que se expandiu por centenas de quilômetros.

Os cerca de 40 milhões de litros de petróleo que foram derramados do Exxon Valdez podem não parecer muita coisa se comparados a derramamentos anteriores, como o do Amoco Cadiz, ao largo da costa francesa, em 1978, com 260 milhões de litros, ou o do Prestige, ao largo da Espanha, com 76 milhões de litros.

Mas o volume de petróleo derramado não é tudo. A combinação entre a localização do derramamento - as águas relativamente frias e intocadas da costa sub-ártica do Alasca - e do momento do acidente - o ecossistema estava se preparando para a primavera - tornaram o problema especialmente devastador.

Quais foram os efeitos do derramamento, e qual é a situação atual do ecossistema?
Dez anos depois do derramamento, os ecologistas estimavam que entre 100 mil e 700 mil aves houvesse morrido devido à exposição ao petróleo, com base em uma extrapolação do número de carcaças manchadas de óleo recolhidas em praias e na água.

Embora muitas das espécies atingidas já tenham recuperado aos níveis anteriores ao derramamento, ou estejam progredindo bem apesar disso, duas delas não conseguiram se recuperar: os guillemots, uma espécie de pombo, e o arenque do Pacífico.

Em 31 de dezembro de 2008, o Conselho do Fundo de Reparação do Exxon Valdez submeteu um plano de recomendação para os arenques, peixes economicamente importantes na região atingida.

Mas alguns interessados argumentam que pode ser que a mancha de petróleo não tenha sido responsável pelos problemas que o setor de pesca de arenques está enfrentando. O excesso de exploração ou outras alterações no ecossistema, como presença mais acentuada de doenças ou um declínio nas fontes de alimentos disponíveis para esse tipo de peixe, podem ter contribuído.

O que foi feito para limpar as praias e remover o petróleo das águas? O trabalho de limpeza foi especialmente difícil porque a mancha estava localizada em uma região muito remota. A Guarda Costeira dos Estados Unidos e outras agências de resposta testaram toda forma de rede disponível para conter o petróleo, bem como agentes químicos de dispersão.

Voluntários conseguiram recolher e limpar aves, lontras e outros animais atingidos pelo petróleo. Algumas formas de uso experimental de micróbios no Estreito Prince William levaram os cientistas a desenvolver métodos altamente inovadores de correção biológica, com a criação específica de variantes de micróbios da espécie Pseudomonas aeruginosa, que conseguem romper as moléculas de petróleo e dispersá-lo no local.

A Exxon Mobil investiu mais de US$ 2 bilhões para financiar alguns desses esforços, e desembolsou outros US$ 900 milhões em indenizações pessoais, ao Estado do Alasca e para constituir o Fundo de Reparação do Exxon Valdez, que financia pesquisas sobre os impactos do derramamento.

Quanto tempo vai demorar para que o petróleo desapareça totalmente?
O petróleo do Exxon Valdez que chegou a regiões costeiras ativas, nas quais a ação das ondas ou de micróbios pode romper suas moléculas, desapareceu bem rápido. Mas ainda são encontradas poças de petróleo cru do Exxon Valdez em certas áreas, e restam bolsões de petróleo ainda não degradado logo abaixo da superfície, em algumas praias.

Isso alimentou o debate corrente sobre a possibilidade de que lontras marinhas que estejam procurando alimentos em uma praia possam ainda estar expostas ao petróleo do Exxon Valdez. Os consultores da Exxon dizem que as lontras marinhas e outros animais não estão em risco de exposição em níveis tóxicos, agora, e que processos naturais terminarão por isolar qualquer petróleo remanescente nos níveis que ainda persistam.

O desastre resultou em alguma coisa boa?
A região do Estreito Prince William já havia sofrido o impacto de um século de mineração de cobre, prospecção de petróleo e pesca comercial.

Um desafio que os pesquisadores tiveram de enfrentar foi aprender a distinguir entre os traços de degradação relacionados ao petróleo do derramamento e outros sinais das atividades humanas conduzidas no local em décadas precedentes.

Em resposta às disputas judiciais quanto às questões de responsabilidade pela limpeza, os cientistas desenvolveram métodos muito mais precisos de identificação de hidrocarbonetos petroleiros. Agora, laboratórios de análise que operam sob contrato são capazes de obter identificação "infalível" quanto à proveniência de uma mancha de petróleo, diz Chris Reddy, do Instituto Oceanográfico de Woods Hole, Massachusetts.

Incentivada pelas dificuldades que encontrou para combater o derramamento de petróleo, a Guarda Costeira dos Estados Unidos também simplificou suas linhas de comando e retreinou suas equipes de limpeza de modo a capacitá-las a enfrentar manchas de petróleo.

O Congresso dos Estados Unidos aprovou a Lei da Poluição por Petróleo, em 1990, que determinava a responsabilidade por danos fiscais e pelo trabalho de limpeza.

A maior parte dos derramamentos acontecia devido ao uso de navios de casco simples, comenta Dennis Nixon, professor de Direito Ambiental na Universidade de Rhode Island, em Kingston. O Exxon Valdez, um navio de casco simples que foi reparado depois do incidente, vendido e rebatizado Mediterranean, na verdade continua em serviço no leste da Ásia.

Hoje, petroleiros de casco único estão proibidos de utilizar os portos dos Estados Unidos, enquanto países como França e Espanha não permitem que eles se aproximem a menos de 320 quilômetros de suas costas.

E quanto ao povo do Alasca?
O Conselho do Fundo de Reparação do Exxon Valdez continua a classificar os "serviços humanos" ¿ tais como pesca, recreação e uso de subsistência - como "em recuperação", até que os recursos dos quais eles dependem retornem ao normal.

E em 2008, uma decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos reduziu dramaticamente o montante a ser pago aos moradores locais como indenização punitiva, de US$ 2,5 bilhões para US$ 507,5 milhões, classificando a indemnização inicial como excessiva nos termos da lei marítima. A Exxon Mobil já começou a pagar essas indemnizações.


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