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Quando é necessário os pais afastarem-se

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Despedidas difíceis


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Quando é necessário os pais afastarem-se, nem que seja por breves momentos, a criança fica muito perturbada e parece não conseguir gerir o adeus. Chama-se a isto ansiedade de separação.




Acontece geralmente a partir dos 6-8 meses de idade e dura até cerca dos 3 anos. Por vezes, esta fase pode prolongar-se quando houve um episódio traumático de separação. Quando não assume contornos exagerados ou até patológicos, a ansiedade da separação é uma forma de a criança se agarrar ao que sente como seguro, num mundo que a ameaça, passando logo que cresça e se aperceba que não precisa de andar «com o credo na boca», porque o mundo, afinal, é um lugar bastante tranquilo.



É depois dos 6 meses que o bebé percebe que existe, independentemente das outras pessoas e do mundo. E também que existem objectos e coisas, e que o colo dos pais e a sua presença corresponde a segurança. Sente fome? A mãe tratará disso. Precisa de mudar a fralda? Tem o pai presente. Quando se sente mal ou tem dores, o bebé sabe que chorando alguém virá – os pais ou os cuidadores mais próximos. Tudo o que precisa para se sentir bem vem «daquela» fonte: essencialmente os progenitores.



É por isso que a partida dos pais, mesmo que seja por pouco tempo (e para um bebé desta idade não há nem muito nem pouco tempo, há apenas «tempo»), pode deixar a questão, angustiante: «E agora? Quem é que vai cuidar de mim?». Convenhamos que é um assunto demasiadamente forte e perturbador para não causar ansiedade. É nessa idade que algumas crianças começam a sentir ansiedade quando vão para a cama ou quando os pais saem da sala (claro está que muitos manipulam esta situação e «chantageiam» emocionalmente os pais, mas o que está na base é o medo de ficar só e abandonado).



À medida que as situações de separação se vão tornando habituais e que o bebé entende que as coisas que necessita não lhe vão faltar e que outras pessoas são também capazes de tratar dele, bem como o facto de saber que os pais acabam por regressar, a ansiedade começa a diminuir porque a certeza de que «tudo está bem» ajuda a securizar os seus sentimentos e a sentir-se bem.



De qualquer modo, se houve uma experiência traumática, em que as necessidades da criança não foram adequadamente providas (mesmo que apenas na perspectiva do bebé) ou que ela sentiu que os pais tinham ido embora «definitivamente», então poderá prolongar-se o período de ansiedade por mais anos. É por isso que é essencial os pais (sobretudo as mães...) darem aos filhos alguma autonomia e deixarem-nos adquirir essa autonomia, num processo lento mas gradual. Nem oito nem oitenta. Nem separarem-se dos bebés sem ter o cuidado de entenderem o que eles vão pensar do assunto, nem serem pais galinhas, sufocantes, que criam à volta da criança a ideia de que o mundo é agressivo ou mau.



O bebé tem que ter as suas próprias armas, gerir os seus próprios medos e vencer o seu próprio stresse. Fazer deste processo uma evolução tranquila mas activa é um desafio difícil mas possível, estimulante, e que os pais terão que perceber, estudando as reacções da criança, mas enquadrando-as no contexto e, também, na sua (deles, pais) maneira de ser.



Entre as situações que podem causar ansiedade, encontram-se:

• ir para a cama

• os pais saírem da sala

• a mãe ir para a maternidade

• a criança ter que ser hospitalizada

• os pais saírem à noite

• os primeiros dias no infantário



Então, o que fazer?



Todas as crianças terão que saber lidar com a separação. Faz parte da aprendizagem da vida e de como lidar com as adversidades. Se as primeiras situações não causaram reacções violentas ou traumáticas, é bom sinal e podem ir experimentando-se situações mais extensas no tempo. Outro ponto fundamental é ter a certeza de que a pessoa que fica com o bebé sabe responder às suas necessidades e que também compreende a ansiedade. Caso contrário, poderá não entender o choro da criança e até irritar-se, o que aumentará a angústia e o mal-estar.



Nas crianças mais velhas (dois, três anos), já se pode (e deve) explicar o que vai acontecer, mas sem prolongar o tempo de despedida (para não se tornar numa verdadeira agonia) nem dar à criança a ideia de que se está a tentar a sua anuência. Se os pais decidiram, está decidido e o filho terá que aceitar essa situação – sobretudo compreender que os pais nunca, jamais, em tempo algum, o deixariam à mercê de qualquer pessoa ou abandonado.



Um dos momentos trágicos é a despedida. Não se pode prolongar demasiado, mas há que durar o suficiente para se dizer «adeus», explicitamente. Isto induz confiança, podem crer. Escapulir sem dizer nada pode criar sentimentos de desconfiança e de incerteza. Se os pais têm que se ir embora devem fazê-lo «honestamente». Claro que isto não quer dizer estar horas com beijinhos e miminhos, a prolongar a situação de despedida. Ou, como já vi pessoas a fazer, a prometer coisas e mais coisas para a criança ficar com uma babysitter, por exemplo, numa escalada e upgrading de promessas que, como dizia um amigo meu, «vai acabar de certeza num cartão de crédito de saldo ilimitado e um Ferrari à porta».



É bom expressar os sentimentos: «sei que gostavas que nós ficássemos e nós também gostávamos de ficar, mas não podemos», e deixar a situação o mais organizada possível (banho, alimentação, etc). É também muito importante cumprir o prometido: se disserem «eu depois telefono», convém telefonar (sem exageros, não é preciso ser de 5 em 5 minutos). E, igualmente, tentar dar uma ideia de quando se voltarão a ver («depois de dormires» ou «logo depois de veres os desenhos animados», etc).



Acostumar as crianças a jogos de separação – esconder atrás da fralda, sair da sala e entrar, etc –, podem ajudar a «trabalhar» a auto-confiança e os sentimentos securizadores. Algumas histórias infantis têm elementos de separação mas há que ter cuidado para que terminem bem e os heróis não fiquem sozinhos para sempre.



Fonte:Revista Pais&Filhos
 
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