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Maria Virgínia Leite Soares Castro: "Barriga inchou de medo à mesa do João do Grão"

Rotertinho

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Maria Virgínia Leite Soares Castro: "Barriga inchou de medo à mesa do João do Grão"

Maria Virgínia tinha 27 anos e sabia de tudo que se estava a preparar. O medo e o nervosismo não a tolheram, mas a barriga "inchou de medo". Foi assim, naquela noite, para a mulher do coronel Sousa e Castro, que viria a ser porta--voz do Conselho da Revolução:

"Eu e o Rodrigo fomos jantar ao 'João do Grão', na Baixa. Para fazer tempo. Quase não toquei no prato de bacalhau com grão, mas a tensão era tal que a barriga cresceu e tive de abrir o fecho e segurar com as mãos as calças vermelhas, à boca de sino".

Depois do jantar, fez o périplo pelos centros auxiliares de ligação. "Ele parava o carro, subia para confirmar se estava tudo a postos, eu ficava no carro, cheia de medo que a PIDE me viesse buscar". Correu tudo bem e foram para casa, na Amadora. Ouviram a "Grândola" e Maria Virgínia ficou só. O marido foi juntar-se aos camaradas. Ao longo da noite esperou notícias. Teve-as de casa dos tios, na Penha de França, "transformada num acampamento de homens armados e cheios de fome". "A tremer de medo, a tia fez ovos mexidos".

Ciosa da sua independência que lhe dava o lugar de professora, Maria Virgínia nunca foi com o marido para África, mas não perdeu pitada dos dias da conspiração, como no 16 de Março, o "ensaio" abortado do 25 de Abril.

"Duas mulheres, cujos maridos estavam de prevenção em Vendas Novas bateram à porta de minha casa: 'Eles querem saber se saem ou não do quartel e única pessoa que pode dar essa resposta é o teu marido'. Ele estava de prevenção. Fui ao quartel, bati à porta de armas, chamei o soldado disse que queria falar com o meu marido. Recusou. Disse-lhe que o caso era grave e envolvia a nossa filha. Falei com o comandante. Insisti e deixaram-me entrar. 'Como é, os de Vendas Novas saem ou não?, perguntei-lhe. 'É tudo maluco, ninguém sai", respondeu-me. Saí e contei às mulheres que seguiram para Torres Novas. Evitaram--se prisões, mas tive muito medo."

O medo voltaria no Verão Quente. Ao fugir com a filha para Montalegre, o carro capotou. "Dói que as pessoas não se apercebem dos perigos que correram os militares."


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