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Apesar dos avanços, áreas da medicina continuam sem resposta

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Apesar dos avanços, áreas da medicina continuam sem resposta

Durante o verão, adolescentes com interesse em medicina geralmente são incentivados a fazer trabalhos menores em hospitais ou laboratórios para se familiarizarem com a área. Aqui está uma ideia melhor: dê-lhes uma cópia de "Normal at Any Cost" (Normal a qualquer custo). Quando terminarem (e eles vão terminar, visto que sua mistura de "Gossip Girl" e o livro de Eclesiastes torna-o irresistível), eles terão conhecimento da área.

E se ainda estiverem dispostos a uma carreira médica, eles estarão mais capacitados. Ou seja, eles estarão, ao menos em parte, preparados para as sutilezas que definem a área médica atualmente, em que capacidades científicas incríveis esbarram em partes da natureza humana que não mudaram desde a Idade da Pedra.

Susan Cohen e Christine Cosgrove, duas experientes jornalistas médicas, sabem como contar uma história. Não poderiam ter escolhido melhor estudo de caso para uma alegoria da medicina moderna do que a história da altura infantil, um dos pontos de discussão interminável no qual saúde, beleza e fantasia se cruzam.

Foi logo após a Segunda Guerra Mundial que alguns hormônios básicos, descobertos décadas antes, foram transformados em drogas potentes. Primeiro, eles foram usados para corrigir deficiências de crianças doentes. Depois foram testados em crianças saudáveis. Então, nas palavras das autoras, foi um "Olá, glândulas!" - um vasto novo horizonte para a medicina comercial.

Quem foi a criança mais infeliz da sétima série? Foi o baixinho com seus jeans da quarta série? Foi a garota de 1,8 m, a girafa encurvada de sapatos baixos e listras horizontais? Talvez nenhum deles fosse particularmente infeliz. Mas pode apostar que nos consultórios pediátricos uma cena se desenrolava.

Qual altura a criança atingirá, perguntavam os pais. Até hoje, ninguém pode responder a essa pergunta básica com precisão. Quão infeliz seria a criança? Muitas opiniões, mas também nenhum dado concreto. O que poderia ser feito? Ah! Finalmente uma pergunta com respostas.

Para meninas, ao menos entre os anos 1950 e o início dos 1970, a principal opção para se evitar uma presumida catástrofe psicológica pelo crescimento excessivo era o DES, um estrogênio sintético administrado a meninas altas para apressar a puberdade e fechar as placas de crescimento dos ossos.

A despeito de preocupações de segurança no início, a droga foi usada indiscriminadamente até que uma clara relação com câncer fez com que o governo americano emitisse um alerta de segurança em 1971. Mesmo depois, alguns médicos continuaram a recomendá-lo, enquanto outros passaram a usar outras formas de estrogênio para o mesmo propósito. Na Austrália, um entusiasmado endocrinologista se tornou autoridade mundial em "controle de crescimento" e tratou mais de mil pacientes com DES.

Sabemos o bastante sobre estrógenos hoje para descartar a ideia de administrá-los ao longo de anos a garotas pré-pubescentes. Apesar de todos os perigos, o que realmente colocou fim à prática não foi uma análise médica de custo-benefício, mas uma mudança social - considere o Título IX, uma emenda de educação que teve grande impacto no atletismo escolar americano - que transformou meninas altas, antes consideradas párias, em supermodelos e estrelas do basquete. O baixinho não teve tanta sorte.

Ele ainda luta contra estereótipos e é alvo de prognósticos psicológicos terríveis (mesmo se sem provas); dezenas de milhares de meninos (e algumas meninas) nos Estados Unidos recebem injeções de hormônio do crescimento, uma secreção pituitária crucial para o complexo hormonal que controla a altura.

A história dos hormônios do crescimento contém algumas das mais dolorosas lições da saúde moderna. No início, eles eram meticulosamente coletados de cadáveres e seu pequeno estoque ficava reservado a crianças com falência pituitária. Mas, como sabemos agora, tecidos humanos produzem drogas perigosas e os receptores dos hormônios de cadáveres cresciam sob o fio da espada de uma condição neurológica chamada doença de Creutzfeldt-Jakob, transmitida por algumas daquelas injeções.

Mais tarde, em 1985, uma nova tecnologia inundou o mercado com hormônio do crescimento sintético, a salvo de contaminações infecciosas e produzido em quantidade suficiente para tratar não só aqueles com problemas pituitários, mas todos de baixa altura.

A súbita abundância veio acompanhada de questões difíceis. A definição de uma altura "normal" é nebulosa, enquanto a eficácia da droga é medida apenas em médias. Crianças tratadas crescem, em média, de 2,5 a 5 cm a mais do que o previsto - mas tais previsões são inexatas e o crescimento de cada criança desconhecido.

Psicologicamente, as crianças são mais beneficiadas pela possibilidade de centímetros extras do que prejudicadas pela noção de que são defeituosas, de que desapontam seus pais por falharem em seu "desempenho biológico"? Ser contra hormônios de crescimento para crianças é o mesmo que ser contra uma plástica de nariz, ou contra óculos?

Enquanto isso, o custo fica em torno de US$ 50 mil por polegada (2,54 cm) ganha, com ávidos fabricantes de drogas contentes ao combater seguradoras em nome de pais que podem ter sua própria definição de normal. Um pediatra exasperado, refletindo sobre se os resultados justificam os custos, sugeriu um ensaio clínico para resolver a questão: um grupo de meninos baixos receberia hormônio do crescimento e cada menino no outro grupo receberia US$ 100 mil. Quem seria mais saudável e feliz 20 anos depois?

Esse mesmo experimento pode ser adequado para outras áreas da medicina, quando se analisa criticamente nossos hábitos de gastos nesses tempos de introspecção orçamentária. "Normal at Any Cost" conta sua história com ritmo e fluência raros no jornalismo médico e, como a melhor literatura, também ilumina seu entorno.

* 'Tall Girls, Small Boys and The Medical Industry's Quest to Manipulate Height' ('Meninas altas, meninos baixos e a busca da indústria médica para manipular a altura', na tradução do inglês)
Autoria: Susan Cohen e Christine Cosgrove. Jeremy P. Tarcher/Penguin. 405 páginas. US$26.95.


The New York Times
 
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