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RoterTeufel
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Setúbal: Sobrevivente do naufrágio do ‘Delfim’ relata tragédia
“O ‘Primo’ morreu nos meus braços”
Durante pouco mais de uma hora, Pedro, conhecido por ‘Sargueta’, de 25 anos, agarrou-se à vida através de um colete. ‘Primo’, de 62, deitado em cima de uma porta que veio à tona de água, foi o seu único companheiro nesta luta contra a morte, mas perdeu. Fernando ‘Palhacinho’ não mais foi visto após uma onda ter virado o ‘Delfim’, levando-o a afundar-se. O corpo continua desaparecido.
O mais marcante para ‘Sargueta’ foi o que aconteceu dez minutos antes de ser recolhido por um helicóptero da Marinha. "A última imagem que guardo é a do ‘Primo’ a morrer nos meus braços (...) ele não se mexia, mas falou sempre comigo (...) perguntava se alguém já sabia do que tinha acontecido e se já estávamos quase a chegar a terra (...) quando deixou de falar comigo, vi--o a espumar da boca. Não sei se foi um ataque. Morto ou vivo, ela ia comigo para todo o lado."
As palavras tremiam à medida que saíam da boca de ‘Sargueta’, único sobrevivente do naufrágio de anteontem, na Costa de Caparica. "Aconteceu tudo tão rápido. A onda bateu-nos e o barco voltou-se. Não deu hipóteses para fazer nada", relata este pescador de 25 anos, há sete no mar e pai de duas crianças. "Eu e o ‘Primo ficámos debaixo do barco, mas conseguimos sair. Depois, alguns coletes vieram à superfície e agarrámo-nos a eles", conta. "O Fernando, nunca o vi. Ainda o chamei mas ele deve ter ficado preso a qualquer coisa", acrescenta o sobrevivente.
Momentos trágicos vividos em águas muito frias, que o pescador nunca mais esquecerá. "A única coisa de que tive medo foi de que não me viessem buscar. Nem tivemos tempo para enviar alerta. Eu tinha muito frio e quando me içaram para o helicóptero, o meu corpo estava a 32 graus. Quando nos resgataram, estávamos a quase um quilómetro do barco. Parece que tinha de acontecer. Costumam dizer que o destino já está escrito", recorda emocionado.
FUNERAL DO PESCADOR AMANHÃ
O corpo do ‘Primo’ foi o primeiro a ser içado para o helicóptero Merlin, seguindo-se ‘Sargueta’. "O ‘Primo’, que vivia perto de mim, era um grande amigo, por quem tinha muita consideração. Há um ano que trabalhávamos juntos e não havia nenhum homem aqui em Setúbal como ele", conta Pedro Nunes, de 25 anos, o único sobrevivente. No número 114 da Estrada de Palmela, em Setúbal, morava ‘Primo’, natural de Vila Real de Santo António, terra que deixou há vinte anos. Vivia com a mulher, a filha e uma neta de três anos.
Contactada pelo CM, a família disse estar a passar por um momento difícil e não quis prestar declarações.
O corpo do pescador deve ser hoje libertado da morgue do Hospital Garcia de Orta, estando o funeral marcado para amanhã, no cemitério de Algeruz, Setúbal.
"SABEMOS QUE O MEU FILHO NÃO ESTÁ VIVO"
Fernando, conhecido por ‘Palhacinho’, seguia na popa do ‘Delfim’ aquando do naufrágio e o seu corpo continua desaparecido. Em casa dos pais, no Bairro dos Pescadores, em Setúbal, a esperança é nula. "Sabemos que o meu filho não está vivo. Ele deve ter sofrido alguma pancada, pois nadava muito bem. Só queremos que encontrem o corpo e tragam o nosso menino de volta", dizia lavada em lágrimas a mãe, Conceição Carmo. Fernando, que completaria 42 anos na próxima segunda-feira, era divorciado e deixa uma filha menor, Bárbara Cristina, de dez anos. "Ela sabe apenas que o pai está desaparecido. Somos uma família do mar, mas não merecíamos esta desgraça."
PORMENORES
BUSCAS CONTINUAM
As operações de busca vão continuar hoje. Uma corveta patrulhará a zona até às 10h00. Depois, as buscas decorrerão apenas em terra.
SEGURANÇA EM DIA
Os donos do barco, Miguel Ministro e Valter Santos, garantem que "as inspecções estavam em dia, o barco tinha meios de segurança e as vítimas estão no seguro".
INVERNO RIGOROSO
‘Sargueta’ disse que este Inverno foi particularmente rigoroso para os pescadores.
Fonte Correio da Manhã
“O ‘Primo’ morreu nos meus braços”
Durante pouco mais de uma hora, Pedro, conhecido por ‘Sargueta’, de 25 anos, agarrou-se à vida através de um colete. ‘Primo’, de 62, deitado em cima de uma porta que veio à tona de água, foi o seu único companheiro nesta luta contra a morte, mas perdeu. Fernando ‘Palhacinho’ não mais foi visto após uma onda ter virado o ‘Delfim’, levando-o a afundar-se. O corpo continua desaparecido.
O mais marcante para ‘Sargueta’ foi o que aconteceu dez minutos antes de ser recolhido por um helicóptero da Marinha. "A última imagem que guardo é a do ‘Primo’ a morrer nos meus braços (...) ele não se mexia, mas falou sempre comigo (...) perguntava se alguém já sabia do que tinha acontecido e se já estávamos quase a chegar a terra (...) quando deixou de falar comigo, vi--o a espumar da boca. Não sei se foi um ataque. Morto ou vivo, ela ia comigo para todo o lado."
As palavras tremiam à medida que saíam da boca de ‘Sargueta’, único sobrevivente do naufrágio de anteontem, na Costa de Caparica. "Aconteceu tudo tão rápido. A onda bateu-nos e o barco voltou-se. Não deu hipóteses para fazer nada", relata este pescador de 25 anos, há sete no mar e pai de duas crianças. "Eu e o ‘Primo ficámos debaixo do barco, mas conseguimos sair. Depois, alguns coletes vieram à superfície e agarrámo-nos a eles", conta. "O Fernando, nunca o vi. Ainda o chamei mas ele deve ter ficado preso a qualquer coisa", acrescenta o sobrevivente.
Momentos trágicos vividos em águas muito frias, que o pescador nunca mais esquecerá. "A única coisa de que tive medo foi de que não me viessem buscar. Nem tivemos tempo para enviar alerta. Eu tinha muito frio e quando me içaram para o helicóptero, o meu corpo estava a 32 graus. Quando nos resgataram, estávamos a quase um quilómetro do barco. Parece que tinha de acontecer. Costumam dizer que o destino já está escrito", recorda emocionado.
FUNERAL DO PESCADOR AMANHÃ
O corpo do ‘Primo’ foi o primeiro a ser içado para o helicóptero Merlin, seguindo-se ‘Sargueta’. "O ‘Primo’, que vivia perto de mim, era um grande amigo, por quem tinha muita consideração. Há um ano que trabalhávamos juntos e não havia nenhum homem aqui em Setúbal como ele", conta Pedro Nunes, de 25 anos, o único sobrevivente. No número 114 da Estrada de Palmela, em Setúbal, morava ‘Primo’, natural de Vila Real de Santo António, terra que deixou há vinte anos. Vivia com a mulher, a filha e uma neta de três anos.
Contactada pelo CM, a família disse estar a passar por um momento difícil e não quis prestar declarações.
O corpo do pescador deve ser hoje libertado da morgue do Hospital Garcia de Orta, estando o funeral marcado para amanhã, no cemitério de Algeruz, Setúbal.
"SABEMOS QUE O MEU FILHO NÃO ESTÁ VIVO"
Fernando, conhecido por ‘Palhacinho’, seguia na popa do ‘Delfim’ aquando do naufrágio e o seu corpo continua desaparecido. Em casa dos pais, no Bairro dos Pescadores, em Setúbal, a esperança é nula. "Sabemos que o meu filho não está vivo. Ele deve ter sofrido alguma pancada, pois nadava muito bem. Só queremos que encontrem o corpo e tragam o nosso menino de volta", dizia lavada em lágrimas a mãe, Conceição Carmo. Fernando, que completaria 42 anos na próxima segunda-feira, era divorciado e deixa uma filha menor, Bárbara Cristina, de dez anos. "Ela sabe apenas que o pai está desaparecido. Somos uma família do mar, mas não merecíamos esta desgraça."
PORMENORES
BUSCAS CONTINUAM
As operações de busca vão continuar hoje. Uma corveta patrulhará a zona até às 10h00. Depois, as buscas decorrerão apenas em terra.
SEGURANÇA EM DIA
Os donos do barco, Miguel Ministro e Valter Santos, garantem que "as inspecções estavam em dia, o barco tinha meios de segurança e as vítimas estão no seguro".
INVERNO RIGOROSO
‘Sargueta’ disse que este Inverno foi particularmente rigoroso para os pescadores.
Fonte Correio da Manhã