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Elas esperaram em casa pelos militares de Abril

Rotertinho

GF Ouro
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Abr 6, 2010
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Dos "capitães de Abril", sabe-se quase tudo. Das companheiras, que estiveram na guerra com eles, que abriram as portas de casa para a conspiração, pouco se sabe. Nem o nome. São as mulheres dos heróis que, há 36 anos, sabiam que a Liberdade era possível.

Que fizeram naquela noite as mulheres dos "homens sem sono"? Esperaram em casa por ouvir a voz que anunciasse a deposição dos ditadores e, acima de tudo, o fim da guerra colonial, que já durava há 13 anos.

Antes que, de manhã, o primeiro cravo vermelho fosse colocado na ponta da espingarda do soldado que seguia a caminho da vitória, já as mulheres dos estrategas do Movimento das Forças Armas, o MFA, sabiam que o 25 de Abril de 1974 ia ficar na História, como o último dia da ditadura, que durava desde 1926.

Tinham vivido em África. Para muitas, terra desconhecida, onde aprenderam a esperar e a ansiar pelo silêncio. Esperavam que o helicóptero que sobrevoava o aquartelamento não trouxesse os seus homens feridos; à noite, só o algodão nos ouvidos deixava entrar o silêncio, abafado pelos estrondos da guerra. Outras tinham ficado cá, também à espera, com os filhos e o emprego que era preciso segurar.

O futuro não existia, "só um presente prolongado", como disse ao JN Dina Alambre, a "mulher do Otelo", como ficou conhecida a companheira do autor do plano operacional do MFA.

A discussão política tinha começado a passar pelas conversas no final dos anos 60, já a guerra começava a receber os milicianos politizados, alguns organizados em movimentos clandestinos que "abriram os olhos" aos militares de carreira. Só o derrube do regime de Salazar/Caetano podia pôr fim à guerra, que "não tinha solução militar", como começaram a perceber os oficiais colocados nas frentes de combate, em particular na Guiné.

A conspiração começou a forjar-se nas conversas em casa e nas reuniões secretas que começaram a ser cada vez mais frequentes. Elas, as mulheres dos militares, pouco sabiam, mas pressentiam.

Ao contrário das muitas mulheres, cujos nomes saíram para a ribalta política à medida que a democracia se consolidava, as companheiras dos heróis do MFA "perderam" os seus nomes e quase não chegaram a ter rosto.

O JN procurou-as. Algumas insistiram em ficar no anonimato, em guardar memórias e emoções dentro das quatro paredes, outras falaram para a Imprensa pela primeira vez. O distanciamento garantido pela passagem dos anos já permite falar de assuntos que tinham guardado para contar aos filhos, aos netos e aos bisnetos que começam a chegar.

Seis conversas (ler páginas seguintes) andaram à volta da noite de há 36 anos. Palavras das "sombras de heróis", que, como foi o caso da companheira de Vítor Alves, viu cair do seu nome os apelidos de família. Na Faculdade de Letras, onde foi professora, passou a ser conhecida por Teresa Alves. "E houve quem jurasse que eu sempre tivera só esse nome".


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