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“Ainda há falta de apoio aos doentes oncológicos”

migel

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“Ainda há falta de apoio aos doentes oncológicos”

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É necessário reforçar o apoio psicológico do doente de cancro Para a delegada de São Miguel do Núcleo Regional da Liga Contra o Cancro, apesar do acesso aos
exames e tratamentos estar facilitado, é necessário reforçar o apoio psicológico do doente de cancro

Marta Carneiro fala do cancro na primeira pessoa porque há dezassete anos encarou de frente a batalha contra a doença e decidiu não baixar os braços à luta.
A sua experiência como doente e junto de outros doentes, permite-lhe concluir que, apesar de estar facilitado o acesso aos exames e tratamentos, ainda falha o apoio psicológico aos doentes oncológicos. A responsável, desde Março, pela direcção da delegação de São Miguel do Núcleo Regional da Liga Portuguesa Contra o Cancro partilha a sua experiência em discurso directo.
Como encarou o diagnóstico de cancro?
Quando descobri que tinha a doença em 1992, tinha 37 anos. E isso já foi há 17 anos, era muito diferente do que é hoje! No meu caso, tinha um apoio familiar óptimo. Decidi ficar cá. Entreguei-me. Confiei nos médicos. Confirmou-se os resultados da primeira biópsia e iniciei a quimioterapia. E vou ser franca. Naquela altura, era desolante o sítio onde estávamos para a quimioterapia! Mas esta doença é assim... A pessoa tem de se preparar... para a batalha!
Todos os doentes de cancro referem-se a uma batalha...
Porque é uma luta! No meu caso , tinha um cancro no intestino, o segundo mais mortífero e, portanto, tinha noção do que tinha. Mas sou uma mulher de fé! Encarei a doença. Preparei-me para partir se fosse o caso. Tinha um filho com doze anos... E preparei-me para lutar com todas as armas ao meu alcance.
O que é mais difícil na luta contra o cancro?
É a pessoa ver os filhos e a família em volta e pensar que ainda tinha muito para dar, porque os filhos ainda precisavam muito, e que estava à partida condenada às consequências de uma doença. No entanto, no meu interior, pensei que faria tudo ao meu alcance, porque enquanto há vida, há esperança.
Que tipo de apoio por parte da família é importante para o doente de cancro?
Eu preocupei-me com a família no sentido de não demonstrar aos meus filhos o quanto eu sofria. Sempre tentei arranjar-me, maquilhar-me, embora às vezes não me apetecesse, para que não parecesse uma doente perante eles. Inclusivamente no dia da operação, passado o recobro e vindo para o quarto, eu disse à enfermeira: eu quero o meu baton. A noção que tinha é de que estava com aspecto de muito doente e não queria que os meus filhos vivessem isso desse modo. Bastava eu e o meu marido! Nós éramos os pilares! E eu queria que eles soubessem que estava doente, mas que estava ali para lutar! Penso que a família é muito importante!
O doente de cancro é obrigado a interromper a sua carreira profissional. Como deve o doente encarar esse aspecto?
Eu trabalhava numa privada, mas foram incansáveis. O diagnóstico foi alarmante, mas houve um apoio determinante da administração que me disse para não preocupar em voltar ao trabalho enquanto não me sentisse em condições. Mas chega uma altura em que a pessoa já não quer estar em casa. Quer voltar ao ambiente de trabalho para se sentir capaz!
E no hospital, sentiu que o doente de cancro tem todo o apoio de que necessita ou que há aspectos a ser melhorados?
Continuo a pensar que o apoio psicológico faz muita falta! Tinha apoio da minha família... mas ao fim de 17 anos, continuo a sentir que há falta de apoio aos doentes oncológicos. Não é nos tratamentos, não é nos exames, porque desde que entramos no serviço de oncologia, somos encaminhados para consultas e exames. Mas eu sentia-me rotulada. Tinha um cartão que me dava acesso a tudo... Penso que falta no serviço de oncologia, apoio às pessoas na parte psíquica, porque há pessoas que não têm a mesma capacidade... É um estigma para a pessoa entrar naquela zona do hospital, porque é um estigma de morte...
Há esse sentimento?
Sim, porque a pessoa que tem cancro, tanto pode viver como pode morrer.
A vontade de lutar que referiu não é comum a toda a gente...
Sim, não é comum. Tem-me acontecido ao longo dos anos, como faço parte da consulta sistemática (uma vez por ano) - ver pessoas muito em baixo e a minha mensagem é que os anos vão passando e vamos ficando bem.
Penso que o apoio familiar é muito importante. Já não digo o apoio económico, porque hoje em dia toda a gente tem acesso aos exames e às consultas... Mas há muitos vazios, se não houver apoio familiar muito forte é natural que a pessoa tenha vontade de baixar os braços.

Fonte:Açoriano Oriental


 
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