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Dina Alambre: "Chegou a hora!" Seguiu-se a angústia e a clausura

Rotertinho

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Abr 6, 2010
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Dina Alambre: "Chegou a hora!" Seguiu-se a angústia e a clausura
Otelo Saraiva de Carvalho, 73 anos tenente-coronel

Fechado o posto de comando, na Pontinha, Otelo foi para casa, em Oeiras. Já era o dia seguinte.

"Ele chegou, fez a barba, tomou banho e saímos. O nosso filho ficou com uma vizinha e fomos almoçar a Paço d'Arcos. Depois, seguimos para Caxias ver a libertação dos presos políticos". Terminavam para Dina as horas de angústia mas também de "reclusão".

Dia 23 à noite. "Chegou a hora!" Não era preciso Otelo dizer mais nada. Dina já sabia o que o marido estava a preparar. Lá em casa, ainda nova e com pouca mobília, tinha havido muitas reuniões para concretizar em planos o que tinha sido tema de muitas conversas na Guiné, no ano anterior.

O golpe falhado de 16 de Março tinha-lhe dado experiência. O marido tinha sido levado de casa para o quartel para ficar de prevenção. Desta vez, fechou as janelas, não acendeu luzes e não deixou o filho de oito anos sair de casa, nem para brincar na rua. Os desenhos e os legos foram a opção para o manter distraído. Só respirou fundo quando a rádio deu conta do êxito da operação, quase dois dias depois. "Não comunicámos. Não tínhamos telefone em casa, nem televisão, ouvia a rádio, apenas. O meu marido fazia os telefonemas na mercearia perto de casa, nunca quis ter telefone em casa até as coisas mudarem". Dina já conhecia a angustia da ausência. "Nessas horas, senti a ansiedade igual à de quando, na guerra, ele saía para o mato e eu ficava dias sem saber se estava vivo ou morto. Aqui, o medo era o do Tarrafal".

Alambre é o apelido que poucos conhecem da "mulher do Otelo". Conhecem-se desde o Liceu Salazar, na antiga Lourenço Marques. Ambos nascerem e cresceram em Moçambique. "É assim para quem casa com uma figura mediática. Fiquei a assegurar a retaguarda, a cuidar dos filhos". Dois, agora.

Aos 73 anos, Dina confessa que a vida nunca lhe foi fácil. A vinda de Moçambique para Lisboa aos 18 anos, o casamento, o curso de Medicina abandonado para seguir o marido para Angola, o trabalho como fisoterapeuta. "Não tínhamos futuro, apenas um presente prolongado".


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