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"Debaixo de cinco cobertores e com o coração dividido"

Rotertinho

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Teresa Ferreira de Almeida Alves: "Debaixo de cinco cobertores e com o coração dividido"

"Com frio, muito frio, a bater o dente de nervoseira. Meti-me debaixo de quatro cobertores e com o coração dividido em dois". Foi assim que Teresa passou a noite de 24 para 25 de Abril, em sua casa, em Oeiras, onde as reuniões conspirativas se tinham sucedido, sem que ela soubesse (ou quisesse saber) pormenores.

"Via aqueles senhores a entrar e a sair da minha casa e eu, que estava a fazer a licenciatura em Filologia Germânica, pensava como era bom ter tempo para estudar".

Teresa é a mulher do major Vítor Alves, um dos homens do núcleo duro do MFA, e filha do almirante Ferreira de Almeida, o chefe do Estado-Maior da Armada, em Abril de 1974, que não saiu do seu posto. Pelo contrário, ficou três dias no Terreiro do Paço.

"Era uma filha dedicada e estava de alma e coração com o que meu marido defendia. Afligia-me que as coisas corressem mal ao meu marido e afligia-me que corressem mal ao meu pai".

Quando, já de manhã, conseguiu sair debaixo dos cobertores, foi para a janela avisar quem passava para não levar os filhos à escola.

"Devia parecer uma louca à janela do segundo andar a pedir às pessoas que pusessem as crianças em casa porque ia haver uma revolução".

Só pela rádio e pela televisão foi percebendo o evoluir da situação: "O Vítor telefonou para casa já no dia 25 à noite, para dizer que estava tudo bem". Mas o pai ainda estava "no seu posto".

"Ao fim de três dias regressou a casa, em Caxias. E quando toda a gente estava na rua, eu passei o 1º de Maio com o anterior regime, com os meus pais".

Seguiram-se quatro anos alucinantes. O equilíbrio só foi possível ao fim desse tempo. Do Verão Quente de 1975 ficou a memória do medo. Da pressão. Da partida com a filha para a Beira Alta. Do marido a ficar em Lisboa, claro!

Teresa, a menina que foi "um bocadinho mal comportada", que tinha reservas em relação à tropa mas não resistiu ao "'charmeur' e culto oficial do Exército", tem agora 71 anos, uma filha, uma neta e uma bisneta e já não dá aulas na Faculdade de Letras.


Jornal de Noticias
 
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