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Processos de caça

helldanger1

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Os processos de caça maior resumem-se aos que se se encontram regulamentados nas normas legais em vigor (o Decreto-Lei D.L.201/2005 que veio a produzir algumas alterações de pormenor ao anterior regulamento - o Decreto-Lei 202/2004 ) e bem assim na Lei de Bases Gerais da Caça (Lei 173/99 de 21 de Setembro). Quase todos os processos de caça enunciados são conhecidos dos monteiros e dos caçadores em geral, com excepção para a RONDA que pensamos ser um processo pouco conhecido, mas verdadeiramente apaixonante por necessariamente englobar conhecimentos e aptidões inerentes aos restantes processos.

Apesar de todos os processos se poderem aplicar a todas as espécies de caça aqui mencionadas, há, contudo, métodos mais adequados a algumas espécies. Igualmente tem importância o resultado que se espera obter através do acto de caça, na escolha do processo que se utilizará. Assim se, por exemplo, pretendemos fazer caça selectiva (troféus ou desbastes de gestão) forçoso será que se cace de aproximação ou de espera, pois só assim se poderá observar calmamente os animais e optar conscientemente por aquele que deve ser cobrado. Estas referências serão apresentadas na apresentação de cada processo de caça.


fonte:apaginadomonteiro
 

helldanger1

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A Espera

O processo de caça DE ESPERA é aquele em que o caçador se coloca (ou posta) em local de visibilidade privilegiada sobre um ponto de alimentação, de água ou de passagem para poder observar, seleccionar e cobrar um animal, seja ele de caça maior seja de caça menor. Apesar de tudo, este é o processo mais especificamente destinado á caça do Javali, durante a noite, com o luar por companhia.

Desta forma e com o auxilio de excelentes ópticas - ( é para este fim que se fabricam as miras telescópicas com 50 a 56 e mais milímetros de diâmetro útil de objectiva , e bem assim os binóculos 10X50 ou mais potentes), que podemos, comodamente instalados, observar a "entrada" dos animais ao posto de caça, avaliar, as suas características e cobrarmos, de forma eficaz, o animal pretendido.

O posto de espera pode ser de vários tipos: aberto ou fechado, elevado ou ao nível do chão ou ainda uma combinação de ambos. Pela minha experiência e tendo concretizado largas dezenas de esperas aos javalis em ambas as situações, prefiro os postos elevados e fechados pois constituem uma maior segurança para evitar ser detectado antecipadamente pelos animais, sendo ainda muito confortáveis. Contudo a verdadeira mestria do caçador está na escolha da localização de um simples posto de chão, aberto, onde apenas se conjugam três paus de 3 metros de comprimento atados em forma de U invertido, para servirem de apoio para a arma.

caza_1.jpg


Posto de Espera, elevado e semifechado


Ainda sobre a localização do posto de espera deve salientar-se que este pormenor é da maior importância. Assim deve ser instalado num local em que o vento dominante esteja sempre a nosso favor (na cara), deve distar no mínimo 50 a 60 metros do local onde esperamos que apareçam os animais (pessoalmente prefiro distâncias dos 70 aos 120 metros dependendo das condições do terreno e da visibilidade do local), estar instalado sem contrastar com o céu (com obstáculos por detrás, p. ex. árvores ou acidentes naturais do terreno), de preferência sem coberto vegetal pelas costas (para evitar que o animal desconfie e circule por detrás de nós e nos apanhe o odor) e com a Lua por detrás ( para não encandear o óculo no momento do tiro).

Como facilmente se percebe é por este motivo que os postos elevados e fechados, nos quais apenas existe uma abertura/janela de 40cmX70cm para atirar, são os preferidos da maioria dos caçadores. Se estiverem bem construídos e convenientemente vedados será impossível que, mesmo com "mau ar" , algum animal nos apanhe o odor. E ... podem, inclusivamente, estar mal colocados.

No caso específico das esperas aos javalis e para mais facilmente os atrair a um local, é costume estabelecer-se um ponto de alimentação - cevador - onde onde se lhes facultará diariamente a guloseima que lhes seja mais atraente.

Finalmente resta observar frequentemente o local e quando constatarmos que as visitas são frequentes, proceder à espera propriamente dita. Para isso devemos também observar alguns comportamentos fundamentais: Posto de Espera elevado, aberto


PostodeCaca.jpg
 

helldanger1

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- Chegar ao local pelo menos uma hora antes do pôr-do-sol . Se por acaso se atrasar e chegar á boca da noite, é preferível não ir para o posto e deixar a faena para outro dia.

- Ao ocupar o posto ( ou entrar para o palanque) tente fazer o mínimo ruído possível ( não sabe a que distância estão os animais encamados e se sentem a sua chegada).

- Durante a sua permanência no posto, esteja o mais silencioso e sossegado que seja possível. Se tiver que se levantar ou fazer algum ruído aproveite os momentos em o vento seja mais forte para que os sons do ambiente abafem os seus.

- Esteja atento aos ruídos do mato: um ramo seco que estala, uma pedra que rebola ou um tom seco na terra são normalmente indícios da aproximação (entrada) de um animal. E lembre-se que o porco maior é o que faz menos ruído, enquanto o pequeno é aquele que gosta de "dançar o sapateado".

- Por fim, encha-se de paciência. Uma espera, quando não se atira, deve decorrer até cerca das 02.00 horas da madrugada. O abandono antecipado do posto não só denuncia a sua presença como também o estraga irremediavelmente.

- Se não atirou e tem animais no cevador a comer, não saia do posto. Espere que se vão embora, aguarde meia hora e então pode sair da forma mais sigilosa possível.

- Se atirou, tenha calma e mais paciência. Espere pelo menos 20 minutos antes de sair do seu posto, seja para apreciar o animal cobrado seja para verificar indícios do tiro.

- Se o animal não ficou morto no local do tiro, há que ter muito cuidado. Decorrido o tempo mencionado no parágrafo anterior, vá ao local onde este se encontrava e, com a ajuda de uma boa lanterna, procure indícios do tiro no chão. A existência de salpicos ou jactos de sangue vermelho vivo, significa que o animal tem o tiro colocado na área do coração; por seu lado o sangue é vermelho claro e com bolhas, significa que tem os pulmões destruídos; já por outro lado pedaços de osso, banha, pêlos e pouco ou quase nenhum sangue são mau sinal no que se refere ao cobro da peça. Se por acaso vir um buraco ou um risco recente na terra, isso significa que errou o tiro e não vale a pena perder tempo a procurar o bicho.

- Se tiver que procurar o animal tome providências de cautela; espere por um companheiro de caça, pelo guarda da zona ou outro e tente seguir o rasto de sangue, sempre com a lanterna numa mão e a arma na outra. Não se deve afastar mais de 50 metros do local do tiro, quando procede à busca. Quando se trata de javalis feridos de morte mas ainda vivos a faena pode sair muito complicada, se não perigosa. Ao não encontrar o animal, será preferível - e muito aconselhável - voltar de manhã cedo, ao nascer do dia e com mais companheiros, para então se proceder melhor à busca. Lembre-se que de dia se vê muito melhor do que de noite.

 

helldanger1

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LEGENDA:

1 - Posto de espera elevado e aberto. Vista de cevador com javalis a comer antes de anoitecer.

2 - Posto de espera no chão, aberto e apenas com um tronco de azinheira caído a servir de apoio. Vista de cevador com um javali

pequeno a comer.

3 - Posto de chão, aberto e sem apoio, situado no alto de uma rocha. Vista do cevador com 6 javalis a comer ainda de dia.

4 - Aguarela de autor desconhecido alusiva ás esperas aos javalis. Posto de espera elevado, semiaberto e desmontável.

5 - Posto de espera elevado e fechado, visto da parte de trás ( Palanque).

6 - O cevador instalado à beira do caminho, a cerca de 90 metros de distância, e visto da janela de tiro do Palanque.

7 - Vista parcial do interior do Palanque.



Foge.jpg

Cuidado com a busca de animais feridos ! !
 

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Aproximação

A aproximação é dos processos de caça maior mais apaixonante e desportivo se comparado com os restantes processos. Através dele o caçador tem a possibilidade de se deslocar livremente pelos terrenos de caça, apreciando todo o ambiente que o rodeia, mas sempre tentando vislumbrar os mais leves e distantes movimentos ou pormenores que possam não fazer directamente parte do meio envolvente. Este é o processo de caça, por excelência para todo o tipo de cervídeos (Veados, Gamos e Corços) e para os carneiros (Muflão).

Para se poder ter algum sucesso na caça de aproximação é fundamental que se escolha criteriosamente o equipamento a utilizar e se tenham algumas precauções ou cuidados, sob pena de podermos passar vários dias no terreno sem pormos a vista em cima de qualquer bicho.

Começamos pela escolha da indumentária:

Apesar de não ser necessário usar qualquer traje específico (como muitos caçadores gostam de usar durante as montarias), é no entanto fundamental usar roupa de tons neutros ou escuros ( preferencialmente em tons de verde seco; há quem prefira camuflados do tipo Realtree para melhor se confundir com o ambiente, mas por favor não use camuflados de tipo militar), e se possível silenciosa - todos os animais que se encontram na Natureza conhecem os sons naturais e distinguem perfeitamente os rumores provenientes da roupa; casacos encerados ou ruidosos como muitos abrigos impermeáveis são de evitar a todo o custo.

Depois, o calçado tem tanta importância como a roupa. Este deve ser confortável, feito ao pé ( não use calçado que não esteja "amaciado", sob pena de não conseguir andar ao cabo de algumas horas), com sola de borracha anti-derrapante ( pode ter que passar por pedras ou rochedos húmidos ou com musgo) e , tal como a roupa, silencioso.

Continuemos com o equipamento:

Aqui a regra é a de o mínimo possível, ou apenas o essencial. Arma do calibre e sistema com que o caçador esteja mais familiarizado, equipada com mira telescópica de ampliações variáveis ( 3 a 9 ampliações é o ideal) com retículo fino do tipo Plex e regulada no mínimo para 180m ( distância de regulação - DRO - para os calibres médios) e bandoleira suficientemente larga no apoio do ombro para maior conforto no transporte da arma durante as deslocações. Uma pequena cartucheira de bolso ou de cinto com 6 munições (pessoalmente não transporto mais do que três), para além das que seguem no carregador da arma, e um par de binóculos leves (compactos) de 7 ou 8 ampliações, providos de correia de transporte para poderem ser transportados ao pescoço. Uma pequena faca de caça para as eventualidades - cortar um ramo, capar uma rês ou esventrar um animal - e se tal for absolutamente necessário um bastão de madeira (para auxiliar em terrenos mais difíceis ou servir de apoio de tiro ) ou um apoio de tiro em alumínio e telescópico ( para ser leve, silencioso e fácil de transportar).

 

helldanger1

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E com a preparação para o acto:

Fundamental é conhecerem-se os hábitos e costumes da espécie que vamos caçar, para sabermos onde devemos procurar, bem como os seus momentos de maior actividade. Sendo que os momentos de maior actividade para os cervídeos são o crepúsculo da manhã e o da tarde bem como 2 a 3 horas depois e antes, e normalmente preferem as zonas abertas e despejadas de mato para se alimentarem, não valerá a pena andarmos a desperdiçar energias, no campo, entre as 10.00 e as 18.00 horas. Igualmente importante é conhecer-se a fisiologia do animal que vamos procurar, especialmente as marcas de presença que normalmente deixam no terreno - tente identificar os rastos com a ajuda de quem conhece ou consultando documentação apropriada ( não esqueça a NET).

Comparativo.jpg




A imagem acima mostra-nos a comparação entre os rastos de algumas espécies - Veado, Javali e Corço, sendo estas as que mais vulgarmente de caçam de aproximação em Portugal.

Ora, finalmente e estando na posse de tudo o que faz falta - equipamento e conhecimento - vamos lá então para o campo, e não nos esqueçamos de observar mais alguns procedimentos:

1) Conhece bem a região onde vai caçar ? Se sim, então vá sozinho e leve consigo um telemóvel (em modo silêncio) ou um rádio pois pode acontecer algum acidente e precisar de ajuda urgente. Se não, então faça-se acompanhar por alguém que conheça bem a zona, ou no caso de caçar numa zona de caça ordenada, faça-se acompanhar pelo Guarda da mesma. Aquele ou este serão certamente as pessoas que melhores indicações lhe poderão dar; converse previamente com ele, transmita-lhe os seus desejos para a caçada ( qual o tipo e qualidade de animal que deseja caçar, como deseja deslocar-se de umas zonas para outras, quanto tempo aguenta a andar e até que distância se sente confortável a atirar, por exemplo) e, quando no campo, ouça as suas sugestões e comentários; vai ver que não só aprende como lhe facilitará imenso a tarefa.

2) Esteja no campo o mais cedo possível para poder encontrar os animais descansados (antes do nascer do Sol, se de manhã, ou por volta das 16.00 horas se de tarde).

3) Quando no campo e em acto de caça tenha sempre em atenção a direcção de vento. Deslocar-se com o vento frequentemente pelas costas implicará que todos os bichos o possam sentir antes que os veja. Não se esqueça que o olfato é uma das principais defesas dos animais bravios.

4) Quando em andamento, desloque-se o mais lentamente possível, sem bater os pés no chão e procurando sempre encobrir-se com a vegetação existente ou com o relevo do terreno. Não utilize estradas ou caminhos pois daí sabem todos os bichos que vem gente.


5) Faça paragens frequentes para observar o ambiente circundante com a ajuda dos binóculos. É preferível observar muito e andar pouco, do que o contrário.

6) Procure fazer as suas movimentações sempre o mais alto possível no terreno. Todos os cervídeos espantados ou em fuga têm tendência a procurar os lugares mais altos, para melhor observarem o perigo.

7) Tente pensar comos os animais. ( onde posso estar mais defendido? Onde poderei mais facilmente sentir qualquer perigo? Onde está a melhor comida ou aquela que mais gosto?).

8 ) Esteja atento às marcas de presença ( rastos, esfregados em arvores ou arbustos, ramos partidos ou trincados, lameiros, etc.) e tente aperceber-se se são recentes ou antigos (infelizmente só a experiência de muitas horas passadas no campo atrás dos animais nos permitirá distinguir uns dos outros).

 

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9) Quando encontrado o animal que deseja caçar e antes de se decidir pelo tiro observe cuidadosamente o troféu para ter a certeza que é aquele que deseja. Não se preocupe se este se for embora; mais tarde ou no dia seguinte encontrá-lo-á na mesma zona, já que maioria dos cervídeos é territorial.

10 ) No momento de atirar procure um apoio estável ( árvore, arbusto, pedra ou o apoio que levou) e tente acalmar-se. Não se esqueça que em 95% das situações só tem possibilidade de fazer um tiro e com ele tem de conseguir o que quer.



presenca.jpg

Marca de presença de cervídeos. Troncos esfregados para marcação de território.

Resta-me referir, que se tiver em conta os procedimentos enunciados terá melhores resultados nas suas caçadas e verá que a sua satisfação, como caçador, aumentará proporcionalmente.

Pessoalmente devo dizer que aprendi muito com as gentes do campo : guardas de coutos, caçadores locais e inclusivamente furtivos. Enquanto organizador e guia de caça nas aproximações a veados, gamos e muflões, incutindo estas regras nos caçadores, pude obter uma taxa de sucesso total ( 100%), conseguindo cobrar os animais no tempo mais curto possível. E sempre cumprindo com as normas de conduta desejáveis e com as normas legais em vigor para o processo de caça.

Só posso pois desejar a todos os maiores sucessos venatórios.

 

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Montaria

A Montaria ...

A Montaria é o processo de caça maior mais conhecido, provavelmente, de todos os os caçadores portugueses. Organizam-se montarias em Portugal desde o distrito de Bragança até ao concelho de Vila Real de Santo António, em zonas de caça ordenada (turísticas, associativas, nacionais e municipais) e até nos terrenos livres ou não ordenados.

Quase me atrevo a mencionar que poucos serão os caçadores portugueses que até a este momento não tenham participado ou pelo menos assistido a uma montaria. Ou se não, a um acto de caça a que alguém chamou de montaria.

Actualmente podemos obter um posto de montaria por valores muitos distintos; desde o custo zero até valores que ultrapassam os 5 000 euros (sim, o número está correcto e não há enganos). E tal não significa que umas sejam piores ou mais mal organizadas - enquanto acto de caça - do que as outras. Quero com isto dizer que o preço não é um referencial de qualidade, a não ser em raras excepções.

Devo referir que um dos meus processos de caça favoritos é, seguramente, a montaria; foi este o meu primeiro contacto com a caça maior, há 28 anos atrás; e desde logo a minha primeira grande paixão, porque nesses tempos as manchas eram grandes e sobrelotadas de rezes, os monteiros poucos e experientes, os postos relativamente baratos e os organizadores, por se contarem pelos dedos de uma mão, sabiam o que andavam a fazer no campo.

E com alguns deles aprendi muito do que sei hoje.

Mas voltemos à montaria.

Trata-se de um processo de caça que envolve muita gente ( caçadores, postores, carregadores, matilheiros e pessoal da organização) e que, por consequência, necessita de ser realizado numa área significativa de terreno, preferencialmente onde existam efectivos razoáveis de animais, que neste processo específico são o Javali, o Veado e pontualmente o Gamo e o Muflão. Pelo trabalho que dá a organizar e pelos cuidados e regras a observar, tenho por hábito comparar a organização da montaria à preparação de uma grande batalha medieval onde apenas se combatia a pé e com armas brancas. Posto de Montaria
javalis0055.jpg
 

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Antes de nos decidirmos organizar uma montaria temos de tomar algumas decisões muito importantes sob pena de todo o nosso trabalho ser inglório. Vejamos então como proceder.

Em primeiro lugar devemos escolher cuidadosamente a zona a montear; depois temos que "estudar a mancha"; seguidamente definir a localização dos diferentes postos; só depois definir o número e o local de solta das matilhas e finalmente estruturar uma eficaz recolha das rezes abatidas. Como é óbvio compreende-se que me estou a referir à organização de uma montaria a sério.

A escolha da zona a montear:

Porque as montarias se realizam (de acordo com o Regulamento da Lei da Caça) durante os meses de Outono e de Inverno e porque as espécies de caça maior são sensíveis à temperatura e à chuva, devemos escolher uma zona em que as encostas estejam mais viradas a sul (soalheiras) do que outra com uma orientação diferente. Depois há que verificar o coberto vegetal que deve ser suficientemente espesso e denso para proporcionar bom abrigo e melhor protecção aos animais.

 

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Os exemplos acima ajudam a formular uma ideia de comparação para a escolha do local de montaria. A mancha A seria uma opção para uma época mais quente e seca. A mancha B para uma realização em princípio de temporada e a mancha C para sem dúvida ser "dada" durante o Inverno. É claro que estas decisões não são assim tão simples. É igualmente importante o conhecimento do terreno, as querenças dos animais existentes na região, a eventual pressão de caça, a tranquilidade da zona, para citar apenas algumas outras condicionantes.

Estudar a mancha:

Sobre este tema aproveito para prestar homenagem a um grande Monteiro português, infelizmente já falecido, fundador do Clube Português de Monteiros, a quem carinhosamente tratávamos por Tio Jorge ( Jorge de Andrada Roque de Pinho) e com quem tive o prazer de viver grandes momentos de caça maior, em várias montarias ao longo da década de 90. Em 1983 o Tio Jorge elaborou para a então Direcção Geral das Florestas, um folheto intitulado " Elementos para a Organização de Montarias em Portugal" onde referia:

" Estudar a mancha é averiguar a quantidade, qualidade e os lugares principais em que se encontra encamada a caça maior que se pretende bater. Isto é estudar os rastos que, segundo o tempo que faz e a natureza do terreno, são mais ou manos difíceis de descobrir. Pesquisar o monte onde comem o veado e o javali, e as águas pela segurança dos indícios que oferecem no verão. Verificar as saídas dos encames possíveis que, se não se encontram, é porque ali não estão as rezes."

Disto isto, atesta-se a importância deste trabalho de estudo. Alguns caçadores que se metem a organizar montarias têm por hábito escolher manchas onde se encontram muitos sinais de presença da caça, como o fossado, os lameiros mexidos ou restos de comida. Depois ficam desiludidos porque os resultados obtidos são muito fracos ou nulos. Tal acontece porque fizeram a montaria onde as rezes comiam e não onde estavam encamadas a descansar. E nos locais de descanso não há sinais de presença mas tão só rastos de entrada e saída na mancha. Devemos pois lembrarmo-nos que os períodos diários de actividade das rezes são diferentes dos dos humanos. Logo há que buscar as rezes onde elas podem estar encamadas e sempre com o devido cuidado para que não se espantem e abandonem estas áreas prematuramente.

É pois um trabalho prático de campo para ser realizado por um só individuo, em silêncio e evitando ao máximo entrar na mancha. Quantas mais pessoas ali andarem, maior a perturbação causada e maior a possibilidade de, a pouco e pouco, os animais, por desconfiarem, irem mudando os locais de encame.

Quando se comprova que ali estão, através de indícios seguros, é costume manter a região no maior sossego possível e utilizar um ou outro caminho no seu interior para disponibilizar largas quantidades de comida, mais com o objectivo de verificar se a consomem (se sim é porque ali se mantêm), do que para evitar que se mudem.
 

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A Localização dos Postos:

Para este efeito costumo usar a técnica de um outro conhecido organizador português - Eng. Rui Ramalho ( técnico dos Serviços Regionais das Florestas) que costumava perguntar onde se situava o ponto mais alto da zona de onde se pudesse vislumbrar toda a área a montear. E, é um facto que, de cima, tudo se vê: por onde serão as saídas da mancha mais querençosas, por onde pensamos que dificilmente sairão, onde deveremos - ou poderemos - soltar as matilhas ( uma ou várias soltas dependendo da inclinação do terreno e do seu coberto vegetal), onde se situam as linhas de água nas quais poderemos colocar uma ou outra travessa ( linha de postos dentro da área da mancha) e onde deveremos "fechar" a mancha ( colocar os postos que encerram a área a caçar).

Com este tipo de observação conseguimos responder a várias perguntas em simultâneo: quantos postos leva a mancha, quantas matilhas vamos necessitar para bater o terreno, onde vamos proceder à solta dos cães e como vamos colocar as diferentes armadas (linhas de postos na mancha).

Quanto ao número de postos deve-se ainda salientar que é o terreno que define o número possível e não o contrário: uma mancha suporta 35 postos e são estes que devem, exclusivamente, ser marcados e não 53 (porque esse era o número de inscrições de que dispúnhamos). Se precisarmos de colocar ( diria comercializar) mais postos, então temos o dever e a obrigação de escolher uma mancha com outras condições ou de maiores dimensões.

Sobre a localização dos postos as regras básicas e fundamentais são três: SEGURANÇA, SEGURANÇA e visibilidade. Como facilmente se compreende a segurança é o factor primordial, considerando que a maioria dos caçadores têm nas mãos uma arma de fogo de cano estriado que dispõe de alcance e poder mortífero incalculáveis. E sabemos que é fácil olhar só para o animal e não nos apercebermos do companheiro de caça que está ao nosso lado, mesmo na linha de tiro.

Por regra á habitual distanciar os postos cerca de 100 metros uns dos outros, dependendo dos desníveis do terreno, da visibilidade da zona ( em função do mato) ou dos acidentes naturais ( em escarpas onde não passa uma pessoa também não consegue passar nenhuma rês). Se a área do posto tiver mato muito fechado e não se conseguir ver um veado, não valerá a pena marcar um posto.

Quando o terreno é muito direito e os postos se encontram no mesmo plano, estes devem, obrigatoriamente, ser marcados e escrupulosamente ocupados junto à mancha e não afastados desta - se for necessário atirar a um animal seguramente não atiraremos na direcção de um companheiro, mas correremos a mão em sentido de afastamento dele.



POSTO0009.jpg


No que se refere à marcação dos postos é pertinente mencionar que este trabalho deve ser concretizado pelos menos um mês antes da realização da montaria, sinalizando convenientemente cada um, utilizando materiais duráveis e que não sejam facilmente retirados por terceiros ( como uma placa de madeira presa com um arame a um tronco ou arbusto resistente).

Convém ainda mencionar que se podem colocar dois tipos distintos de postos: as armadas de fecho, que se destinam a cobrir as principais zonas de fuga para o exterior da mancha e as travessas que mais não são do que pequenas armadas colocadas no interior desta (normalmente junto a linhas de água mais ou menos afundadas) sendo que estes postos devem ter um espaçamento superior ao dos das armadas de fecho. A justificação para este facto é que as travessas se destinam apenas a provocar maior movimentação dos animais levantados pelas matilhas ( os javalis têm a tendência de se ficarem nos espaços não cobertos pelos cães entre as diferentes matilhas). São, contudo, estes postos os que, por regra, mais possibilidade têm de atirar e pretende-se que as rezes possam igualmente chegar aos postos de fecho, daí estes terem que estar bastante mais espaçados.
 

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Sobre a escolha do local de solta das Matilhas igualmente se devem tecer algumas considerações; primeiro vamos a saber com quantos cães se deve bater o terreno (cada matilha de Caça Maior é constituída, nos termos da lei, por um mínimo de 24 cães). A definição deste número volta a depender das características do terreno e do seu coberto vegetal, sendo que, tecnicamente, se define em número de cães por hectare de mancha a montear. Vejamos: para uma mancha de 500 ha. com terreno muito dobrado e com coberto vegetal de estevas com décadas de idade, tojos e silvados de grande dimensão devemos utilizar uma média de 1 cão por ha ( 500 cães) ou seja 20/22 matilhas. Se por outro lado a nossa mancha for mais plana e o coberto vegetal menos denso então poderemos reduzir este número a metade e montear com cerca de 10 matilhas. E ... senhores organizadores: uma mancha desta dimensão caçada com 2, 4 ou 5 matilhas não é uma montaria, mas sim uma simples batida.

E depois onde vamos soltar todos estes cães ? Sabendo que a maioria dos transportes das matilhas não dispõe de tracção às quatro rodas e que nesta época do ano os caminhos estão normalmente encharcados ou com muita lama, tratem de descobrir um acesso firme e seguro para estes veículos, porque se um deles ficar atascado, não passa mais nenhum e os imobilizados não podem chegar ao local de caça. Por vezes e nestas circunstâncias deve-se soltar os cães bastante fora da mancha, ainda em terreno limpo, para que possam cumprir a sua missão.

Como condições finais para a escolha da entrada das matilhas consideremos os factos de que os cães caçam melhor com o "vento no focinho" e que a mancha deverá ser sempre batida da parte mais larga para a parte mais estreita. Se por acaso a mancha tiver uma forma homogénea, podemos utilizar vários modelos de solta e de trabalho de matilhas, lembrando-nos sempre que o trajecto destinado a cada matilha não deve ser demasiado extenso ( quando os cães estiverem cansados deixam de caçar e acabou-se a montaria).

Diferentes modelos de trabalho das Matilhas

As linhas a negro representam os limites da mancha e as armadas. As setas azuis representam o movimento das matilhas.


modelosmatilhas0003.jpg

Uma mão, só ida. Ideal para manchas compridas, planas e de "pouco" mato. Se houver cervídeos na mancha deve-se caçar com ida e volta das matilhas. Na primeira passagem saem os veados (sempre os primeiros a sair) e na segunda "trabalham-se" os javalis.




modelosmatilhas0001.jpg

Ao choque (ou ao meio). Duas soltas diametralmente opostas, com ida e volta. Quando se encontram as matilhas de cada lado, iniciam o regresso. Ideal para manchas de encosta de serra.



modelosmatilhas0002.jpg


Cruzadas. Duas soltas diametralmente opostas com ida e volta. Ideal para manchas de serra com duas encostas. A parte central da mancha seria o topo da serra na posição longitudinal.




modelosmatilhas0004.jpg

De volta inteira. Uma única solta com as matilhas alinhadas tal como linha de caçadores de caça menor. Ideal para manchas de vale situadas entre serras.

Para além destes modelos poderão considerar-se outros provenientes de diferentes combinações entre os apresentados, sendo que tais possibilidades apenas dependem da sensibilidade do prático de campo que organiza a montaria. Os referenciados são os mais frequentemente utilizados, o que não significa que não se deva usar outros diferentes.


 

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Finalmente uma última referência ao porte dos cães: se as manchas forem muito densas e só tiverem javalis devemos escolher matilhas com cães de porte pequeno e médio, porque se desenvencilham melhor dentro de mato espesso. Se as manchas tiverem javalis e veados devemos contratar algumas matilhas de cães de grande porte que têm mais corrida e melhor alçada sobre os veados. E, mais uma vez senhores organizadores... : falamos de matilhas de caça maior ( cães especificamente treinados para este efeito e que só se interessam por este tipo de caça) e não qualquer grupo de cães de caça menor, a que alguns chamam de matilhas, e que, quando soltos numa mancha, apenas assinalam as espécies de caça menor, gorando completamente o resultado da montaria. E querem saber onde as encontram? Simples. Contactem os Serviços de Caça da Região Cinegética, porque lá estão registadas todas as que existem e essa informação é pública.

A recolha das rezes abatidas é talvez a situação mais fácil de resolver: os postores ( pessoal contratado para colocar os postos de cada armada, coadjuvados por alguns amigos que sempre levam para observar a festa da montaria - e que também contratamos) encarregam-se, no fim da caçada, de recolher os diferentes postos e assinalar, em impresso previamente fornecido, os quantitativos e locais onde se encontram os animais cobrados. Depois, e por vezes com a ajuda do próprio caçador facilita-se a sua colocação perto de uma caminho ou aceiro onde possam ser rapidamente carregados nos veículos destinados a esse fim, para que possam estar no local da concentração no máximo de duas horas após o terminus da montaria.

Este local de concentração deve ser estabelecido numa área com o mínimo de condições para receber as pessoas ( Monte local, café/restaurante, área de lazer, etc.), mas suficientemente distante do local da mancha, para que o ruído provocado por toda esta urbe não ponha os animais de sobreaviso e os faça abandonar o encames antes de tempo.

Finalmente trata-se de passar tudo ao papel, marcar a data da montaria, e respeitar as regras de conduta inerentes a este tipo de realizações cinegéticas.


Copiadealcornoquefinal.jpg



Quadrodecaca.jpg



Para encerrarmos o tema da montaria resta transmitir a quem ocupa os postos desta modalidade as Regras da Montaria as quais nunca são demais lembrar (e relembrar).

1. Na deslocação para o posto, deverá guardar-se o máximo silêncio, a arma descarregada e dentro da respectiva bolsa, seja a pé ou em viatura .
2. É expressamente proibido utilizar zagalotes; apenas poderá atirar com bala, seja com arma de cano liso ou de cano estriado.
3. Ao chegar ao seu posto considere-se em acto de caça. Respeite escrupulosamente o posto que lhe foi destinado.
4. É expressamente proibido "dobrar" postos. A presença no posto de duas pessoas, obriga a levar apenas uma arma.
5. Mostre-se claramente aos ocupantes dos postos vizinhos e saiba exactamente onde eles se encontram.
6. Respeite o campo de tiro dos outros, não "cortando" as reses e deixando cumprir (entrar) a caça.
7. Não se deverá atirar a reses que tenham cães muito próximo ou em "agarre"; respeite Matilheiros e Matilhas.
8. Não atire a um animal senão perfeitamente visível e identificado.
9. Em tiros muito longos, as probabilidades de êxito são muito menores. Certifique-se que, na sua trajectória, não porá ninguém em perigo.
10. Se tiver de sair do posto, faça-o na máxima segurança, avisando e "mostrando-se" aos companheiros.
11. Não deve atirar a animais pequenos ou fêmeas acompanhadas de crias.
12. Não é permitido ao Monteiro o corte do troféu dentro da manha, durante ou no final da Montaria.
13. No caso de dois ou mais Monteiros terem atirado ao mesmo animal ,o troféu pertence a quem lhe fez sangue em primeiro lugar. Qualquer dúvida surgida, será resolvida no final, pelo Director de Montaria, sempre que possível no próprio local, sendo a sua decisão inapelável.
14. O "pistear" um animal ferido é, em primeiro lugar, da responsabilidade do Monteiro. Caso o não faça, dificilmente poderá depois reclamar o respectivo troféu.
15. É dever do Monteiro, tentar rematar uma rês que esteja a ser "agarrada" pelos cães, perto do seu posto, e na ausência do Matilheiro.
16. As reses abatidas deverão ficar bem assinaladas, para facilitar a sua posterior recolha
17. No final da Montaria, assinalado ou não através de morteiro, não deverá abandonar o seu posto, devendo fazê-lo apenas e quando o postor da sua armada o vier recolher.
18. Eventualmente, e por decisão do Director de Montaria, desde que anunciada no início da mesma, poder-se-ão alterar algumas das normas anteriores, nomeadamente os nº3, 11, 12 e 17.
 

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Batida

A batida é um processo de caça igualmente bem conhecido dos caçadores portugueses. Trata-se de um processo colaborativo que pode ou não exigir a utilização de cães ou de matilhas.

O que mais frequentemente acontece é que este seja um processo praticado pelos caçadores de caça menor e aplicado sobre espécies sedentárias como o coelho e a perdiz: quando o coberto vegetal é muito fechado, dificultando o levante, a visualização e o tiro aos animais, é normal o grupo de caçadores dividir-se e colocarem-se alguns na zona onde se pensa que os animais vão sair (fugir) enquanto outros "batem" a área (daí a designação de batida). E neste caso, o processo apenas tem utilidade se as áreas a bater forem de reduzida dimensão (até 5 hectares). Única excepção a referir a respeito da área : as batidas às perdizes.

E, estando nós a falar de caça maior, a batida é um processo de caça em tudo semelhante à montaria, mas com dimensões muito menores: é muito menor o número de caçadores, é bastante menor a área da mancha a bater, e igualmente menor o número de cães utilizados, porque agora não basta que sejam os caçadores ou batedores a levantar a caça; se não houver cães treinados para este efeito, os javalis não abandonam os encames e os cervídeos dão uma ou duas voltas dentro da mancha e voltam a deitar-se no mesmo lugar.

É um processo de caça muito utilizado em França onde as áreas privadas de caça maior ( normalmente designadas por Domínios) se encontram vedadas e têm dimensões microscópicas se comparadas com a área média dos coutos de caça maior existentes na Península Ibérica.

Apesar do que se referiu, os cuidados para a escolha do local de realização da batida são em tudo semelhantes aos da montaria, pelo que se devem procurar os rastos de entrada na mancha (e só de entrada, por que se houver rasto de entrada num lado e de saída noutro, então os bichos não estão ali).

batida0001.jpg


E porque normalmente os participantes são poucos, igualmente parcos são os resultados obtidos, sendo vulgar, quando se bate uma área semelhante à da imagem, cobrarem-se apenas uma, duas ou três rezes; e quando tal acontece estamos em presença de um resultado excelente. Tal facto é explicado por serem estes animais territoriais e os machos dominantes não permitirem o descanso de estranhos nas áreas que dominam, sendo vulgar que numa pequena mancha apenas esteja encamado um veado adulto solitário (ou eventualmente acompanhado de um ou outro macho mais novo), ou no caso dos javalis, apenas um grupo familiar constituído pela matriarca, crias do ano anterior e os listrados do corrente ano. E depois, quando se levantam e saem da mancha, é normal fazerem-no em fila, logo saem todos ao mesmo posto tornando-se quase impossível ( salvo raras excepções de habilidade e calma) conseguir cobrar mais de um animal.


posto0004.jpg



Neste processo também existem precauções a tomar na localização dos postos e as regras prioritárias continuam a ser todas as da SEGURANÇA. No entanto, enquanto na montaria os postos devem ser marcados com bastante antecedência da data da sua realização, no caso da batida os postos são normalmente definidos no momento e pelo caçador mais experiente do grupo, ou melhor conhecedor da zona, que, no maior silêncio e sigilo, leva consigo os caçadores das portas e os coloca (deixa) onde encontra veredas ou sinais evidentes da passagem frequente dos animais. E nem sequer se torna necessário fechar completamente a mancha.

Rastomancha.jpg



 

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Depois a única vantagem das batidas é que, sendo um processo de caça a utilizar por uma grupo de amigos, sócios de um pequeno clube ou grupo de caçadores que para o efeito se organiza ( normalmente até 20 participantes, apesar de não haver regras para estes quantitativos), é que, durante uma jornada se podem "dar" (realizar) várias batidas dependendo do tempo que demora cada uma. Assim se os animais não estão (apesar dos vestígios encontrados nesse dia) na zona A, é sempre possível mudar os participantes para outra zona e tentarem a sorte noutro local.

solta.jpg


Por vezes acontece que antes de se sair para o campo o líder do grupo de caçadores "negoceie" com os presentes os locais a caçar e a sequência das manchas a bater, utilizando para o efeito as informações recebidas dos participantes, e obtidas em função das observações realizadas no terreno de caça na véspera ou nos dias precedentes. Assim é frequente que, antes de se iniciar a jornada, se mandem avançar os cães e batedores para um determinado local, enquanto os caçadores se dirigem directamente para a zona dos postos. Neste caso a regra principal - para além da SEGURANÇA - continua a ser o facto de os cães não poderem aproximar-se da área a caçar antes dos caçadores se terem colocado nos respectivos postos, sob pena de os poucos animais que ali possam estar saírem antes da chegada dos caçadores.

A imagem anterior mostra um atrelado com 16 cães a iniciar o trabalho de bater uma determinada mancha. Porque são apenas 16 os cães, se trata de uma batida e não de uma matilha a ser solta numa montaria.

batida0002.jpg


 

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O Salto

O processo de caça "de Salto" é provavelmente aquele que todos os caçadores conhecem. O regulamento da caça em vigor define este processo como "aquele em que o caçador se desloca para procurar, perseguir ou capturar exemplares de espécies cinegéticas que ele próprio levanta, com ou sem auxílio de cães de caça". No entanto, o processo é vulgarmente utilizado sobre a caça menor e constitui, por si, o processo de caça mais natural e mais vulgar para todos os praticantes da caça. Ora, tratando-se de caça maior, a mesma legislação refere que este processo só é permitido para o javali, pelo que as restantes espécies, apenas podem ser caçadas por montaria, batida, espera e aproximação. E contrariamente à ronda este processo só pode ser praticado de dia e, apesar de tudo, com arma de fogo.

Tratando-se de uma processo de caça com características tão especiais para o javali, é um método muito pouco vulgar e pouco usado no nosso país. Sendo limitado o número de caçadores e bem assim o número cães, este processo torna-se incerto pelos resultados sempre duvidosos que é possível obter.

No Norte de Espanha, por exemplo, o processo tem grandes tradições e onde se designa por caça de javalis com cães à trela na qual as raças de cães dominantes são as de rasto - onde predominam os sabujos - e não as normalmente destinadas a outros tipos de caça como a montaria.

Imagens03.jpg


Mas não se pense que para caçar javalis de salto baste querer e ter os cães necessários e apropriados. Sob pena de (como dizíamos para a caça de aproximação) se passarem dias no campo sem se pôr a vista em cima de um javali. Assim o caçador de javalis de salto deve:

- Ter um perfeito conhecimento da espécie, por forma a saber procurar os locais onde encamam em diferentes épocas do ano, os javalis que vai caçar que, no caso presente se volta a referir, devem ser apenas machos e adultos; pelo que será de evitar a todo o custo perturbar fêmeas paridas ou com crias .

- Conhecer "como as suas mãos" a zona ou região onde vai caçar, a qual forçosamente terá de ter mato ou coberto vegetal que possibilite o encame dos javalis. Uma região "limpa" ou com mato novo ou rasteiro, seguramente que não proporciona defesa e coberto suficiente para ter encames.

- Saber escolher os cães ideais para este processo de caça e consequentemente treiná-los especificamente para este efeito uma vez que, dependendo da vegetação e da topografia da zona e sendo o número de cães limitado, a utilização de cães inapropriados pode constituir um factor de risco quer quer os primeiros quer para os próprios caçadores.

- Considero igualmente importante escolher a companhia com se caça, pelos que os nossos acompanhantes devem conhecer muito bem a zona e porque muitas vezes se tem cobrar o javali a tiro (por não ser possível fazê-lo de outra forma), quando frequentemente este tem os cães"em cima" ou muito próximo, quando em perseguição. Nestas condições é necessário ter muito discernimento e cuidado porque é preferível perder um javali do que matar ou ferir um cão, ou por os companheiros em perigo.

- Finalmente é recomendável que alguém no grupo tenha conhecimentos de veterinária pois é frequente haver cães feridos pelos javalis e se necessitar de intervenções urgentes no local, sob pena de algumas feridas poderem provocar a morte dos cães.

Imagens05.jpg



 

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Pelo que se referiu, verifica-se que se trata de um processo de caça apenas para puristas, ou se preferirem, para um grupo muito restrito de caçadores. Os resultados para além de incertos são sempre seguramente escassos.

Quando os cães, encontram um javali a primeira coisa que fazem é assinalarem, através de ladras, a sua presença. Neste caso os caçadores devem dispor de uma excelente forma física pois têm de se deslocar rapidamente para o local, em auxílio dos cães. Se entretanto acontecer o javali se levantar do encame, a perseguição pode demorar horas seguidas até que o perseguido se canse de fazer frente aos perseguidores, até que os perseguidores o consigam dominar ou ainda, até que o caçador consiga cobrar a presa a tiro. Quando tal não acontece, isto é, quando aos cães conseguem dominar o animal e o agarram, há que entrar a rematar de faca pelo que todos os participantes neste processo devem todos ser portadores de uma faca de remate.

Manda ainda a ética e o código de conduta (não escrito, mas passado verbalmente de geração em geração) que sempre que os cães levantem uma fêmea se deva terminar imediatamente a perseguição, segurando os cães o melhor possível e deixando o animal partir em paz. Este facto implica que haja sempre um caçador o mais próximo possível dos cães e, obviamente bastante conhecedor da espécie para poder aperceber-se se se trata de um macho ou de uma fêmea. Lembremos que os cães de caça não distinguem o sexo das suas presas.

Em Portugal desconheço se o processo é ou foi sequer alguma vez utilizado e em caso afirmativo considero que apenas seja possível em zonas de caça ordenada e de grande extensão. Porque o processo só pode ser utilizado no período da caça geral, a sua pratica em terrenos não ordenados torna-se, no mínimo, altamente perigosa porque nas mesmas manchas de mato podem encontrar-se caçadores a caçar ao javali com armas de fogo carregadas exclusivamente com bala e outros caçadores perseguindo, eventualmente, a caça menor.

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A Ronda

A RONDA é o processo de caça provavelmente mais desconhecido da maioria dos caçadores portugueses e, arriscar-me-ia a dizer, que talvez também seja desconhecido de muitos dos nosso Monteiros. É um processo de caça maior requintado que por sua vez exige meios e recursos nem sempre disponíveis ou fáceis de manter. Para além disso, exige do caçador muito saber, coragem e uma vontade indómita de correr riscos.

Trata-se de um processo de caça parecido com o método de salto, praticado com a ajuda de cães de caça maior, a cavalo, e como armas apenas se utilizam as armas brancas - a lança de ronda ou a faca de remate. Tanto se pode desenvolver de noite como de dia, apesar da verdadeira tradição obrigar a que se realize de noite quando as diferentes espécies de caça maior se encontram fora do mato, nas áreas abertas, mais descuidadas e desprevenidas.

É, para além do mencionado, um processo de caça característico da Península Ibérica, tendo sido intensamente praticado por nobres e plebeus durante todo o século XIX.

Como principal referência da realização das Rondas nocturnas sobre javalis e veados temos relatos extraordinários de um grande Monteiro que viveu nesse mesmo século - D. António Covarsi - o qual escreveu (diria ditou) as regras, procedimentos e códigos de conduta para a caça maior, regras e procedimentos estes que ainda hoje se seguem, apregoam e são cumpridos por todos os que desfrutam a Caça e a Natureza com respeito.

As obras de Covarsi (Narraciones de Un Montero e Grandes Cacerias Españolas entre outras e para citar apenas as mais conhecidas) são consideradas, por aqueles que tiveram o privilégio de as conseguir (porque se encontram esgotadíssimas) e das ler, como uma verdadeira bíblia de caça maior. Os seus relatos são tão entusiasmantes que, quando os lê-mos, temos a sensação de estar ao seu lado acompanhando o lance.

D. António era funcionário público com residência na cidade castelhana de Badajoz mas o seu espírito estava nas serranias de Badajoz e Cáceres. Caçador apaixonado e Monteiro inveterado, dedicava o todo o tempo disponível à caça maior. Caçava de Montaria (no tempo em que as montarias duravam semanas a fio batendo mancha após mancha, serrania após serrania), de espera, de aproximação e de ronda; monteou na sua região mas também percorreu com as suas matilhas todo o território castelhano, caçando inclusivamente nos Pirinéus.
 

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Para se caçar de Ronda nocturna é fundamental os caçadores possuírem um cavalo bem treinado para este efeito, dócil e obediente, porque será um auxiliar fundamental e seguro nas deslocações de noite, dentro e fora do mato; não deve amedrontar-se com os ruídos da noite nem como a presença dos animais bravios.

É igualmente fundamental possuir-se uma matilha de cães de caça maior bem treinada para esta forma de caça e que, contrariamente ao desejado para as montarias diurnas, cace em silêncio (afim de evitar que os animais se ponham de sobreaviso e fujam antes de tempo). Por outro lado devem ladrar quando acoitam as rezes, indicando com "ladra de parado" a localização do animal. Só desta forma é possível ao caçador saber onde se encontra o veado ou o javali e a matilha, para que este possa entrar a remate e cobrar o animal.

E, tal como refere Covarsi, a arma ideal para este tipo de caça é a Faca de Remate ou a Lança de Ronda (denominada na Idade Média como Azcuma). As armas de fogo, para este efeito, são pouco práticas e inoperantes por ser de noite, por o animal estar rodeado de cães da matilha, porque se pode perder ou cair do cavalo quando se galopa para ao chamamento dos cães e porque frequentemente os lances acontecem dentro do mato, que é a fuga natural e a protecção das rezes.

Como se caça então por este processo?

Conhecendo a zona e sabendo que existem javalis e veados na região, procuram-se os locais onde há sinais de se alimentarem durante a noite. Depois de se avisar os residentes locais para que guardem (nessas noites) o seu gado - sob pena de este ser aniquilado pelas matilhas - escolhe-se uma noite para caçar que pode ter ou não luar, e ser mais ou menos ventosa de acordo com o que se pretende (se houver luar é mais fácil entrar nos matos para rematar as rezes, devido aos obstáculos e perigos que o escuro encerra; se estiver ventosa, mas sem exagero, permite que os cães mais facilmente detectem e se acerquem dos animais a caçar).

Aprazada a noite, soltam-se os cães (sempre com o "vento no focinho" para que possam bater o terreno), sendo estes acompanhados pelos respectivos caçadores que, para que a caçada tenha sucesso, não devem ser mais do que três ( muita gente junta, a cavalo, de noite precipitando-se para o local da ladra, só dá confusão e mau resultado).

Quando a matilha der sinal de ter acoitado (agarrado ou cercado) um javali ou um veado (através da dita "ladra de parado") o caçador deverá dirigir-se rapidamente ao local, desmontar e entrar ao remate com a faca ou com a lança. Este caçador deverá ser o dono dos cães ou pelo menos uma pessoa a quem estes estejam habituados, sob pena de se poderem espantar ou se intimidarem com uma presença desconhecida e soltarem o bicho que, no caso de ser um javali ou um veado de grande porte, poderá carregar o caçador.
 

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Na sua obra "Narraciones de um Montero" , Covarsi descreve de forma pormenorizada como se caça de Ronda, apresentando-se aqui uma parte dessa descrição para que possa ser apreciada pelos nossos visitantes.


Remateronda.jpg


Por tudo o que foi descrito, percebe-se que a Ronda não seja um processo de caça fácil ou sequer vulgar nos tempos modernos. Os terrenos propícios para este tipo de caça são cada vez menos (já não há terreno livre), nas zonas de caça ordenada os limites de cada território são impeditivos deste tipo de caça, e os meios exigidos para a sua prática são enormes e implicam uma avultada despesa de manutenção. Actualmente apenas se pratica de dia (e em condições semelhantes das originais), na maioria dos países da América do Sul e sobre o Javali; nestas regiões as zonas de caça são avassaladoramente grandes (com milhares de kilómetros quadrados de extensão e despovoadas de gente ou gados). Não havendo manchas florestais cerradas e sendo o coberto vegetal de média altura, torna-se fácil, de cima dos cavalos, descobrir os javalis nos seus locais de encame ou acoitá-los com a ajuda dos cães.

A Ronda justificava-se no século XIX por haver milhares de hectares de terrenos públicos incultos e cobertos de mato, por não haver vias de comunicação terrestre e a maioria das pessoas ter de efectuar as sua deslocações a cavalo ( logo muita gente possuía cavalos) e ainda porque era um processo quase oculto de se caçar sem que cada um soubesse o que os restantes matavam. Hoje caiu praticamente em desuso e o que mais se aproxima deste processo, são algumas (raras) batidas realizadas no Verão e sobre javalis, nas noites de luar, nas searas e sem cães : um, dois ou três caçadores colocam-se previamente e em silêncio numa extremidade da seara que confine com uma mancha de mato e do lado oposto entram dois ou três batedores que se vão deslocando e conversando uns com os outros. Os javalis quando sentem o rumor dentro da seara vão escapando lenta e calmamente do possível perigo, dirigindo-se para a mancha de mato. Quando saem da seara não se apercebem dos caçadores porque os seus sentidos estão direccionados para os batedores.

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