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"Foi uma explosão de cor num filme a preto e branco"

Rotertinho

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Maria da Graça Tomé: "Foi uma explosão de cor num filme a preto e branco"

"Sou filha de um militar e tinha jurado nunca casar com um militar, mas não resisti à beleza e ao grãozinho de loucura que tinha o Mário. Percebi que ali havia matéria para trabalhar e o primeiro presente que lhe ofereci foi um livro do Sartre. Comecei a fazer trabalho de sapa e cheguei a induzir a ideia de ele desertar".

Claro que Mário Tomé não desertou, mas a sua consciência política foi crescendo e pertenceu à coordenadora do MFA.

Maria da Graça estava com o marido em Nampula no dia 25 de Abril. "Lembro-me de chegar a casa e perceber que o Mário estava ao telefone a dizer: 'As fragatas estão no Tejo e estão connosco'. Desligou o telefone e garantiu: 'Isto está a andar'. Dei saltos até ao tecto e fui à cozinha abracei o Jaime, que trabalhava lá em casa e disse-lhe: 'Estamos livres, acabou a ditadura" e ele respondeu-me, tranquilo: 'Senhora, isso é coisa de branco'. E era". Mais tarde, o telefonema da mãe, de Lisboa. "Disse-me que tinha dois cigarros na mão enquanto gritava 'Viva Portugal'. Contou-me que tudo era lindo e que só achava péssimo que todos quisessem fazer greves".

Seguiram-se dias de ânsia pelo regresso a Lisboa. Em Moçambique, vivia-se ainda um clima de indefinição. Para Graça, "foi uma explosão de cor num filme a preto e branco", mas "não podíamos esquecer que de um lado tínhamos a África do Sul e o apartheid, do outro o oceano Índico e no meio os colonos brancos, que tinham muito a perder".

Já em Lisboa, com o povo na rua, Tomé tornou-se segundo-comandante da Polícia Militar, uma unidade "que se pôs ao lado do povo". Até ao 25 de Novembro.

"Aí, as águas separaram-se" e Maria da Graça ficou só, com os dois filhos. O marido foi preso em Custóias cinco meses, incluindo 40 dias incomunicável. Graça, licenciada em Direito, protestou. Era uma violação do Código de Justiça Militar. "Fui pedir contas ao chefe do Estado-Maior do Exército, Ramalho Eanes, que, de óculos escuros, disse-me: "Incomunicável, não, sempre fala com o homem que lhe leva as refeições'. Não posso esquecer".


Jornal de Noticias
 
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