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Alexandra: Rússia admite retirar a guarda à mãe biológica

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RoterTeufel

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Alexandra: Rússia admite retirar a guarda à mãe biológica
“Quero levá-la para a Ucrânia”

O pai biológico de Alexandra, a menina de seis anos retirada a uma família portuguesa pelo Tribunal da Relação de Guimarães e entregue à mãe, está disposto a assumir as suas responsabilidades e ficar com ‘Xaninha’.

O imigrante ucraniano Gueorgui Tsiklauri, que vive no Porto e trabalha na construção civil, reagia assim à possibilidade de as autoridades russas retirarem a menor da casa de Natália Zarubina, depois de admitirem que a mãe biológica tem problemas com álcool.

Em declarações ao CM, Gueorgui confessa até que quer regressar à Ucrânia. “Por causa da criança, talvez vá para a Ucrânia. Quero levá-la e vou trabalhar como engenheiro mecânico numa cidade grande no Leste, de onde sou natural”, conta o imigrante que ainda não decidiu se ‘Xaninha’ vai voltar a visitar os pais afectivos de Barcelos, por entender ser agora capaz de a sustentar.

“Moro num apartamento sozinho e acho que tenho condições para a receber”, conclui.

A probabilidade de a menina regressar a Portugal para o casal de acolhimento é cada vez mais escassa, segundo as intervenções que vão sendo conhecidas das autoridades russas.

De acordo com o chefe da Comissão para Protecção de Menores do concelho de Pervomaisk, onde se encontra a vila de Pretchistoe, Alexandra é cidadã da Rússia. “A nossa tarefa é que ela fique no país”, declarou ontem Iúri Kudriavstsev, referindo até que a menina “já se esqueceu dos pais de acolhimento”. “Será melhor para a criança se ela for adoptada por uma família russa.”

O responsável adianta que as autoridades russas estão à procura do pai biológico, mas alerta, desde já, para o facto de que tem informações de que Gueorgui Tsiklauri “não é seguro”.

DIPLOMACIA AJUDA

Especialistas garantem que a via diplomática é a única forma de a criança regressar a Portugal. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, já ofereceu apoio para a resolução do problema.

“Será feito tudo o que a diplomacia portuguesa puder fazer para resolver um problema que tem uma forte dimensão humanitária”, afirmou ontem o ministro português. Já a Justiça portuguesa, que tem sido alvo de críticas por parte das autoridades russas, permanece em silêncio. “Natália esteve oito anos em Portugal e vocês não viram o estado em que ela estava?”, criticou Kudriavstsev.

Contactados pelo CM, o presidente da Associação Sindical dos Juízes Portugueses, António Martins, o juiz do Tribunal da Relação de Guimarães que decretou a entrega à mãe biológica, Gouveia de Barros, e o embaixador russo em Portugal, Pavel Petrovskiv, não comentaram os últimos desenvolvimentos.

'ESTOU CONFIANTE NO BOM SENSO DA JUSTIÇA RUSSA'

Os pais afectivos de ‘Xaninha’, João e Florinda Pinheiro, têm acompanhado pela Comunicação Social o caso da eventual retirada da guarda da menina russa à mãe biológica. 'Vamos começar a trabalhar a nível de diplomacia para que se entregue a menina a quem esteve com ela desde que nasceu. E acabava a história!', revelou ao CM João Pinheiro.

O casal de Barcelos, que acolheu Alexandra quando tinha 19 meses, admite estar 'triste e alegre' com a situação. 'É melhor do que estar naquela casa com toda a gente bêbeda. Mas estou confiante no bom senso da Justiça russa', disse o pai afectivo.

Para isso, João Pinheiro apela ao pai biológico de ‘Xaninha’. 'Devia intervir um pouco, porque se ela for para um orfanato russo ele também nunca mais a vê', defende.

Se conseguir trazer a menina para Portugal, o empresário responsabiliza-se por arranjar emprego para os pais biológicos. 'Ajudo o Gueorgui e que traga a Natália também que eu tenho todo o gosto em ajudar aquela mulher', diz.

CRONOLOGIA

03.04.2003

Alexandra nasce no Hospital de S. Marcos, em Braga. É filha de Natália Zarubina e do imigrante ucraniano Gueorgui Tsiklauri.

05.11.2004

Criança é entregue pela própria mãe ao casal de Barcelos, João e Florinda Pinheiro, o qual a cria durante quatro anos e meio.

24.04.2008

Acórdão da Relação de Guimarães determina a entrega da criança à mãe biológica. Já se sabia que a mãe tinha problemas com o álcool.

20.05.2009

Natália parte para a Rússia na companhia de Natália Zarubina. Embaixada da Federação russa congratula-se com a decisão.

25.05.2009

Televisão russa NTV divulga imagens de Natália a dar quatro violentos açoites à criança e a empurrá--la. As imagens chocaram o País.

27.05.2009

Família afectiva tenta viajar para a Rússia, mas a embaixada em Lisboa não lhe concede visto. Sucedem-se manifestações de apoio.

28.05.2009

Juiz do Tribunal de Guimarães, Gouveia de Barros, que determinou a entrega da criança à mãe, diz-se incomodado com as agressões.

27.10.2009

Polícia russa confirma situações de embriaguez de Natália Zarubina. Autoridades russas falam na possibilidade de retirarem a criança.

DISCURSO DIRECTO

“SEGURANÇA SOCIAL DEVE AJUDAR PAI BIOLÓGICO”, Dulce Rocha, presidente-executiva do Instituto de Apoio à Criança

Correio da Manhã – Qual a solução para este caso?

Dulce Rocha – A solução não é clara. Ainda não há certezas de como vai evoluir a decisão na Rússia. Há a hipótese de a criança ser retirada à mãe biológica, provando-se os problemas da mãe com o álcool. O pai biológico tem um papel muito importante. Ele está em Portugal e há a esperança que Alexandra possa regressar ao nosso país. Para isso, o pai tem de assumir alguma responsabilidade. Mesmo sem as condições ideais pode sempre ser auxiliado pela família que educou Alexandra. Segurança Social deve ajudá-lo a responsabilizar-se pela criança.

– Se as autoridades russas retirarem Alexandra à mãe biológica, a justiça portuguesa fica manchada?

– É melhor olhar em frente. Não é eticamente correcto comentar as decisões tomadas, mesmo já tendo transitado em julgado. Importa retirar de todo este processo que temos de ser mais humildes nas nossas decisões. Aceitar as opiniões de outras pessoas envolvidas no processo e encontrar o que é melhor para a criança. Tem de existir uma especialização dos magistrados e das assistentes sociais que trabalham com as crianças. Se pedimos um parecer a um psicólogo ou um pedo-psiquiatra, é importante que a nossa decisão tenha isso em conta. Não podemos fazer experiências com crianças. É bom dar oportunidades a uma mãe para tomar conta da filha, mas temos de garantir que essa decisão é reversível caso se comprove que o processo de integração não deu certo.

– O pai diz querer regressar à Ucrânia com a Alexandra...

– O pai nunca rejeitou a paternidade da criança. Ele confiou na capacidade da mãe biológica, com os tribunais também confiaram. Hoje há mais elementos para tomar decisões. As negociações, no entanto, devem acautelar que o pai pretende ficar em Portugal durante algum tempo para bem da estabilidade emocional da Alexandra. É o superior interesse dela que está em causa e é isso que deve ser acautelado. A estabilidade emocional que lhe foi passada pela família de acolhimento vai ter consequências no seu bom desenvolvimento. As rupturas também, mas de uma forma negativa.

MÃE E PADRASTO ENTREGUES AO ÁLCOOL

A visita de jornalistas tinha sido previamente combinada com Natália Zarubina, mãe biológica de Alexandra. Mas nem nesse dia ela se esforçou por apresentar um ar sóbrio. O primeiro contacto telefónico, realizado antes do meio-dia, já denunciava o estado de embriaguez e a entrada na casa de madeira da família Zarubina confirmou as suspeitas. 'Bom dia, quem são essas pessoas que o acompanham?', perguntou Natália várias vezes depois de lhe terem sido apresentadas, também várias vezes, as pessoas presentes. Seguiu-se uma longa conversa, durante a qual Natália relatou a vida difícil que leva na vila de Pretchistoe e os problemas que enfrenta com o seu noivo, Alexei, regressado de Portugal. Não pode trabalhar na Rússia sem autorização, pois é ucraniano, e passa os dias a realizar tarefas caseiras ou a fazer companhia a Natália no vício do álcool. O rosto de Alexei estava coberto de pisaduras e feridas, que os vizinhos atribuem a Natália.

As autoridades civis e policiais de Pretchistoe ainda tentaram convencer de que tudo 'estava bem', mas o comportamento de Natália mostrava o contrário e elas rapidamente mudaram de discurso.

De regresso a casa de Natália, os jornalistas são mal recebidos pela avó de Alexandra, Olga Zarubina. 'Que vêm aqui fazer? Que querem de nós? Vão-se embora! Deixem-nos em paz!', grita. Natália tenta evitar a nossa saída, mas não se consegue levantar de um sofá que se encontra na cozinha. A menina chora junto da mãe.


Fonte Correio da Manhã
 
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