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Sempre prontos a recorrer à força armada

Rotertinho

GF Ouro
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Sempre prontos a recorrer à força armada
Último século da história portuguesa está recheado de revoltas, golpes ou intentonas, mas só poderá falar-se em três grandes revoluções: 1910, 1926

Do 31 de Janeiro já falámos abundantemente, o mesmo faremos a propósito do golpe levado a cabo a 4 e 5 de Outubro de 1910. Importará agora centrar a memória na extensa listagem de golpes e contragolpes que pautaram a vida portuguesa desde que a República foi implantada, das incursões monárquicas de Paiva Couceiro ao sidonismo, dos movimentos "reviralhistas" às tentativas falhadas de apear Salazar.

Ainda não tinha o regime cumprido um ano quando, no Porto, houve uma primeira e frágil tentativa de golpe monárquico, prólogo às incursões feitas a partir de Espanha e comandadas por Paiva Couceiro, em Outubro desse ano e em Julho de 1912, ou até da "Monarquia do Norte", em 1919. A primeira incursão ocorreu menos de um mês depois de Espanha e outros países, a reboque do Reino Unido, terem reconhecido a República Portuguesa. Justamente no dia 5 de Outubro, Paiva Couceiro passou a fronteira na região trasmontana, com 700 homens, não indo além de Vinhais, onde foi travado pelo Exército. Já a segunda tentativa durou três dias, de 6 a 8 de Julho de 1912. Desta vez, as tropas monárquicas dividiam-se por três colunas, entrando igualmente por Trás-os-Montes. Novo fiasco. Em Outubro de 1913, outra tentativa era feita em Lisboa. Valeu zero.

Pelas armas caiu, a 14 de Maio de 1915, a ditadura do general Pimenta de Castro, que havia retardado a intervenção portuguesa na Grande Guerra. Ganhavam o Partido Republicano Português e a tendência intervencionista. Nas ruas de Lisboa tombavam 200 mortos e mil feridos. E foi já com o Corpo Expedicionário Português nas trincheiras que, a 5 de Dezembro de 1917, estalou o golpe que levou ao poder Sidónio Pais, caudilho que protagonizou a primeira experiência rumo ao totalitarismo que em 1926 vingaria. Tiroteios fixaram em 109 mortos e meia centena de feridos o balanço da revolta. Outro tiro a 14 de Dezembro de 1918, tirou a vida àquele a quem chamaram presidente-rei, que escapara a outro atentado a 4 do mesmo mês.

Viria, em 1919, nova tentativa de restaurar a monarquia. Ficou conhecida por "Monarquia do Norte", "Reino da Traulitânia" ou "Monarquia do quarteirão", por ter durado 25 dias (de 19 de Janeiro a 13 de Fevereiro). Durante o sidonismo, juntas militares haviam sido constituídas pelo país, para controlar a subversão, mas, à revelia do Governo, com o claro propósito de derrubar o regime. Em simultâneo, as juntas de Lisboa e do Porto proclamaram a monarquia. Se o levantamento foi facilmente controlado na capital, o Norte chegou a ser reino.

No Porto, Paiva Couceiro, que chefiara as incursões monárquicas em Trás-os-Montes, liderou uma Junta Governativa do Reino, com sete ministérios. O Vouga era o limite meridional, Chaves era o único enclave republicano, e os ditos 25 dias foram consagrados a medidas legislativas, da restauração da Carta Constitucional à revogação das leis desde o 5 de Outubro. Alguns combates (Águeda, Lamego, Estarreja) precederam a entrada das tropas republicanas no Porto e o fim da aventura.

Marcha a partir de Braga

Até 28 de Maio de 1926, as revoltas armadas não foram empolgantes. Os militares tinham tentado, no ano anterior, tomar o poder em Lisboa, liderados por Mendes Cabeçadas, mas as sublevações haviam sido facilmente sufocadas. Foi saindo de Braga, com Gomes da Costa à cabeça, que a revolta triunfou, arrastando Portugal para 48 anos de totalitarismo. A Ditadura Militar nasceu de uma marcha triunfante do Minho a Lisboa. Pelo caminho, as unidades do Exército aderiam ao movimento, ou mantinham-se neutrais. O Governo demite-se e, em Junho, cai o presidente da República, Bernardino Machado. Terminava a Primeira República.

O que veio depois, tanto a Ditadura Militar como o Estado Novo, instituído pela Constituição de 1933, é visto como um interregno no regime republicano, embora o cargo de presidente da República se tenha mantido, com a aparência de chefia do Estado. Não morreu aí, claro, a veia revolucionária. A corrente chamada do "Reviralho" manteve-se particularmente activa nos primeiros tempos da Ditadura, sendo muito relevante aquilo a que se chama Revolução de Fevereiro, em 1927. Militares da Marinha e do Exército tinham a seu lado milhares de civis, dispostos a lutar, e foi no Porto que a revolta primeiro eclodiu, havendo combates entre os dias 3 e 6. Essencialmente, houve combates de artilharia entre os revoltosos, concentrados na Praça da Batalha, e as tropas do Governo, que estavam em Gaia, na Serra do Pilar. Renderam-se os republicanos quando as munições escasseavam e a revolta eclodia em Lisboa. Resumidamente, as operações começaram cedo de mais, no Porto, e tarde de mais, em Lisboa, onde também ocorreram violentos combates. O balanço oficial deu conta de 165 mortos nas duas cidades, além de centenas de feridos. Mais de mil pessoas foram deportadas para os arquipélagos dos Açores e da Madeira ou para as colónias.

Mudança no pós-guerra

Nunca deixou de existir a vontade de derrubar a ditadura, mesmo depois da ascensão de Oliveira Salazar, mas só depois da II Guerra Mundial a oposição foi ganhando solidez. Antes, em 1937, houvera um atentado contra o presidente do Conselho de Ministros, que saía do automóvel, para assistir à missa na capela privada do seu amigo Josué Trocado, quando uma bomba rebentou. Não sofreu qualquer ferimento. Dias depois, a Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (designação inicial da polícia política) detinha cinco suspeitos.

Foi apenas após o furacão que foi a campanha de Humberto Delgado, em 1958, que a esperança voltou a estimular a revolta. Dois episódios fulcrais são o golpe de Botelho Moniz, em Abril de 1961, e a revolta de Beja, no final do mesmo ano, depois de ter havido um plano para derrubar Salazar de que o próprio presidente, Craveiro Lopes, tinha conhecimento.

A tentativa de Botelho Moniz, ministro da Defesa, era estimulada pelo êxito da campanha de Delgado e pelo início da guerra em Angola, mas foi anulada com uma manobra palaciana de Salazar, que teve, pela primeira vez, de lidar com oposição no próprio gabinete. Quanto ao assalto ao quartel de Beja, seria o impulso para Delgado tomar o poder, mas foi um fracasso, empurrando para o exílio o "general sem medo".

Em Abril de 1974, o regime caiu. Até lá, a única acção de revolta relevante foi o levantamento do Quartel de Infantaria 5, nas Caldas da Rainha, pouco mais de um mês antes (16 de Março. Falhou o ensaio, mas os dados estavam definitivamente lançados.


Jornal de Noticias
 
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