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"Superpredador" híbrido invade lagos da Califórnia

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"Superpredador" híbrido invade lagos da Califórnia

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O acasalamento entre as salamandras-tigre nativas da Califórnia e uma espécie introduzida no Estado décadas atrás, a salamandra-tigre listrada, produziu um monstro - ao menos para os animais que habitam os lagos na região do vale do rio Salinas, na Califórnia.

O novo "superpredador" híbrido se desenvolve até atingir tamanho superior ao de qualquer das duas espécies de origem e a boca maior de que o novo animal está dotado permite que este sugue ampla variedade de presas anfíbias, de acordo com a bióloga Maureen Ryan, aluna de pós-graduação do Centro de Biologia da População na Universidade da Califórnia em Davis, que conduziu um estudo sobre a situação da nova espécie.

Os principais componentes do cardápio da espécie híbrida de salamandra são animais lacustres de menor porte, como a rã coral do Pacífico e o tritão da Califórnia - que passaram ambos por "redução dramática" em suas populações devido à ação dos híbridos, como comprovou uma experiência realizada em lagos artificiais. O mesmo pode se aplicar a lagos naturais, de acordo com Ryan.

"As salamandras híbridas parecem ser mais vorazes e um pouco mais agressivas", afirmou Ryan. "Com base na observação de seu comportamento, é possível perceber que elas atacam umas às outras, e também às potenciais presas, de maneira intensiva".

Emboscada canibal

As salamandras-tigres listradas foram introduzidas na Califórnia nos anos 40 e 50, provenientes do Texas. Híbridos entre a espécie invasora e as salamandras nativas agora ocupam cerca de 20% do habitat mais amplo da espécie nativa, no vale de Salinas. A espécie local de salamandras é classificada como espécie em risco de extinção nos condados de Sonoma e Barbara e como ameaçada no restante de seu habitat de origem, nos termos da Lei de Proteção a Espécies em Risco dos Estados Unidos.

Para descobrir que impacto a espécie híbrida está exercendo sobre os lagos locais, Ryan recolheu girinos (rãs juvenis), larvas (salamandras juvenis) e ovos de várias espécies, de diversos pontos no território do vale, e observou seu comportamento em lagos artificiais escavados ao ar livre. A pesquisadora e sua equipe constataram que as larvas das salamandras híbridas chegam até mesmo a utilizar uma estratégia de emboscada. Quando algo nada por perto, ela diz, as criaturas atacam e "saltam e sugam ao mesmo tempo", explicou.

Todas as salamandras aquáticas se alimentam por sucção, mas as híbridas são mais efetivas nessa prática devido ao seu tamanho maior. As híbridas também apresentam outro estranho traço de adaptação: suas larvas podem ocasionalmente desenvolver fileiras adicionais de dentes e se tornar canibais, algo que não se vê nas espécies nativas.

Também em risco

Há outras espécies anfíbias que correm perigo caso o alcance das salamandras híbridas continue a se expandir a outras regiões do vale. Por exemplo, a salamandra de dedos longos de Santa Cruz, que também está na lista das espécies em risco de extinção nos Estados Unidos, ocupa uma pequena área do condado de Monterey.

Caso as salamandras híbridas venham a atingir aquela região, poderiam "colocar em sério risco e causar pesada diminuição na população mundial remanescente da salamandra de dedos longos", disse Ryan. Karen Lips, bióloga especializada em anfíbios na Universidade de Maryland, em College Park, afirmou em mensagem de e-mail que "os resultados do estudo servem como demonstração de que as salamandras híbridas estão exercendo impacto significativo sobre as demais formas de vida anfíbias encontradas naqueles lagos".

E existem outros exemplos de situações nas quais as salamandras se tornam o maior predador de um ambiente, acrescentou Lips, que não participou do projeto de pesquisa liderado por Ryan. Em lagos localizados em regiões de bosques, por exemplo, são os anfíbios que ditam a população de insetos e de outras formas de vida invertebradas.

Dilemas éticos
Tomar medidas que resultem em extirpar a população de salamandras híbridas representaria um "dilema ético", de acordo com Ryan, a diretora da pesquisa sobre essa espécie. "De uma perspectiva da conservação de espécies, existem muitas questões profundas quanto ao que se deveria fazer em uma situação como essa". Afinal, as salamandras híbridas também são ao menos em parte uma espécie ameaçada. "O que deveríamos fazer, em um caso como esse? Protegê-las porque são pelo menos em parte nativas da região?"

Em termos gerais, Ryan afirma, sua "verdadeira preocupação" seria trabalhar de maneira a garantir a sobrevivência da salamandra nativa da Califórnia, que já provou que não tem condições de competir naturalmente com a nova espécie intrusa, meio texana.

Os hábitos predatórios mais agressivos da nova espécie "beneficiam as salamandras híbridas e prejudicam as nativas, o que acelera o processo de conversão da população, com o desenvolvimento de número ainda mais alto de salamandras híbridas". O trabalho foi publicado pela revista Proceedings of the National Academy of Sciences.



The New York Times
 
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