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Sanidade e Loucura

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O conceito de sanidade é pouco pesquisado. Há tratados sobre a loucura. Há grandes personagens loucos como o rei Lear em Shakespeare, mas personagens sãos não obtêm destaque, nem aparecem em poemas, títulos de obras ou até mesmo em piadas. Nossa cultura teme a loucura e nutre por ela um surdo fascínio, colocando-a como prerrogativa dos artistas em sua exuberante criatividade.

Louco Para Ser Normal é o novo livro do psicanalista inglês Adam Phillips, editado pela Zahar, que de forma clara e original nos mostra quão delicado é o equilíbrio entre sanidade e loucura e da necessidade de definições mais adequadas à modernidade. Trabalhando com conceitos históricos e literários, busca na psiquiatria de R. Laing, Melanie Klein e D. Winnicott e na biologia de R. Dawkins, alguns parâmetros e comparações para depois adentrar na ficção de Shakespeare e Geoge Orwell.

Phillips aproxima a loucura do nosso cotidiano através do exame da vida inicial dos bebês, da crise da adolescência, nas características do desejo sexual e na relação com o dinheiro, apresentando notas sobre a definição de sanidade. Através de três diagnósticos psiquiátricos: o encapsulamento no autismo infantil, a esquizofrenia e a questão da vitalidade e da auto-estima na depressão, faz paralelos e comparações entre os dois conceitos.

Podemos então refletir sobre a loucura como confusão, agressividade ou frustração demais, como desenvolvimento defeituoso, como espera insuportável e como falta de esperança. A sanidade, podemos pensá-la como violação de tabus, como consciência tolerável de nossos limites, como vitalidade preservada, como fé e até como sorte por ter nascido com quantidades certas de emoções para não odiar o desejo nem nosso corpo, nem o querer.

No capítulo sobre o dinheiro, passeia pelos estragos produzidos pela cultura ao estabelecer como amá-lo e como este amor nos leva para longe dos valores que prezamos.

Ao final, propõe a sanidade como capacidade de suportar as tensões das experiências, nas diferentes escolhas que fazemos, no reconhecimento das implicações éticas dos atos, na consideração dos efeitos devastadores da humilhação e sobre a importância da esperança.

Com arte, profundidade e graça, Phillips surpreende pelas provocações que faz ao nosso pensar, aquilo que tomamos como certo em nosso saber. A surpresa e o inédito, fonte de tantas ameaças às posições cristalizadas encontra neste novo volume um grande aliado.

Artigo produzido pela doutora Denise M. Molino
 
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