• Olá Visitante, se gosta do forum e pretende contribuir com um donativo para auxiliar nos encargos financeiros inerentes ao alojamento desta plataforma, pode encontrar mais informações sobre os várias formas disponíveis para o fazer no seguinte tópico: leia mais... O seu contributo é importante! Obrigado.

Pequeno país na Guerra Grande

Rotertinho

GF Ouro
Entrou
Abr 6, 2010
Mensagens
7,883
Gostos Recebidos
8
Pequeno país na Guerra Grande

Envio do Corpo Expedicionário Português para um conflito que divide em duas a I República era muito discutido cá dentro e pouco desejado pelos aliados

Considerando-se, de forma redutora, que há dois momentos na I República (1910-1926), é evidente que o que os separa é a participação na I Guerra Mundial. Na Grande Guerra, assim chamada até outra mais sangrenta a suplantar.

Participação muito discutida por intervencionistas e anti-intervencionistas, desde mesmo antes da materialização do conflito, que mobilizou toda a Europa - excepção feita a Espanha, Países Baixos, Suíça e Escandinávia - e escreveu, com sangue, uma nova ordem mundial.

Da rivalidade económica nasceram fricções políticas que não interessará aqui desenvolver. Mas muitos apresentavam, como justificação para entrar na guerra, razões bem específicas. Vejamos: a França queria recuperar a Alsácia e a Lorena; a Bélgica queria ser soberana; a Rússia queria livre circulação pelos estreitos; a Alemanha reivindicava um papel "na administração do planeta" (palavras do escritor Thomas Mann, citado pelo historiador Marc Nouschi).

Portugal queria, do ponto dos intervencionistas, algo complexo e impossível de assumir com clareza: evitar que ingleses e alemães negociassem a posse das colónias portuguesas. Por outras palavras, a ideia era combater os ingleses ao lado deles, assim ganhando assento nas negociações subsequentes ao conflito e garantindo direitos.

Tudo isso numa total dependência das vontades dos britânicos, senhores dos mares e essenciais ao abastecimento de Portugal. Daí nasceu, justamente, a participação portuguesa na guerra. Num momento em que Afonso Costa presidia ao Conselho de Ministros, os ingleses informaram que, por carência de navios mercantes e devido aos ataques dos U-Boots alemães (os submarinos), passariam a ocupar-se apenas das próprias necessidades e das das outras nações beligerantes. Foi a oportunidade para Portugal, que se ofereceu para apresar os navios de carga alemães surtos em portos nacionais (fundamentalmente, no estuário do Tejo), caso fosse essa a vontade de Londres. Tardou o pedido, mas foi feito. Com pompa, os navios foram apresados, e a Alemanha declarou guerra a Portugal, a 9 de Março de 1916. Viria depois o corte de relações com o Império Austro-Húngaro. Não ficaríamos fora das partilhas.

União Sagrada à francesa

Intervencionistas mas desavindos, os partidos Democrático, de Afonso Costa, e Evolucionista, de António José de Almeida, juntavam-se, então, na União Sagrada, para governar, seguindo o exemplo francês de Raymond Poincaré. Ao segundo era dada a liderança do Governo, mas seria o primeiro a reassumi-la, em Abril de 1917, quando os evolucionistas deixaram o Executivo, mantendo o apoio parlamentar. Morreria a União Sagrada em Dezembro desse ano, com o golpe de Sidónio Pais. Em todo esse tempo, mandámos soldados para a frente.

Que soldados eram esses? Nota Aniceto Afonso que "os contingentes militares portugueses que combateram nos teatros de operações da Primeira Guerra Mundial, tanto na Europa como em África, não estavam convenientemente preparados para participar na guerra". Era já em terras francesas que a maioria das tropas do Corpo Expedicionário Português (CEP) recebiam instrução apressada dos ingleses, pois havia pressa dos governantes lusos em colocar gente nas trincheiras antes da chegada dos americanos.

Só no dia 2 de Abril de 1917 a primeira companhia portuguesa ocupou lugar nas trincheiras, num sector junto ao rio Lys, que, um ano depois seria palco da batalha que ficou nos anais como símbolo do pátrio martírio e marca da presença portuguesa na Flandres. Não será bem assim.

A ofensiva alemã no Lys (La Lys, usando a forma francesa de designar o rio), encetada a 9 de Abril de 1918, era o início de uma vasta manobra que não deu frutos. Ao cabo de menos de um mês, as forças aliadas passaram a ser coordenadas por um comando único e o rumo da guerra inverteu-se. O sector português era só uma parcela da grande frente de batalha, e é claro que a forma como as nossas tropas resistiram, na zona de Laventie, foi importante para suster o ataque e dar margem de reorganização às tropas britânicas. Seja como for, a derrota foi pesadíssima. Em quatro horas de combate, 398 soldados portugueses morreram e 6585 foram aprisionados pelos alemães.

Nota Isabel Pestana Marques, no capítulo que a recente "História da Primeira República Portuguesa" (coord. Fernando Rosas e Maria Fernanda Rollo) consagra à guerra das trincheiras, que "a própria imagem de um CEP inactivo, desmoralizado, subjugado perante as autoridades britânicas após o '9 de Abril' e desesperado por um regresso a casa não corresponde de todo à verdade histórica". Nem os portugueses deixaram de combater, nem tudo o que fizeram ao longo de uma demorada participação na guerra foi apagado por um só dia.

Em Portugal, o fantasma da mobilização vinha pairando sobre um "povo que, em geral, não compreendia a razão do combate e da participação portuguesa", segundo A. H. de Oliveira Marques. A participação no conflito obrigava a um endividamento brutal: Londres era credora de cerca de 22,5 milhões de libras, o que, ao câmbio da época, dava 2,2 milhões de contos, ou seja, uma brutalidade.

Para o povo, havia a fome, além da guerra. A miséria. O ano de 1917, com o fenómeno de Fátima, estimulava o desejo messiânico. Em Dezembro, Sidónio Pais tomara o poder pela força. Mas essa é outra história.


jornal de noticias
 

EIMS

GF Bronze
Membro Inactivo
Entrou
Set 25, 2006
Mensagens
71
Gostos Recebidos
0
Obrigado por este grande poste, eu näo sabia da participação de tropas Portuguesas na guerra contra os Alemäes(näo tinha essa ideia, ou estava a leste ou por vergonha näo se fala nisso lá em casa).


Comprimentos
 
Topo