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Contrato do treinador do Inter com Taguspark está a ser investigado, após ter sido apreendido nas buscas.
O contrato de José Mourinho com o Taguspark, celebrado em Agosto de 2009, está a ser investigado pelo Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa, na sequência de uma certidão retirada do caso ‘Face Oculta’. O contrato de Mourinho, ao qual o treinador do Inter de Milão renunciou em Outubro passado, foi um dos documentos apreendidos, tal como o contrato de Luís Figo, pelos investigadores, nas buscas à sede do Taguspark na véspera do dia de Carnaval.
Américo Thomati, presidente da comissão executiva do Taguspark, confirmou ontem ao CM que o contrato de Mourinho foi apreendido nas buscas do DIAP e da PJ de Aveiro ao Taguspark e à PT, em 15 de Fevereiro. Os contratos de Mourinho e Figo com o Taguspark estão a ser investigados por suspeitas de corrupção relacionadas com o eventual financiamento da campanha eleitoral do PS nas eleições legislativas de 2009.
O contrato do treinador com o Taguspark era semelhante ao de Figo com a mesma sociedade: pela cedência da utilização dos direitos de imagem durante um ano, com possibilidade de renovação por mais dois, cobrava 350 mil euros no primeiro ano e 200 mil euros por cada renovação anual, no total de 750 mil euros. O contrato foi negociado entre a Gestifute, firma de Jorge Mendes responsável pela gestão da imagem de Mourinho, e João Carlos Silva, gestor executivo do Taguspark, ex--presidente da RTP e ex-secretário de Estado do Orçamento.
Mourinho devia realizar um filme para uma campanha de promoção internacional do Taguspark. O filme estava agendado para 11 de Outubro no Estádio de San Siro, em Milão, mas, na véspera, a Gestifute informou o Taguspark de que Mourinho desistira do contrato por, alegadamente, não gostar do guião do filme.
Neste caso, 'Mourinho foi de uma enorme correcção', diz fonte conhecedora do processo. O CM contactou a Gestifute mas até ao fecho desta edição não obteve respostas às questões enviadas.
FREITAS DO AMARAL CRITICA PGR
Diogo Freitas do Amaral, professor de Direito Administrativo, lançou ontem fortes críticas à actuação do procurador-geral da República no processo ‘Face Oculta’. Num artigo de opinião que escreveu na revista ‘Visão’, o ex-ministro de José Sócrates considerou mesmo que Pinto Monteiro tem uma 'visão restritiva' do conceito de atentado ao Estado de Direito. Ricardo Rodrigues, do PS, afirmou ao CM que respeita a opinião de Freitas do Amaral mas que, 'sem prejuízo' de o reconhecer como grande especialista em Direito Administrativo, não lhe reconhece competência na área penal. Penalistas contactados pelo CM recusaram comentar este artigo.
CRONOLOGIA
01/08/09 – Figo assina um contrato publicitário com o Taguspark. No primeiro ano recebe 350 mil euros. Por esta altura, José Mourinho celebra também com o Taguspark um contrato de cedência da utilização dos direitos de imagem.
07/08/09 – Ex-capitão da selecção portuguesa de futebol dá uma entrevista ao ‘Diário Económico’, detido pela Ongoing de Nuno Vasconcellos, em que tece elogios ao Governo.
25/09/09 – José Sócrates e Luís Figo tomam o pequeno--almoço juntos, numa acção de campanha do PS para as legislativas. Era o último dia da campanha eleitoral.
27/09/09 – Dia das eleições legislativas, em que o primeiro--ministro José Sócrates conquista um Governo de maioria relativa para os socialistas.
10/10/09 – José Mourinho desiste do contrato com o Taguspark por, alegadamente, não gostar do guião do filme publicitário. Realização do filme estava agendada para o dia seguinte, no Estádio de S. Siro.
'NÃO RECEBI NENHUMA INSTRUÇÃO'
O ex-administrador da PT Rui Pedro Soares garantiu ontem no Parlamento que não falou com José Sócrates nem recebeu instruções do primeiro-ministro sobre o negócio da compra da TVI. Mas admitiu que sabia que 'o ‘Jornal de Sexta-feira’ iria acabar, com a concordância de José Eduardo Moniz'. Só não se lembra de quem revelou a informação.
'Não falei com o sr. primeiro-ministro e não recebi nenhuma instrução em relação ao assunto da PT com a TVI', disse Rui Pedro Soares, recusando responder se jantou com Sócrates por considerar que se trata da sua 'vida privada'.
Aos deputados, o ex-administrador da PT assegurou ainda que não era representante do Estado na PT e que foi convidado pelo presidente da empresa, Henrique Granadeiro, para integrar a administração. Mais: para Rui Pedro Soares, 'a golden-share do Estado na PT, por si só, não poderia vetar o negócio'.
O ex-administrador da PT deixou muitas questões sem resposta alegando sigilo profissional ou remetendo para os seus superiores hierárquicos. Nomeadamente, a razão pela qual estava responsável pelo negócio com a Prisa.
Questionado sobre as declarações de Granadeiro, que disse ter sido 'encornado', Rui Pedro Soares confessou ter entendido que o presidente da PT se referia a si: 'Não avisei Henrique Granadeiro sobre a providência cautelar. Creio que ficou sentido.'
Para os deputados, as declarações de Rui Pedro Soares serviram apenas para 'adensar as dúvidas'.
INÊS DE MEDEIROS EM SILÊNCIO
A deputada do PS Inês de Medeiros, que solicitou à PT um patrocínio de 50 mil euros para um festival de cinema, assistiu ontem atentamente à audiência de Rui Pedro Soares na Comissão de Ética mas manteve-se sempre em silêncio. Inês de Medeiros confirmou ao CM que pediu à PT, à semelhança do que fez junto de outras empresas como a REN e a Fnac, um patrocínio para um festival de cinema que organizou no São Jorge. Os contratos não foram assinados por si.
NOTAS
JOÃO CRAVINHO: INQUÉRITO
João Cravinho defendeu ontem, na Rádio Renascença, a abertura de um inquérito para acabar com as dúvidas das escutas feitas no âmbito do processo Face Oculta
ERC: QUEIXAS INEXISTENTES
O ‘terramoto mediático’ que foi o processo Face Oculta não se traduziu até ao momento em qualquer queixa junto da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC)
CAPUCHO: ESCLARECIMENTOS
O presidente da Câmara de Cascais, António Capucho, accionista do Taguspark, vai pedir esclarecimentos à administração da empresa sobre o contrato com Luís Figo
PT: RESULTADOS A 4 DE MARÇO
A Portugal Telecom vai apresentar os seus resultados no próximo dia 4 de Março (sexta-feira). O documento será aprovado no Conselho de Administração marcado para o dia anterior
AUDITORIA: SEM PRAZO
A auditoria interna que está a ser realizada por João Mello Franco na Portugal Telecom ainda não tem data para apresentar as conclusões definitivas
António Sérgio Azenha / A.P.D