Falar com as crianças sobre dinheiro

É importante familiarizar os mais pequenos com o valor do dinheiro.


Quem é que ainda não assistiu a uma cena passada, por exemplo, num dos corredores de um hipermercado com uma criança a atirar-se para o chão porque exige um brinquedo que os pais não querem ou não podem comprar? Quem não ouviu uma criança perguntar o que pode comprar com os 30 euros que recebeu de presente?

No quotidiano há diferentes situações que revelam a dificuldade que as crianças sentem em lidar com o dinheiro.

Muitas vezes, argumentos como «Não tenho dinheiro», «É caro!» ou «Hoje não pode ser!» não servem para contentar uma criança que quer a toda a força a última versão da Barbie ou uma simples caixa de bombons.

Mas se o seu filho tiver noção de que com os euros necessários para comprar uma Barbie paga a conta do gás, é mais fácil perceber que não pode levar tudo o que lhe apetece das prateleiras de uma loja.

Por esta e por outras razões é importante familiarizar a sua criança, o mais cedo possível, com o valor do dinheiro e integrá-la na hora de olhar para o orçamento da família. É saudável que os filhos façam parte dessa rotina, de uma forma simples.

Aqui fica uma lista de dicas para ajudar os pais a falar de dinheiro com os filhos.


Contactámos o especialista Daniel Sampaio, Professor Catedrático de Psiquiatria e Saúde Mental da Faculdade de Medicina de Lisboa, para nos ajudar a validar os conselhos. A saber:

# Converse diariamente com o seu filho sobre despesas. Por exemplo, quando chegar a conta da EDP fale com ele sobre os valores em causa e sobre como é importante economizar. Ensine-lhe a consequência de passar o dia inteiro a jogar Playstation: uma conta da luz inflaccionada.

# Compare. Quando a sua filha lhe pedir a tal Barbie, compare o custo da boneca com o valor da conta do gás, por exemplo. Desta forma é mais fácil aceitar a sua recusa em comprar-lhe a Barbie se perceber que com esse dinheiro pode pagar uma despesa doméstica essencial.

# Atenção aos presentes extra datas de Natal, de aniversário... É um mau hábito que uma vez adquirido se torna complicado eliminar. E é difícil exigir a uma criança o que um adulto não consegue cumprir.

# Ensine a criança a poupar. Durante um mês, compre-lhe um mealheiro e peça-lhe ajuda para reunir todas as moedas que andam espalhadas pela casa. Demonstre a importância da tarefa e ofereça algumas contribuições durante a «limpeza».
Ao fim de um mês as inúmeras moedas garantem ao seu filho uma mesada extra e será para ele uma enorme vitória. Ao guardar aquele pequeno «pote» é dada à criança o sentido de responsabilidade, de economia e de zelo por pequenos valores que, guardados de forma disciplinada e periódica, podem proporcionar-lhe vantagens no futuro.

# Que tal fazer um mini-orçamento com o seu filho? É mais simples se lhe oferecer uma semanada. Escreva num papel o quanto lhe dá por mês e como é importante, no final, sobrar algum dinheiro. E explique que se ele gastar tudo, não pode ajudar a comprar a Barbie ou o jogo da Playstation que tanto desejava. Embora tenha vontade de comprar-lhe o «mundo», resista.

# Exemplo prático: imagine que dá ao seu filho uma semanada de 20 euros. Mostre-lhe, com alguns cálculos, que para comprar um brinquedo no valor de 50 euros ele vai ter que:
# poupar 5 euros por semana durante 10 semanas
# poupar 10 euros por semana em 5 semanas
O mais importante é que ele perceba que quanto mais conseguir poupar, mais cedo pode vir a realizar o sonho de ter o brinquedo.

# A semanada é aconselhável a crianças com mais de sete anos. Mas não associe a semanada ao conceito de remuneração por tarefas que ele tem que desempenhar em casa. E transmita-lhe a ideia de que é importante poupar parte da mesada e não gastar tudo.

# Se a criança gastar o dinheiro todo antes do final da semana e pedir mais, diga «não»! Ensine-a a planear gastos e, se passar a mensagem de que se ela gastar tudo vai haver sempre mais, caem por terra todos os conselhos anteriores.