Rotertinho
GF Ouro
- Entrou
- Abr 6, 2010
- Mensagens
- 7,884
- Gostos Recebidos
- 8
Dos "capitães de Abril", sabe-se quase tudo. Das companheiras, que estiveram na guerra com eles, que abriram as portas de casa para a conspiração, pouco se sabe. Nem o nome. São as mulheres dos heróis que, há 36 anos, sabiam que a Liberdade era possível.
Que fizeram naquela noite as mulheres dos "homens sem sono"? Esperaram em casa por ouvir a voz que anunciasse a deposição dos ditadores e, acima de tudo, o fim da guerra colonial, que já durava há 13 anos.
Antes que, de manhã, o primeiro cravo vermelho fosse colocado na ponta da espingarda do soldado que seguia a caminho da vitória, já as mulheres dos estrategas do Movimento das Forças Armas, o MFA, sabiam que o 25 de Abril de 1974 ia ficar na História, como o último dia da ditadura, que durava desde 1926.
Tinham vivido em África. Para muitas, terra desconhecida, onde aprenderam a esperar e a ansiar pelo silêncio. Esperavam que o helicóptero que sobrevoava o aquartelamento não trouxesse os seus homens feridos; à noite, só o algodão nos ouvidos deixava entrar o silêncio, abafado pelos estrondos da guerra. Outras tinham ficado cá, também à espera, com os filhos e o emprego que era preciso segurar.
O futuro não existia, "só um presente prolongado", como disse ao JN Dina Alambre, a "mulher do Otelo", como ficou conhecida a companheira do autor do plano operacional do MFA.
A discussão política tinha começado a passar pelas conversas no final dos anos 60, já a guerra começava a receber os milicianos politizados, alguns organizados em movimentos clandestinos que "abriram os olhos" aos militares de carreira. Só o derrube do regime de Salazar/Caetano podia pôr fim à guerra, que "não tinha solução militar", como começaram a perceber os oficiais colocados nas frentes de combate, em particular na Guiné.
A conspiração começou a forjar-se nas conversas em casa e nas reuniões secretas que começaram a ser cada vez mais frequentes. Elas, as mulheres dos militares, pouco sabiam, mas pressentiam.
Ao contrário das muitas mulheres, cujos nomes saíram para a ribalta política à medida que a democracia se consolidava, as companheiras dos heróis do MFA "perderam" os seus nomes e quase não chegaram a ter rosto.
O JN procurou-as. Algumas insistiram em ficar no anonimato, em guardar memórias e emoções dentro das quatro paredes, outras falaram para a Imprensa pela primeira vez. O distanciamento garantido pela passagem dos anos já permite falar de assuntos que tinham guardado para contar aos filhos, aos netos e aos bisnetos que começam a chegar.
Seis conversas (ler páginas seguintes) andaram à volta da noite de há 36 anos. Palavras das "sombras de heróis", que, como foi o caso da companheira de Vítor Alves, viu cair do seu nome os apelidos de família. Na Faculdade de Letras, onde foi professora, passou a ser conhecida por Teresa Alves. "E houve quem jurasse que eu sempre tivera só esse nome".
Jornal de Noticias
Que fizeram naquela noite as mulheres dos "homens sem sono"? Esperaram em casa por ouvir a voz que anunciasse a deposição dos ditadores e, acima de tudo, o fim da guerra colonial, que já durava há 13 anos.
Antes que, de manhã, o primeiro cravo vermelho fosse colocado na ponta da espingarda do soldado que seguia a caminho da vitória, já as mulheres dos estrategas do Movimento das Forças Armas, o MFA, sabiam que o 25 de Abril de 1974 ia ficar na História, como o último dia da ditadura, que durava desde 1926.
Tinham vivido em África. Para muitas, terra desconhecida, onde aprenderam a esperar e a ansiar pelo silêncio. Esperavam que o helicóptero que sobrevoava o aquartelamento não trouxesse os seus homens feridos; à noite, só o algodão nos ouvidos deixava entrar o silêncio, abafado pelos estrondos da guerra. Outras tinham ficado cá, também à espera, com os filhos e o emprego que era preciso segurar.
O futuro não existia, "só um presente prolongado", como disse ao JN Dina Alambre, a "mulher do Otelo", como ficou conhecida a companheira do autor do plano operacional do MFA.
A discussão política tinha começado a passar pelas conversas no final dos anos 60, já a guerra começava a receber os milicianos politizados, alguns organizados em movimentos clandestinos que "abriram os olhos" aos militares de carreira. Só o derrube do regime de Salazar/Caetano podia pôr fim à guerra, que "não tinha solução militar", como começaram a perceber os oficiais colocados nas frentes de combate, em particular na Guiné.
A conspiração começou a forjar-se nas conversas em casa e nas reuniões secretas que começaram a ser cada vez mais frequentes. Elas, as mulheres dos militares, pouco sabiam, mas pressentiam.
Ao contrário das muitas mulheres, cujos nomes saíram para a ribalta política à medida que a democracia se consolidava, as companheiras dos heróis do MFA "perderam" os seus nomes e quase não chegaram a ter rosto.
O JN procurou-as. Algumas insistiram em ficar no anonimato, em guardar memórias e emoções dentro das quatro paredes, outras falaram para a Imprensa pela primeira vez. O distanciamento garantido pela passagem dos anos já permite falar de assuntos que tinham guardado para contar aos filhos, aos netos e aos bisnetos que começam a chegar.
Seis conversas (ler páginas seguintes) andaram à volta da noite de há 36 anos. Palavras das "sombras de heróis", que, como foi o caso da companheira de Vítor Alves, viu cair do seu nome os apelidos de família. Na Faculdade de Letras, onde foi professora, passou a ser conhecida por Teresa Alves. "E houve quem jurasse que eu sempre tivera só esse nome".
Jornal de Noticias