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"O namorado da minha mãe."

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Como falar do namorado aos filhos? E quando o apresentar? Os especialistas asseguram que não há receitas, antes cuidados a ter na abordagem do tema. O resto é uma questão de bom senso.
Por Júlia Serrão

A presença de um homem na vida da mãe, que não é o pai, quando no imaginário dos filhos pequenos perdura muito além do divórcio o sonho de voltar a juntar os progenitores, pode ser perturbador para a criança.

Por isso, há que tranquilizá-la desde logo, “explicando-lhe que aquela pessoa não vai ocupar o lugar do pai, e ela vai poder continuar a ter a relação que tem com ele”, observa a psicóloga clínica Sara Almeida, sublinhando que este é um dos pontos fundamentais a deixar claro, “por palavras”. Mas esta não é a única questão que se coloca quando o assunto é o novo amor de uma divorciada com filhos.

Há outras. Nomeadamente, como e quando apresentar o namorado à criança, o que dizer-lhe quando este vai dormir lá em casa ou ela decide ficar uma noite ou um fim-de-semana fora na companhia desse novo amor.

Segundo a especialista, à partida, a mãe arranjar um namorado é bom para o desenvolvimento da criança. “Significa que esta mulher está com disponibilidade do ponto de vista emocional para investir numa outra relação e a criança também ganha com isso – quando as pessoas estão bem com a vida, as coisas são bem mais fáceis.” Agora é preciso ter cuidado. “A mãe tem de separar a sua intimidade enquanto mulher da sua <intimidade enquanto mãe”, diz, explicando que algumas mulheres têm dificuldades a este nível e acabam por envolver de mais as crianças nestas relações. Sendo normal – e desejável, de acordo com todos os manuais de Psicologia – que homens e mulheres procurem conhecer outras pessoas quando um casamento acaba e te­nham outras paixões, dita o “bom senso, não se trata de moralismo”, que só devam apresentar o novo namorado aos filhos pequenos quando o futuro dessa relação se anuncie mais seguro, defende Sara Almeida. “Isto porque as crianças ligam-se afectivamente a essas pessoas.”

Quando esta situação não é levada em conta, “vemos algumas crianças a repetir a experiência traumática da perda do pai pela separação nos inúmeros namorados que a mãe vai tendo”, observa.
Para os adolescentes, esta situação “também cria a ideia de que as relações dos adultos são ‘umas coisas’ muito voláteis e de curta duração”, observa a pedopsiquiatra Teresa Goldschmidt, defendendo o mesmo princípio de “envolvimento dos filhos nos relacionamentos afectivos da mãe” num contexto em que a relação já tem alguma consistência.


E como é que a mãe pode falar do namorado ao filho, apresentá-lo quando chega o momento ideal? Ao bom senso misturamos agora simplicidade. “A mãe deve informar a criança que tem um namorado, não tem de lhe pedir autorização para namorar nem tem de perguntar-lhe se gosta ou não da pessoa em causa”, diz Sara Almeida, explicando que hoje as mães vivem tão preocupadas com o bem-estar dos filhos que caem frequentemente nesta “armadilha”.

Com a mesma naturalidade, deve dizer à criança que o namorado dorme lá em casa, ou ela vai ficar com ele, porque é suposto isto acontecer entre pessoas que gostam uma da outra e têm uma relação.
“E quando diz que o namorado vai dormir lá em casa, a sexualidade fica dita sem entrar em pormenores. De qualquer forma, até aos quatro, cinco anos, os meninos têm uma ideia da sexualidade associada à intimidade da mãe, não é uma ideia viva da mesma.” É normal que as crianças mais velhas, sensivelmente a partir dos sete anos, possam colocar algumas questões na sequências destes acontecimentos, mas a estratégia deve ser a mesma: não explicar demasiado.

“Desta forma, também não passa para a criança poder ter um efeito sobre esta relação, protege-a se a coisa correr mal. Não lhe cria a ilusão de omnipotência, que está ao nível da mãe, e evita que possa existir alguma tentativa de manipulação da relação.”

Sara Almeida defende que não se deve dizer de mais. “Hoje vemos muitas mais mães a sofrer do excesso de informação que deram do que da pouca informação.” Por isso, a mensagem deve ser muito clara e concisa, “com duas grandes linhas: uma, a informar que existe outra pessoa que é o namorado; a outra, que este não vai ocupar o lugar do pai”. Se a criança souber que o namorado da mãe não está a competir com o progenitor, também vai ser menos provocadora.

A entrada de uma terceira pessoa na vida da mãe pode complicar-se mais em duas situações concretas, prossegue. Quando a mãe continua a ter uma relação de amizade com o pai, após o divórcio, e em que ele “por vezes até dorme lá em casa – e, em alguns casos, até tem uma relação esporádica com a mãe”. E quando, após a separação, a mãe cultivou uma ligação excessiva com a criança, que às vezes até dorme com ela, para colmatar uma carência. No primeiro caso, porque a criança alimentou ainda mais ilusões de voltar a juntar os pais, que é algo que já está naturalmente muito presente, não vai aceitar esta terceira pessoa. No segundo, “porque criou a ilusão de ser única na vida daquela mãe, vai sentir-se profundamente fragilizada” e ameaçada pela presença daquele namorado, e reagir de forma negativa. Nestas situações, no limite, podem apresentar “problemas de comportamento e mostrar tristeza e abatimento que são sinais muito comuns de depressão”.

Com os adolescentes e pré-adolescentes, este processo não é muito diferente. A aceitação do namorado da mãe depende “da forma como foi preservado ou não o lugar da criança enquanto filho e não elevado à categoria de companheiro da mãe”, observa a pedopsiquiatra Teresa Gold­-
s­chmidt. Quando após a separação dos pais, o filho passa a ser “elemento companheiro da mãe e, portanto, passa a ocupar o lugar do pai à mesa e a dormir na cama da mãe, dificulta muito a entrada de outra pessoa, em qualquer que seja a sua idade”.

De acordo com a pedopsiquiatra, nesta faixa etária só há mesmo que ter em conta algumas especificidades que lhe estão inerentes e isso deve ser considerado quando se faz “a introdução” do namorado da mãe na casa da família. “Os adolescentes precisam muito mais do seu próprio espaço e este é um espaço que deve ser muito mais respeitado por alguém que vem de fora e que vem ao encontro de um jovem que está em crescimento, que tem alguns conflitos próprios da adolescência e que precisa da sua privacidade”, explica, acrescentando que será desejável que o novo compa-nheiro da mãe “não venha a ser englobado e integrado nestes conflitos”. O que não significa que, “sendo uma pessoa adulta que está lá em casa, deva estar alheada de tudo o que seja problemáticas relacionais”. Pelo contrário, até é desejável que esteja, “porque isso faz parte da dinâmica das relações familiares”.

Mas, antes disso, há outras etapas a percorrer. Segundo Teresa Gold­schmidt, é importante que os filhos conheçam a pessoa com quem a mãe iniciou uma relação em contextos sociais, “e depois, que lhe seja dado algum tempo antes de ela ir viver lá para casa”. Os filhos, diz, “não têm de se apaixonar pelos companheiros dos pais, quem está apaixonado são estes. Por isso, deverá ser aceite que a criança ou o jovem estabeleçam uma relação cordial com estes, que numa primeira fase não tem de ser necessariamente de grande proximidade”. A deste tipo tem de ser cultivada. Estabelece-se com o tempo.


Gerir a mudança,
preparando o futuro


Teresa Goldschmidt deixa alguns conselhos neste sentido:
Quando uma pessoa se divorcia, é natural que esteja fragilizada. No entanto, deve conseguir manter a autonomia e não utilizar os filhos como bengala emocional
Quando isso acontece, a mãe não deixa os filhos libertos para viver a infância e adolescência. E está a conferir-lhe um poder que tem de ser reduzido quando entra outra figura adulta na família
O adulto deve ter consciência que vai entrar numa casa com determinadas regras de funcionamento
 
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