• Olá Visitante, se gosta do forum e pretende contribuir com um donativo para auxiliar nos encargos financeiros inerentes ao alojamento desta plataforma, pode encontrar mais informações sobre os várias formas disponíveis para o fazer no seguinte tópico: leia mais... O seu contributo é importante! Obrigado.

Prematuro

maioritelia

Sub-Administrador
Team GForum
Entrou
Ago 1, 2008
Mensagens
8,309
Gostos Recebidos
160
24 de Abril de 2008. Um dia que Cristina Ferreira recorda emocionada. A partir dali, tudo passou a ser diferente. Provas duras para uma jovem de 27 anos, mãe pela primeira vez. Nuno, o seu companheiro não chora perante a presença da jornalista mas deixa escapar o olhar humedecido e sensibilizado quando fala do pequeno António. Juntos passaram pela prova da sobrevivência perante um nascimento (demasiado) prematuro.

TEXTO: Cláudia Pinto


Cristina e Nuno esperavam o primeiro filho. Tudo decorria normalmente apesar da futura mãe ter passado por uma situação de descolamento da placenta entre as 11 e as 17 semanas. Passadas as seis semanas que a obrigaram a um repouso absoluto, o primo de Cristina veio a Portugal ao fim de 14 anos. Os projectos eram muitos. Iriam aproveitar para passear e para matar saudades. Durante a sua estada, optaram por ir ao Oceanário. “Nesse dia, já tinha contracções mas como estava de 24 semanas, ou seja, no 5º mês de gravidez, achei que eram cólicas”, confessa Cristina. Ligou ao seu médico mas não conseguiu falar com ele. No dia seguinte, rebentaram as águas. “Estava em casa com o Nuno a ver um filme até que senti uma forte dor e achei que era melhor irmos ao hospital. Não pensei que fosse um problema tão grave e foi com muita calma que me preparei para sair. Fomos para o Hospital de Cascais e como já estava em trabalho de parto, mandaram-me de ambulância para o Hospital de São Francisco Xavier por ser uma gravidez de risco e porque não havia vaga na Maternidade Dr. Alfredo da Costa.


Nascimento antes de tempo
Cristina estava com uma infecção que originou o rompimento da membrana da bolsa. “Eu estava a fazer um tratamento para essa infecção que foi detectada nas últimas análises que havia realizado. Tinha algum corrimento e achava que era um efeito secundário mas afinal era o rolhão mucoso. Com tão pouco tempo, nunca me passou pela cabeça que já pudesse estar em trabalho de parto”, confessa.

O parto do pequeno António foi natural, sem qualquer anestesia, muito rápido e Cristina ouviu desde o primeiro momento várias opiniões de especialistas que lhe deram indicações que não valeria a pena ter esperanças porque era pouco provável que o bebé “vingasse” com tão pouco tempo de gestação. “Eu e o Nuno estávamos mentalizados para o pior mas sempre tivemos a esperança de que ele iria ter forças para viver”, diz-nos Cristina.

No dia seguinte, esta mãe corajosa teve que se submeter a uma cortagem porque tinha restos de placenta. O marido Nuno estava muito apreensivo desde o início porque não tinha notícias do que se passava. Andava de um lado para o outro nas urgências a tentar saber como estava Cristina. Não tem qualquer vergonha de confessar que, naquele preciso momento, sentiu medo. “Em simultâneo, senti medo do bebé não sobreviver pois tinham-nos informado de que havia 90% de hipóteses dele não nascer com vida. No entanto, as minhas preocupações prendiam-se com o estado da mãe. Tinha receio que lhe acontecesse alguma coisa. Ao dizerem-me que a maior probabilidade seria dele não nascer com vida, o centro da minha atenção estava na mãe e em como é que ela iria sair daquela situação.”


Mistura de sentimentos e emoções
“Quando o António nasceu, foi um libertar de stress e de emoções e quando o vi pela primeira vez, foi uma sensação fenomenal”, diz Nuno. Passados 17 meses deste dia marcante, Cristina confessa que tentou recalcar muitos dos problemas e das dificuldades por que passou. “Tento não me recordar muito da fase inicial. Foi um turbilhão de sentimentos. Por outro lado, foram tantos os momentos de sucesso que alcançámos e tantos os progressos do António que não me quero lembrar das piores fases.”

Cristina correu risco de vida mas nunca ficou em pânico porque não se sentia em perigo. Tentou manter a calma e a tranquilidade que caracterizam a sua personalidade.

Esta gravidez, apesar de não ter sido planeada, “foi muito desejada”. Nuno sempre quis ser pai – o verdadeiro sonho da sua vida – mas como explica Cristina, “planeávamos um filho mas não tão cedo porque eu ainda não tinha acabado o curso e o Nuno era o único que estava a trabalhar. Esta situação ainda se mantém pela necessidade de tomar conta do António 24 horas por dia e dele precisar do meu apoio. Era um filho desejado mas vivíamos em casas separadas. O facto de engravidar acelerou todo o processo e criámos condições para passarmos a viver juntos e criarmos o nosso filho”, explica.

O desejo do pai era tão especial que, nos primeiros dias, não aceitava bem o apoio dos amigos nem os sucessivos parabéns que recebia. Afinal, acabara de ser pai. “Todos os meus amigos queriam visitar-nos no hospital. No entanto, o facto de saber que a probabilidade do bebé nascer sem vida era tão acentuada que me fez viver aquelas horas de forma apreensiva. Não era aquele o momento que qualquer pai imagina. Tudo o que eu mais queria na vida era ser pai de um menino. Muito embora as circunstâncias, os meus amigos foram todos ter comigo e deram-me todo o apoio possível”, diz-nos Nuno. Confessa ainda que nunca se revoltou com a situação porque o nascimento prematuro do filho não teve como causa qualquer erro médico ou negligência. “A situação não era controlável e podia acontecer a qualquer grávida”, explica. O nome de António foi escolhido em homenagem ao seu pai, a pessoa mais importante da sua vida, já falecido há 13 anos.

sapo.
 
Topo