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“Morreram diante dos meus olhos” (COM VÍDEO)

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RoterTeufel

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Valongo: Cinco trabalhadores perderam ontem a vida em acidente na A4
“Morreram diante dos meus olhos” (COM VÍDEO)


Era uma manhã igual a tantas outras. Fernando Barros, de 40 anos, pegou na carrinha da empresa, pelas 06h00, apanhou o irmão Manuel António na casa em frente à sua em Soalhães, Marco de Canaveses, e foi buscar os seis colegas. Juntos partiram em direcção ao Porto, onde os esperava mais um dia de trabalho.

Os oito trabalhadores da construção civil, que seguiam numa carrinha Peugeot de sete lugares, nunca chegaram ao destino. Uma hora depois, na A4, alguns metros depois da saída para Valongo, o condutor não se apercebeu de um camião avariado no lado direito da faixa de rodagem e embateu bruscamente no pesado. Fernando sobreviveu, mas o irmão, de 39 anos, e os colegas, André Queirós, de 27, Leonel de Sousa, de 25, Carlos Alexandrino, de 32, e Abílio Rocha, de 31, faleceram ainda no local. Os outros dois passageiros, António Pereira, de 56 anos, e Paulo Romeu, de 40, ficaram feridos.

'O Fernando apercebeu-se do camião já tarde, tentou desviar-se a todo o custo, mas não houve hipótese. Com o embate fui projectado alguns metros pela janela da carrinha. Quando me levantei vi os meus colegas cheios de sangue e percebi que era muito grave', contou ao CM António Pereira, bastante abalado.

Em pânico, António suplicou ao primeiro condutor que passou no local que parasse e a chorar pediu que ajudasse os colegas. 'Passou um carro e eu pedi logo que ajudassem os meus amigos porque eles estavam a sofrer muito. Foram momentos aterradores. Cada vez que fecho os olhos as imagens vêm-me à cabeça, eles morreram diante dos meus olhos', disse.

À chegada dos bombeiros as cinco vítimas ainda respiravam. António ainda tentou ajudá-los a sair da carrinha mas nada havia a fazer. Minutos depois, ainda no local, os trabalhares morreram. 'Perdi cinco amigos no acidente, eram pessoas excepcionais, eram quase como uma segunda família', contou António.

Grande parte dos trabalhadores trabalhava na empresa Batimentos, propriedade de um tio de André e de uma irmã de Leonel, há mais de dez anos. 'Combinavam jantares e passavam muito tempo juntos, eram todos muito próximos', contou Elisabete, tia de André.

O CM tentou falar com uma das proprietárias da empresa, mas esta mostrou-se muito abalada com o acidente. 'Estou de rastos. Perdi o meu irmão [Leonel] e o meu sobrinho [André]', disse. Segundo familiares das vítimas era já habitual os oito trabalhadores seguirem numa carrinha de sete lugares.

SOCORRO

'VÍTIMAS AINDA RESPIRAVAM'

Após o embate as corporações de bombeiros de Ermesinde e Valongo foram de imediato chamadas ao local para socorrer as vítimas. 'Quando chegámos os trabalhadores ainda respiravam, mas depois entraram em paragem cardiorrespiratória', explicou Gilberto Gonçalves, adjunto do Comando de Valongo.

ESTRADA CORTADA DURANTE QUATRO HORAS

Após o acidente, a A4, no sentido Porto-Amarante, esteve cortada durante mais de quatro horas. 'A auto-estrada esteve cortada até que a carrinha e o pesado fossem removidos. Ainda não sabemos ao certo o que provocou o acidente. Haverá uma investigação', disse ao CM o tenente Silva Lopes, da Unidade de Trânsito da GNR.

ESTIVERAM TODOS JUNTOS NO NATAL

Os operários que trabalhavam para a empresa Batimentos não eram apenas colegas de trabalho. Eram amigos e viviam em freguesias vizinhas no concelho de Marco de Canaveses. No jantar de Natal, organizado pela empresa, apenas faltou André Queirós. O jovem de 27 anos, que perdeu ontem a vida, não pôde estar presente porque tinha de actuar num concerto, com a banda que liderava - os Ritmo Douro.

Já havia vários anos que este grupo de homens trabalhava junto em obras de construção civil. Ano após ano, a equipa de operários era sempre a mesma. Este não terá sido o único convívio entre o grupo de trabalhadores. Os homens também organizavam almoços nas habitações de cada um. As mortes deixaram enlutado o concelho de Marco de Canaveses.

FAMÍLIAS CHORAM MORTE DOS CINCO TRABALHADORES

O olhar triste dos dois filhos de António Barros, que perdeu a vida no acidente, espelhavam ontem a dor que se fazia sentir um pouco por todas as famílias dos trabalhadores, moradoras no Marco de Canaveses. Sentada numa cadeira na cozinha, Natércia Monteiro, esposa da vítima, chorava compulsivamente e recordava com saudade o marido que partiu. ' Sempre trabalhou na construção civil para nos sustentar. Era um homem muito bom que só pensava em dar-nos uma vida melhor. Perdi o meu marido e não sei o que vou fazer com os meus dois filhos', dizia a mulher, enquanto os filhos, uma menina de 17 anos e um rapaz de 13, choravam a morte do pai.

O irmão de Manuel António, Fernando, conduzia a carrinha e saiu do acidente apenas com algumas escoriações. Nunca irá esquecer a morte do irmão, que seguia ao lado, no banco do pendura.

Em Maureles, na família de Abílio Sousa Rocha, de 31 anos, as lágrimas também não paravam de correr. 'Soubemos pela televisão do acidente e desconfiamos, mas ninguém nos confirmou nada até às 11h00, quando um amigo ligou para cá', explicou ao CM um familiar.

No final da manhã, a mulher e o genro do homem deslocaram-se ao Porto, ainda na esperança de o ver vivo. Abílio era natural de Vila Cova, em Penafiel, mas casou na freguesia de Maureles, onde deixa dois meninos de três e seis anos órfãos. 'Ele só pensava no trabalho. Eram sábados e domingos que passava a trabalhar na casa familiar. O gosto dele era remodelar a habitação para a mulher e os filhos. Agora tudo vai parar', explicou ao CM o mesmo familiar.

Em Tabuado, na casa de Carlos Alexandrino, que vivia com a companheira há quatro anos, a família juntou-se para chorar a morte de mais um trabalhador. A companheira não aguentou a dor quando lhe foi dada a triste notícia e foi procurar refúgio em casa da mãe, na freguesia vizinha de Gouveia. Estava em choque.

Uns quilómetros abaixo, em Paços de Gaiolo, os pais e a esposa de Leonel, irmã da mulher de André, ainda não conseguiam acreditar na tragédia que vitimou o jovem de 25 anos. Casado há apenas meio ano, o casal planeava ter um filho em breve. Ontem, os sonhos de Leonel e das restantes vítimas perderam--se para sempre.

FOI A CASA DESPEDIR-SE DO FILHO

José olha o álbum de casamento do filho André e não consegue conter as lágrimas. O filho morreu há algumas horas, mas o homem já sente uma enorme saudade. As lágrimas caem-lhe pelo rosto quando relembra a última vez que o viu.

José, que estava a trabalhar na Holanda, voltou a casa anteontem antes de partir para a Alemanha. Sentia que o filho não estava bem e queria despedir-se dele. 'Antes de ir para a Holanda não consegui ver o meu filho. Por isso, decidi voltar e à noite estive com ele. Mal eu sabia que era a última vez que via o meu menino', conseguiu apenas dizer no meio de um choro compulsivo.

André, casado há cinco anos, deixa órfã uma menina de quatro anos. O jovem era sobrinho do dono da empresa e cunhado de Leonel, outra vítima mortal.

NOTAS

GNR: MAIA SEM MILITARES

A GNR da Maia não patrulhou a A4 de madrugada. A doença de um militar, e a falta de guardas para o substituir, levou a GNR do Porto a patrulhar quase todo o distrito à hora do acidente

FAMÍLIAS: SEM INFORMAÇÃO

Os familiares de Abílio Sousa Rocha, o operário residente em Maureles, não foram contactos nem pela empresa nem pelas autoridades. Souberam do falecimento por um familiar

CAMIÃO: EMPRESA DE PENAFIEL

O camião no qual a carrinha embateu pertence a uma empresa de granito, em Penafiel. Ontem João Pinto, sócio da fábrica, contou que o veículo avariou devido a um corte eléctrico

FERIDO: ESPERA DOLOROSA

Após o acidente, Maria de Fátima, esposa de António Pereira, estava desesperada. Só ao início da tarde é que soube que o trabalhador estava bem

FUNERAIS: HOJE À TARDE

Os funerais de Leonel, André e Carlos realizam-se hoje à tarde nas freguesias onde moravam. As restantes cerimónias fúnebres serão amanhã

Vídeo Sapo



Fonte Correio da Manhã
 
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