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...mas só porque a crise econômica é devastadora para as indústrias ineficientes e poluidoras dos países emergentes

Com a desaceleração econômica causada pela crise global, a maioria dos países viu-se obrigada a rever – para baixo – suas projeções de crescimento. Isso é ruim para todo mundo. Trabalhadores perdem o emprego, os pobres ficam mais pobres e projetos de desenvolvimento precisam ser adiados. No que tange ao aquecimento global, contudo, a crise apresenta aspectos positivos. A previsão é que as emissões globais de gases do efeito estufa terminarão 2009 com uma redução de 3% em relação ao ano passado. Só a União Europeia deixará de lançar na atmosfera 100 milhões de toneladas de CO2 neste ano. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), no Brasil a emissão de dióxido de carbono na atmosfera já diminuiu 1,8 milhão de toneladas por causa da queda na produção industrial desde o fim de 2008. A leitura a ser feita desses acontecimentos não é a de que só a ruína da economia poderá salvar o planeta. Na verdade, a crise mostra-se especialmente severa com as indústrias mais ineficientes e poluidoras. Isso reforça a tese de que é possível conciliar crescimento econômico com proteção ao ambiente.

"A poluição pode ser vista como um sintoma de problemas de ineficiência energética e da dependência excessiva de combustíveis fósseis", disse a VEJA o economista Rafael Marques, vice-presidente da Bolsa do Clima de Chicago, a primeira do mundo a negociar créditos de carbono. Para Marques, a crise deve ser encarada como um momento propício para investimentos em sustentabilidade, que podem, entre outros benefícios, reduzir os gastos com energia. Entre os 11 trilhões de dólares injetados em pacotes de estímulo na economia mundial estão alguns bilhõezinhos dedicados a essa finalidade. "Os membros do G7, o grupo das nações mais ricas do mundo, vão investir 138 bilhões de dólares em energias renováveis", afirma a economista Camila Ramos, chefe de pesquisas para a América Latina da New Energy Finance, consultoria com sede em Londres. Nos Estados Unidos, o presidente Barack Obama propõe a criação de 5 milhões de "empregos verdes" por meio da duplicação da produção nacional de energias alternativas e da fabricação de 1 milhão de carros híbridos. O governo do Reino Unido vai incentivar consultorias em eficiência energética a expandir suas atividades no exterior.

Como as empresas mais ineficientes são, em geral, as que mais desprezam as leis ambientais e as mais suscetíveis às mudanças drásticas na economia, elas se tornaram as primeiras vítimas da crise nos países emergentes.

Veja as mudanças em alguns países

Na província de Guangdong, de onde sai um terço das exportações da China, mais de 60.000 fábricas já fecharam as portas. Em sua maioria, eram pequenas unidades que terceirizavam a produção de calçados, brinquedos e bugigangas e não davam a mínima às regras antipoluição. Guangdong foi o cenário das reformas liberais de Deng Xiaoping no fim da década de 70, e a herança desse período de vale-tudo é uma das regiões mais poluídas do planeta. Muitas empresas chegaram a pedir o relaxamento da legislação ambiental até terminar a crise econômica, de forma a facilitar a sobrevivência do negócio. Mas o governo da província preferiu aproveitar a oportunidade para se livrar das unidades poluidoras.
Hoje, a empresa que não respeita a legislação antipoluição é punida com a perda de crédito oficial. "O governo tenta agora estimular a chegada de investimentos estrangeiros para transformar a indústria local em fabricante de alta tecnologia", disse a VEJA o chinês Li Kui-wai, professor de economia da Universidade da Cidade de Hong Kong. No México, onde a produção industrial despencou desde que a crise estourou no país vizinho, no ano passado, o tráfego de caminhões na fronteira com os Estados Unidos caiu 40%. Na Índia, o quinto maior produtor mundial de aço, dezenas de pequenas siderúrgicas tiveram de fechar as portas por causa da diminuição da demanda do produto. O efeito sobre a qualidade do ar na região de Délhi, onde se concentra grande parte da produção nacional, foi imediato. A concentração de dióxido de enxofre, substância responsável pela chuva ácida, caiu 85% em comparação com o ano anterior.

No Brasil, com o preço da soja e da carne em queda, há menos incentivos para derrubar a floresta e substituí-la por pastos ou lavouras. Entre agosto e janeiro foram desmatados 2.639 quilômetros quadrados da Floresta Amazônica, 32% menos que no mesmo período do ano anterior. Com isso, o país deixou de mandar 18 milhões de toneladas de CO2 para a atmosfera. Um relatório publicado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) na semana passada mostra que esse impacto positivo deve durar pouco. Se por um lado haverá redução na demanda por madeira e demais produtos agrícolas que levam ao desmatamento, por outro também haverá menos dinheiro para investimentos em manejo florestal e estratégias de exploração sustentável de longo prazo. Mais uma prova de que é preciso conciliar desenvolvimento econômico com preservação ambiental – com ou sem crise.





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