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“Puseram-me cego”

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RoterTeufel

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Santa Maria: Comissão propõe na sexta-feira indemnização aos doentes
“Puseram-me cego”


"Entrei a ver no hospital e puseram-me cego. Trabalhava, era cozinheiro, e agora que vai ser de mim? Quem me vai dar trabalho quando há mais de 500 mil desempregados que vêem? Nem sequer me pediram desculpa." As dúvidas são de Walter Lago Bom, um dos seis doentes do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, que cegaram após a troca de um medicamento, a 17 de Julho de 2009.


Walter Lago Bom e Maria das Dores Rodrigues estão a adaptar-se à nova condição de invisual. São residentes, de segunda a sexta-feira,numa escola para cegos, onde aprendem a viver sem visão e com a ajuda de bengala.

É com expectativa que os seis doentes aguardam pela proposta da comissão que, nos últimos seis meses, avalia a indemnização a pagar pelo Hospital de Santa Maria. O montante é-lhes comunicado pessoalmente na sexta-feira, pelo juiz-desembargador Eurico Reis, que preside à comissão.

Para se chegar a um montante, os seis doentes submeteram-se, em Janeiro, a perícias médicas realizadas por especialistas do Instituto Nacional de Medicina Legal (INML) de Lisboa. Segundo apurou o CM, o resultado dessas perícias produziram "excelentes resultados" e ideias concretas sobre a acuidade visual de cada um dos doentes, permitindo aos peritos detectar se havia alguma situação de simulação ou de dissimulação.

"É possível enganar um perito mas é muito difícil porque tem formação para detectar enganos", disse fonte do INML.

As perícias incidiram sobre o que veriam os doentes se não tivessem recebido o medicamento errado, o que vêem e as perspectivas futuras da sua visão.

Américo Palhota foi gerente numa "das melhores sapatarias de Lisboa". Já reformado, tinha um quiosque de venda de jornais. "Não sei o valor da visão. Quem errou devia ir para a cadeia uns meses."

MARIA DAS DORES GARANTE QUE JÁ NÃO CONSEGUE VER OS VULTOS

Maria das Dores Rodrigues afirmou ao CM que piorou da vista esquerda, a única que revelou melhorias após ter recebido o medicamento trocado. "Quando estava no hospital via vultos, mas agora não consigo ver nada, já não consigo ver vultos nenhuns, só claridade e escuridão." A doente é residente, como Walter Lago Bom, no Centro de Reabilitação Nossa Senhora dos Anjos, em Lisboa, instituição tutelada pelo Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social. Maria das Dores disse ter deixado de ver os vultos "depois de ter sido operada, há um mês". Continua com os tratamentos das gotas e de oito em oito dias vai à consulta no Santa Maria. "Não queria dinheiro, só ver." Outra doente, Antónia Martins diz: "Ponho pingos mas está na mesma".

DOENTES PODEM IR PARA A JUSTIÇA

O juiz-desembargador Eurico Reis, que preside à comissão que avalia o caso dos cegos de Santa Maria, afirmou ao CM que os doentes e a administração hospitalarpodem recorrer para os tribunais caso não concordem com o valorda indemnização proposta pelacomissão. O doente Américo Palhota diz que essa possibilidade não lhe agrada, devido à morosidade da Justiça. "Os tribunais levam anos a dar a sentença."

APONTAMENTOS

Remédio trocado

Os doentes deviam ter recebido alguns miligramas de bevacizumab, princípio activo do Avastin. Receberam um princípio activo usado como substituto da quimioterapia, que destrói as células fora dos vasos sanguíneos.

Hospital não comenta

O hospital não quis pronunciar-se sobre o caso dos cegos até que o processo esteja encerrado. Para o desfecho do caso foi determinante a investigação da Polícia Judiciária, que concluiu que a técnica de farmácia e o farmacêutico prepararam o produto à pressa.

Acusados de crime

O farmacêutico H.D., 29 anos, e a técnica de farmácia S.B., 24 anos, foram acusados de seis crimes de ofensa à integridade física grave. Continuam ao serviço mas foram afastados da preparação de terapêuticas.



Fonte Correio da Manhã
 
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