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Com medo, chilenos deixam cidade devastada por terremoto

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RoterTeufel

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Com medo, chilenos deixam cidade devastada por terremoto



CONCEPCIÓN - O alerta de um novo tsunami, emitido e posteriormente cancelado pelas autoridades chilenas, foi um basta para os moradores de Concepción abandonarem definitivamente suas casas à procura de um lugar mais seguro. Na cidade mais afetada pela sequência de tremores que sacudiram o Chile desde o último fim de semana, a quinta-feira foi agitada durante o horário de circulação permitida pelos oficiais do exército.

A reportagem do Terra acompanhou o drama vivido por milhares de pessoas que lutam para deixar a cidade o mais rápido possível. Uma briga contra o relógio e a fúria da natureza. - Não tenho o que fazer aqui. Vou embora. Estou cansada de tanto ter medo. Não dá para viver em paz com tudo isso que está acontecendo. Não vale à pena arriscar a vida - afirmou a moradora Patricia Bovet.

A dona de casa de 58 anos é um dos muitos exemplos de quem cresceu em Concepción e de forma tão repentina se viu obrigada a mudar de cidade. - Conheço tudo aqui. Vi a cidade crescer ao longo dos anos. Minha família é daqui. Dói muito ter que ir embora assim. Se um dia as coisas se acalmarem, talvez, eu volte. Mas mesmo assim, jamais me esquecerei de tudo o que passamos aqui - disse.

No terminal rodoviário de Concepción, uma grande multidão aguardava pelo momento do embarque. Diante do comprometimento das estruturas e do risco de queda do complexo, os emigrantes não foram autorizados a utilizar as dependências internas da edificação.

Passageiros e vendedores se misturam entre as plataformas como se estivessem em um mercado público. a aglomeração foi intensa. Muita gente dormia pelos gramados de acesso ao estacionamento. A bagunça tomou conta do local e em meio a tudo isso as transportadoras faturavam com o desespero.

- Quem quer ir embora tem que comprar com antecedência. Apesar de termos muitos ônibus disponíveis, a procura é grande. Com o toque de recolher, estamos trabalhando apenas das 12h às 17h. Então os horários são bem apertados - disse o vendedor Ruy Salles.

O medo de que algo ruim ainda possa acontecer fez com que até quem teria muito trabalho pela frente evacuasse a área. Aos 34 anos, o pedreiro Ilan Sanches trocou o que poderia ser considerado uma mina de ouro por uma vida aparentemente mais segura.

- Aqui vai ter muito serviço, mas não tem segurança. Não adianta pensar em dinheiro e esquecer da vida. Nada vale tanto como a sensação de se sentir tranquilo e poder viver em paz - disse.

Assim como Sanches, outras pessoas também começam a deixar a cidade. Uma atitude influenciada pelo desespero que parece aumentar a cada novo tremor. Não por acaso, quem anda pelas ruas de Concepción se depara com um povoado completamente arrasado.

O clima de guerra prevalece em cada uma das esquinas. Soldados armados, bombeiros trabalhando, muros quebrados e muita gente correndo. Cada um com a sua mala.

Estevam Valdez, 25 anos, é um dos jovens que decidiu dar um novo rumo em sua vida na luta pela sobrevivência. O estudante vai cruzar a costa chilena e se estabelecer ao norte de Santiago. Uma mudança radical.

- Eu não sei o que vai ser daqui para a frente. Está tudo indefinido. Estou indo para Viña del Mar começar tudo de novo. Todos os meus amigos foram embora. Ninguém vai ficar. Estamos com muito medo - afirmou.

Se não bastasse tudo isso, a cidade de Concepción sofre diariamente com o vandalismo, violência e saques. O terror tem chamado a atenção do governo. Quase 37 anos após o golpe de Augusto Pinochet em Salvador Allende, a própria presidência da república se viu obrigada a solicitar às forças armadas uma intervenção militar.

- Demorou demais para isso acontecer. Estava sem segurança e precisávamos agir. Tivemos que esperar a autorização do governo e isso contribuiu para que a violência aumentasse. O poder executivo foi quem deu a órdem para que pudéssemos sair às ruas e garantir o controle da situação. Sem essa ação, creio que tudo estaria pior - afirmou o militar das forças armadas chilenas, Luis Aguillar, 38 anos.

O soldado garantiu, no entanto, que o comando da nação está nas mãos de Michelle Bachelet. - Não há nenhum tipo de golpe. Isso é coisa do passado. Tão logo seja dada a órdem para que deixemos o local, saíremos sem nenhum problema. O Chile, hoje, é um país democrático. O povo é quem escolhe seus líderes - disse.
 
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