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Do preconceito da «música africana» à world music

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Do preconceito da «música africana» à world music

O preconceito de «música africana» está a cair em desuso em Portugal, onde vários são os artistas que, face à pirataria do mercado informal, preferem o rótulo «Música do Mundo» para atrair novos mercados promocionais e espectáculos.

A ideia é avançada à Agência Lusa por Nuno Sardinha, especialista em World Music e jornalista da estação de rádio portuguesa RDPÁfrica, onde apresenta, desde 1999, um espaço musical que começou com apenas uma hora e que, actualmente, preenche três nas tardes dos dias de semana, o programa «Música Sem Espinhas».

Em declarações à Agência Lusa na Cidade da Praia, onde assistiu à primeira edição do Kriol Jazz festival, no passado fim-de-semana, Nuno Sardinha mostrou-se crítico por, num passado recente, a música oriunda dos países africanos de expressão portuguesa estar ausente nas rádios em Portugal.

Actualmente, porém, afirma-se «mais satisfeito» por a música desses artistas, como a cabo-verdiana Lura, estar a ganhar dimensão em rádios como a TSF e RFM, tendo em conta o «grande mercado» existente em Portugal, onde reside uma das maiores comunidades africanas na Europa. E também nos canais generalistas.

«Se assistirmos aos programas ao vivo nas televisões generalistas portuguesas reparamos que nunca como agora foi tanta a projecção dos artistas, já que é raro o dia em que não há um africano num dos três canais», assevera. E o mercado é vasto, acrescenta, havendo, sobretudo nos últimos anos, um «crescente sucesso» da Kizomba entre os portugueses, sobretudo fora dos grandes centros urbanos.

«Há dois tipos de mercado: o português, que compra os discos de músicos e cantores já consagrados, como Cesária Évora, Bonga, Tito Paris, Lura, Waldemar Bastos ou Sara Tavares, e o africano, em que os recordistas de vendas são Filipe Monteiro, Gil Semedo, D. Kikas, Ferrogaita e Tabanka Djazz», sustenta. Para o jornalista/apresentador, desde o início do projecto da RDPÁfrica, em 1996, a grande diversidade da música que se faz nos países africanos de expressão portuguesa permite que se ouça em Portugal dois géneros musicais, cujas tendências tocam os extremos.

«Os consagrados, por um lado, e as novas apostas, que, em Portugal, país com um mercado restrito de divulgação, passam invariavelmente pela RTPÁfrica», sustenta Nuno Sardinha, considerando que a «cruzada» que se faz neste âmbito «torna-se um projecto muito interessante».

«É o que se tem tentado fazer na rádio e pode-se já afirmar que muitos dos artistas africanos agora em voga são uma espécie de «produto RDPÁfrica». A Lura encaixa aí, tal como Paulo Flores, D. Kikas e Gil Semedo, só a título de exemplo», sublinhou.

Outros grupos acabaram por ganhar «maior dimensão», como os Tabanka Djazz, Tito Paris, Bonga e Cesária Évora, «só para citar alguns». «Mas são tantos e tantos grupos, tantos e tantos projectos musicais, que se torna impossível quantificar quantos já lançámos, quer na própria rádio quer nos mais de 500 espectáculos que apresentamos no nosso antigo auditório entre 1997 e 2004», acrescentou.

A questão da promoção dos espectáculos ao vivo é o novo conceito destinado a combater a pirataria de vendas que grassa no mercado português, que leva os músicos a optarem por maior qualidade nos seus trabalhos, de forma a promover mais contacto com o público. «Hoje em dia, os grupos e músicos africanos conseguem obter mais lucros com os espectáculos do que propriamente com a venda dos discos, pelo que o conceito está a mudar. São milhares os discos pirateados e as editoras e os músicos sabem já disso», afirmou.

«Estão mais inteligentes. Subiram eles próprios o grau de exigência e as músicas saem com maior qualidade, abrindo portas para os espectáculos ao vivo. Longe vão os tempos em que cantavam em «playback» nas discotecas. Hoje elaboram excelentes espectáculos», sintetizou.

Depois, acrescenta, há a tradicional música de dança, que mistura ritmos, na sua maioria idênticos, e que representa «o espelho cultural» possível, tendo sobretudo em conta a vertente comercial. «O kizomba, por exemplo, não é um ritmo, mas sim uma maneira de estar. E a música baseada em sintetizadores chega com alguma força às pistas de dança com origem no Zouk, das Antilhas», acentuou.

Quanto ao futuro, Nuno Sardinha considera que se avizinham «bons tempos» para a música africana, «ou para a World Music», feita em Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe. «Melo-D, Kalaf e Buraka Som Sistema, a par de Tcheka e Mayra Andrade, representam o presente e o futuro, e rivalizam em vendas com Filipe Monteiro, Gil Semedo, D. Kikas, Ferrogaita e Tabanka Djazz», sustentou Nuno Sardinha, considerado pelos seus colegas como a «enciclopédia da World Music africana».

«Acho que tenho uma quota-parte de responsabilidade em dar expressão à divulgação da música africana (em Portugal)», admite o licenciado pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), que conta com cerca de 8.000 CD's «distribuídos por duas casas e pelos cacifos da RDP» e que se considera «um jornalista especializado em música».


Diário Digital / Lusa
 
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