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Crianças vitímas de bullying

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A história de Maria:


Maria, uma menina de 10 anos alegre, mas tímida, que adorava a escola. Era o segundo ano em que lá estava, tinha boas notas e destacava-se pelas redacções que fazia. A certa altura começou a chegar a casa tensa. Explodia à mais simples contrariedade e deixou de falar com a mesma espontaneidade do colégio, das amigas e dos demais colegas. Preocupada, a mãe percebeu que algo se passava, mas não conseguiu que Maria contasse logo à primeira.

Foi num dia de grande frustração que Maria desabafou. Contou que uma das suas colegas, curiosamente aquela com quem mais estava desde que entrou para aquela escola, começou a excluí-la. Fazia-o dizendo calúnias sobre ela às outras, levando a que nenhuma a convidasse para as suas festas ou mesmo para irem umas à casa das outras como às vezes faziam. Em princípio Maria não ligava, mas quando começou a ver-se isolada passou a reagir. A sua reacção só reforçava a sua imagem negativa perante as demais. Maria começou, então, pouco e pouco, a auto-isolar-se. A tristeza e a revolta eram demasiadas.

Haver conflitos entre crianças é normal.
Os conflitos são um motor de desenvolvimento e ajudam as crianças a crescer. O conflito sistemático, que intencionalmente magoa e exclui, por sua vez, não pode ser visto como normal.

Até agora acreditava-se que a intimidação, sobretudo no ambiente escolar, era um tipo de atitude tipicamente masculina. Os rapazes são mais directos e as suas acções mais visíveis: empurram, batem, provocam, deixam marcas (roupas rasgadas, nódoas negras, objectos partidos). “As raparigas são mais subtis, mais indirectas, menos visíveis, daí que se deduza que sejam menos agressivas, quando na realidade elas são igualmente provocadoras, só que utilizam uma forma diferente de agressão”, observa a psicóloga Sónia Seixas, da Escola Superior de Educação de Santarém, que estudou o tema a fundo para a sua tese de doutoramento. “As raparigas manipulam, excluem, espalham rumores, traem a confiança umas das outras, expõem segredos de uma amiga quando a amizade acabou ou está em perigo”, explica.

Sinais de alerta
Há meninas e adolescentes que passam anos sem que ninguém perceba que estão a ser vítimas de humilhações e intimidações. Esteja atenta a estes sinais:
• Tristeza
• Abatimento
• Isolamento
• Menos telefonemas e mensagens escritas
• Contactos sociais Reduzidos


Mas o que é que leva rapazes e raparigas a agirem de forma diferente? “Os rapazes dão valor à liderança, à força física, ao domínio sobre os colegas, às competências desportivas”, comenta a psicóloga. E continua: “O género feminino, por outro lado, valoriza a partilha, a intimidade, o estabelecimento de redes de amizade. Elas têm o que consideram amigas íntimas, enquanto eles têm uma rede de conta-ctos sociais muito alargada.”

Se a intenção é agredir e sistematicamente humilhar e magoar, o caminho é, então, minar justamente o que valorizam. Os rapazes fazem-no fisicamente, dominando, subjugando, para que, aos olhos dos colegas, sejam vistos como líderes. As raparigas atacam as redes sociais das colegas: difamam, afastam-nas dos seus amigos, espalham rumores, inclusivamente enviam mensagens anónimas (as novas tecnologias transformaram-se em excelentes armas). “Recorrem a tudo o que é mais indirecto e afectam a integração da vítima ao grupo. É aí que para elas dói mais”, salienta Sónia Seixas.

Os rapazes são os campeões em intimidação, seja directa ou indirecta. É no que acredita Margarida Gaspar de Matos, psicóloga que tem coordenado estudos nacionais sobre bullying e violência nas escolas. A especialista crê que as raparigas não são mais violentas do que os rapazes, mas concorda que elas realmente são capazes de excluir e marginalizar de forma indirecta, magoando e trazendo sofrimento para as suas vítimas.

As raízes dos comportamentos de ambos os géneros são culturais e ancestrais, e Margarida Gaspar de Matos transporta-nos para o tempo das “cavernas” para nos ajudar a perceber. Naquela altura, “o homem ia para a caça e tinha de ser rápido e agressivo para não morrer se fosse atacado pelo predador. A mulher ficava em casa a tomar conta das crianças. Quando estas choravam não era altura para as ‘mandar contra a parede da caverna’, mas sim para tentar empatizar, pôr-se ‘no lugar do outro’, para lidar com o problema”, refere a psicóloga. “O poder da mulher está na sua capacidade de comunicar. Vêem--se aqui raízes biológicas, mas também culturais, algumas com ‘valor de sobrevivência’. A perversão disso é a sua capacidade de manipular.”

Este tipo de comportamento intimidatório pode começar cedo, mas não propriamente sob a forma de bullying. “É muitas vezes uma forma de defesa e não uma estratégia concebida para intencionalmente magoar o outro”,declara Sónia Seixas. Esta intenção tende a surgir entre o primeiro e o segundo ciclos, sendo que o pico dá-se pelos 13 anos de idade. “Tem a ver com a entrada na adolescência. Nessa altura, os tais objectivos sociais são muito importantes porque há um afastamento do núcleo familiar e o jovem precisa de um grupo de pares para se sentir integrado, aceite, estimado”, sublinha a psicóloga.

Os pais devem intervir logo que identifiquem os sinais de alerta (ver caixa). Mas a sua actuação não deve ser directa. Devem mostrar-se abertos para ouvir o que a jovem tem a dizer e ajudá-la a sentir-se mais segura. Mas o recurso à escola e aos seus profissionais é fundamental, pois são os mais indicados para ajudar tanto a vítima como a agressora.

“Os professores têm de estar preparados para resolver os problemas quex acontecem no espaço escolar. Para chamar um psicólogo têm de ter a certeza de que essa violência não é situacional (má educação ou irritação, por exemplo), e sim clínica, o que é mais raro. “O silêncio é a maior arma dos agressores. A psicóloga acredita que falar sobre o fenómeno e identificá-lo tem sido fundamental para salvaguardar as vítimas. “O bullying (que é diferente de ‘indisciplina’) teve um pico entre 1998 e 2002 mas a boa notícia é que tem vindo a baixar.”

O que fazer?
Ferramentas que estão ao alcance de qualquer pai ou professor para ajudar:


• Estou cá para te ouvir. Mostre-se aberto para ouvir o que a sua filha tem a dizer. Antes de lhe dar conselhos, ouça-a

• Rir é o melhor remédio. Não demonstrar que se sofre com a agressão ajuda.Reagir com sentido de humor também

• Quem tem um amigo tem tudo. Ajude-a a investir em novas amizades, nem que seja fora do ambiente escolar. Isso irá trazer-lhe confiança. E se a amizade for no espaço escolar tanto melhor

• Brilha, brilha, estrelinha. Perceber os pontos fortes da rapariga e procurar meios para os destacar perante o grupo é um recurso importante

• Recreios activos. Estar integrada numa actividade na hora dos intervalos desencoraja predadores. Meter-se com a vítima causa transtornos a todo um grupo

• Um mundo de interesses. Uma actividade extracurricular pode ajudar a desenvolver novas competências e a criar uma nova rede de amizades

• Uma mãozinha amiga. Um trabalho específico para desenvolver competências como a assertividade e a capacidade de gerir conflitos com um mediador, um professor ou um psicólogo pode ser muito produtivo
 
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