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Proibido proibir e proibido voltar atrás

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Crianças e jovens participaram ontem nas comemorações do 25 de Abril do Museu Machado de Castro
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Era proibido andar de mini-saia, dar beijos na rua, ler certos livros, ouvir determinadas canções, a professora não podia casar sem autorização, juntar três ou mais pessoas já “denunciava” conspiração, as publicações só saiam à rua depois de revistas pela censura, porque nem todas as opiniões podiam ser divulgadas. Ontem, no Museu Machado de Castro, cerca de duas dezenas de crianças e jovens aprenderam um pouco mais sobre a vida antes do 25 de Abril e a importância desta revolução para tudo o que hoje são direitos que já nem se questionam.
A iniciativa, dinamizada pela Liga dos Amigos do Museu Machado, começou por usar a música e o teatro para recordar o Abril de 1974. O músico Manuel Rocha, director do Conservatório de Música de Coimbra, e Ricardo Kalash, actor e encenador, orientaram a “brincadeira”, que foi também um momento de reflexão. Seguiu-se o almoço, partilhado, «numa vivência dos valores e do espírito» do dia que ontem se comemorava.
O Diário de Coimbra encontrou o grupo numa espécie de atelier de artes plásticas. Muitos desenhos estavam já colados nos vidros da sala, enquanto crianças e alguns adolescentes continuavam a colocar no papel a sua ideia do que era a repressão daqueles tempos. Todos os “proibidos” foram ilustrados a lápis azul, mas ontem eram lápis de liberdade de expressão, como ficou patente nas frases mais repetidas: “proibido proibir” e, depois de todos os ganhos do 25 de Abril, “proibido voltar atrás”.
João Vasco Ribeiro, presidente da Liga dos Amigos do Museu Machado de Castro, explicou que a dinâmica teve por base, justamente, o livro “Proibido proibir” de António Costa Santos e pretendeu mostrar às crianças e jovens de hoje que coisas que eles acham agora «inimagináveis» precisaram de uma revolução para cessar na nossa sociedade. «Queremos assinalar no Museu vários momentos e achamos que o 25 de Abril deve ser trabalhado no espírito dos que não o viveram, para que fiquem com uma memória viva do que é fazer o futuro», disse, sustentando a importância da acção de ontem.
João Nora deu uma ajuda aos pequenos artistas, lembrando-se que também a expressão artística estava condicionada na altura. Com lápis de aguarela e pastel – a recordar o lápis da censura – houve quem desenhasse um casal de namorados aos beijos, garrafas de coca-cola e meninas de saias por cima do joelho.

“Não se faz” e “é pecado”
Ao “proibido” acrescentava-se sempre o “não se faz” e, não raro, o “é pecado”. Maria Catre e Maria Bicker, de 15 e 16 anos, respectivamente, surpreenderam-se com a quantidade de proibições. «Tanta coisa que hoje achamos normal e não damos valor», disse Maria Bicker, resumindo tudo na que considera ter sido a pior proibição: «não podermos dizer o que temos na cabeça». Ao lado, desenhava-se uma nova mensagem: «proibido amar pessoas do mesmo sexo», daquele tempo, mas ainda tão actual.
A Beatriz, sete anos, despachadíssima. Já tinha passado por nós com os dedos das mãos levantados: «Já fiz seis coisas daquelas». Eram os desenhos e quisemos saber o que a tinha inspirado. «Anda cá ver», disse, dirigindo-se ao painel. «Não namorar, não usar mini-saia, proibido andar de bicicleta, jogar cartas no comboio, fumar, usar biquíni». A pequena Beatriz apontava os seus abstractos desenhos e fazia os gestos do que eles representavam, para que não restassem dúvidas.
O dia terminou com uma reflexão sobre a memória do 25 de Abril, feita por um jovem nascido anos depois da revolução dos cravos. Miguel Cardina, licenciado em Filosofia, tem estudado os movimentos de oposição ao Estado Novo e lembrou ontem a importância de analisar a nossa história recente, nomeadamente nas escolas.


Visitas ao Criptopórtico
com teatro à mistura
A Liga de Amigos do Museu Nacional Machado de Castro parte do princípio que «o museu é um espaço fantástico da cidade, que precisa de ser vivido, transformado num ponto de encontro», como diz João Vasco Ribeiro. Assim, programou um conjunto e actividades que levará a cabo com o apoio de vários mecenas. No que se refere aos mais jovens, o presidente destacou ao Diário de Coimbra as visitas das escolas ao Criptopórtico. «Queremos que não seja apenas uma narrativa histórica, mas uma visita dramatizada por actores e que envolva as próprias crianças», no fundo, para que a informação seja transmita de forma mais dinâmica e atractiva.
De acordo com o responsável, será, inclusive, feito um pedido à Direcção Regional de Educação do Centro, para que estas visitas – previstas para as terças e quintas-feiras – façam parte do programa de actividades extra-curriculares. João Vasco Ribeiro revelou que serão promovidos dois cursos de teatro no museu para que os actores que dali saiam possam dar corpo e enriquecer a dramatização da visita aos Criptopórtico, que é, para já, a parte do Machado de Castro que está aberta ao público.
 
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