Rotertinho
GF Ouro
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Sertã: Viatura desgovernada atinge coluna composta por 17 pessoas
Despiste mata dois peregrinos
Rui está desfeito, vestido de preto de alto a baixo, incluindo um capuz que lhe abafa o rosto de dor. Casado há sete meses, viu a sua mulher, Sandra, de 23 anos, morrer esmagada por um carro que atingiu uma coluna de peregrinos, na madrugada de ontem, na Sertã. O acidente causou ainda a morte a outro caminhante, de 57 anos, e ferimentos num terceiro, de 39.
O jovem de 24 anos, residente em Senhora dos Remédios, na Sertã, era um dos 17 peregrinos que seguiam para Fátima. Além da sua mulher, Sandra Marques, vendedora, era acompanhado pelo sogro, Manuel Nunes, de 48 anos, e pela sogra. Todos assistiram à morte e estão em choque. Rui Marques, estucador, só faz questão de acrescentar ao nome de Sandra o apelido que herdou pelo casamento e recolhe-se no banco de trás do carro, confortado por amigos e familiares. O pai de Sandra sofre em silêncio.
O grupo de peregrinos tinha partido da Sertã há três horas quando, pelas 02h40, foi surpreendido por um carro na EN238, em Porto da Cruz, a três quilómetros de Cernache do Bonjardim. Os caminhantes seguiam numa valeta (a estrada não tem bermas), a maioria usando coletes reflectores, quando a viatura apareceu numa curva, entrou em despiste e, desgovernada, atingiu um grupo de cinco pessoas no fim da coluna, embatendo depois no pilar de um muro, na faixa oposta.
O VW Golf era conduzido por um jovem de 20 anos, acompanhado por outros três, de idades semelhantes. Nenhum sofreu ferimentos. Os testes de despistagem de álcool e outras drogas deram resultados negativos. Para as testemunhas do acidente, o excesso de velocidade esteve na origem da tragédia.
A dor atingiu ainda a casa do camionista Leonel da Silva, em Pombas, Sertã, que também faleceu no desastre. Um seu vizinho, Fernando dos Santos, motorista, sofreu ferimentos ligeiros.
HÁ 30 ANOS QUE IA À COVA DE IRIA
Leonel Farinha Silva ia a Fátima a pé há 30 anos. Com ele não seguia mais ninguém da família, apenas vizinhos e pessoas de aldeias próximas. 'Ainda não sabemos bem o que aconteceu, apenas que um carro com muita velocidade os atingiu', diz a sua mulher, Maria do Carmo Silva.
'ELE SÓ CHORA AO TELEFONE'
Fernando Santos ia a pé a Fátima há seis anos, sem nunca ter enfrentado qualquer problema. Ficou ferido e foi operado a um pé partido, ontem de manhã, em Castelo Branco. 'Está em estado de choque. Nós ainda não o vimos e ele, ao telefone, só chora', diz a mulher, Celeste Santos, de 30 anos, recepcionista/engomadeira, que soube da notícia pelas 05h30. Sobre o acidente, a família pouco sabe, porque não ia com a vítima.
PORMENORES
SUSPENSA
A peregrinação à Cova da Iria foi suspensa de imediato, porque os caminhantes ficaram em estado de choque.
ASSISTÊNCIA
A mãe de Sandra Marques teve de receber assistência psicológica por ter assistido à morte da filha. O mesmo sucedeu com outros peregrinos.
SOCORRO
Os Bombeiros de Cernache de Bonjardim e da Sertã prestaram socorro com seis viaturas e 15 homens, além do INEM.
INVESTIGAÇÃO
As causas do acidente estão a ser investigadas por especialistas da GNR de Castelo Branco.
'CUIDADO QUE VAI BATER'
Libânio Martins, de 45 anos, seguia com a mulher e a filha no grupo de peregrinos que, entretanto, se tinha alongado. O carro desgovernado atingiu o fim da coluna, onde iam cinco pessoas mais agrupadas. 'Eu e outro colega tivemos de nos deitar ao chão para a entrada de uma pequena estrada de terra batida', conta o peregrino que se dedica à exploração florestal e trabalha há dois anos em Espanha. 'Lembro-me de tudo. Ainda gritei: cuidado que este gajo vai-nos bater, mas nada havia a fazer! O carro devia vir aí a uns 120--150 km/hora', descreve. 'A velocidade era tanta, que o carro ficou desgovernado, andou às voltas na barreira e na estrada, e ainda tocou noutro – que não parou –, antes de embater no pilar', adianta Libânio Martins que, com os outros peregrinos, contava chegar hoje, pelas 11h00, ao Altar do Mundo. A peregrinação era organizada por Manuel Nunes, de 48 anos, magarefe de profissão, pai de Sandra Marques. Há vinte anos que organiza caminhadas semelhantes, com o mesmo trajecto, e aponta o excesso de velocidade como causa para o acidente: 'Ele vinha a uns 150 km/hora'.
NOTAS
ESTRADA: ZONA PERIGOSA
O condutor terá sido surpreendido pelos peregrinos na estrada, logo a seguir a uma curva. A via é considerada perigosa por permitir altas velocidades e na zona já morreram outras pessoas
PEREGRINOS: TENTARAM AVISAR
No instante em que viram aproximar-se o carro, alguns peregrinos ainda fizeram sinais com as mãos ao condutor para que abrandasse, mas já não conseguiram evitar a tragédia
HABITUAL: MESMO PERCURSO
Muitos dos peregrinos estavam habituados a caminhar na EN238, mas a estrada não reúne as condições para o efeito, já que não possui bermas, obrigando-os a seguir pelo alcatrão .
Correio da Manha
Despiste mata dois peregrinos
Rui está desfeito, vestido de preto de alto a baixo, incluindo um capuz que lhe abafa o rosto de dor. Casado há sete meses, viu a sua mulher, Sandra, de 23 anos, morrer esmagada por um carro que atingiu uma coluna de peregrinos, na madrugada de ontem, na Sertã. O acidente causou ainda a morte a outro caminhante, de 57 anos, e ferimentos num terceiro, de 39.
O jovem de 24 anos, residente em Senhora dos Remédios, na Sertã, era um dos 17 peregrinos que seguiam para Fátima. Além da sua mulher, Sandra Marques, vendedora, era acompanhado pelo sogro, Manuel Nunes, de 48 anos, e pela sogra. Todos assistiram à morte e estão em choque. Rui Marques, estucador, só faz questão de acrescentar ao nome de Sandra o apelido que herdou pelo casamento e recolhe-se no banco de trás do carro, confortado por amigos e familiares. O pai de Sandra sofre em silêncio.
O grupo de peregrinos tinha partido da Sertã há três horas quando, pelas 02h40, foi surpreendido por um carro na EN238, em Porto da Cruz, a três quilómetros de Cernache do Bonjardim. Os caminhantes seguiam numa valeta (a estrada não tem bermas), a maioria usando coletes reflectores, quando a viatura apareceu numa curva, entrou em despiste e, desgovernada, atingiu um grupo de cinco pessoas no fim da coluna, embatendo depois no pilar de um muro, na faixa oposta.
O VW Golf era conduzido por um jovem de 20 anos, acompanhado por outros três, de idades semelhantes. Nenhum sofreu ferimentos. Os testes de despistagem de álcool e outras drogas deram resultados negativos. Para as testemunhas do acidente, o excesso de velocidade esteve na origem da tragédia.
A dor atingiu ainda a casa do camionista Leonel da Silva, em Pombas, Sertã, que também faleceu no desastre. Um seu vizinho, Fernando dos Santos, motorista, sofreu ferimentos ligeiros.
HÁ 30 ANOS QUE IA À COVA DE IRIA
Leonel Farinha Silva ia a Fátima a pé há 30 anos. Com ele não seguia mais ninguém da família, apenas vizinhos e pessoas de aldeias próximas. 'Ainda não sabemos bem o que aconteceu, apenas que um carro com muita velocidade os atingiu', diz a sua mulher, Maria do Carmo Silva.
'ELE SÓ CHORA AO TELEFONE'
Fernando Santos ia a pé a Fátima há seis anos, sem nunca ter enfrentado qualquer problema. Ficou ferido e foi operado a um pé partido, ontem de manhã, em Castelo Branco. 'Está em estado de choque. Nós ainda não o vimos e ele, ao telefone, só chora', diz a mulher, Celeste Santos, de 30 anos, recepcionista/engomadeira, que soube da notícia pelas 05h30. Sobre o acidente, a família pouco sabe, porque não ia com a vítima.
PORMENORES
SUSPENSA
A peregrinação à Cova da Iria foi suspensa de imediato, porque os caminhantes ficaram em estado de choque.
ASSISTÊNCIA
A mãe de Sandra Marques teve de receber assistência psicológica por ter assistido à morte da filha. O mesmo sucedeu com outros peregrinos.
SOCORRO
Os Bombeiros de Cernache de Bonjardim e da Sertã prestaram socorro com seis viaturas e 15 homens, além do INEM.
INVESTIGAÇÃO
As causas do acidente estão a ser investigadas por especialistas da GNR de Castelo Branco.
'CUIDADO QUE VAI BATER'
Libânio Martins, de 45 anos, seguia com a mulher e a filha no grupo de peregrinos que, entretanto, se tinha alongado. O carro desgovernado atingiu o fim da coluna, onde iam cinco pessoas mais agrupadas. 'Eu e outro colega tivemos de nos deitar ao chão para a entrada de uma pequena estrada de terra batida', conta o peregrino que se dedica à exploração florestal e trabalha há dois anos em Espanha. 'Lembro-me de tudo. Ainda gritei: cuidado que este gajo vai-nos bater, mas nada havia a fazer! O carro devia vir aí a uns 120--150 km/hora', descreve. 'A velocidade era tanta, que o carro ficou desgovernado, andou às voltas na barreira e na estrada, e ainda tocou noutro – que não parou –, antes de embater no pilar', adianta Libânio Martins que, com os outros peregrinos, contava chegar hoje, pelas 11h00, ao Altar do Mundo. A peregrinação era organizada por Manuel Nunes, de 48 anos, magarefe de profissão, pai de Sandra Marques. Há vinte anos que organiza caminhadas semelhantes, com o mesmo trajecto, e aponta o excesso de velocidade como causa para o acidente: 'Ele vinha a uns 150 km/hora'.
NOTAS
ESTRADA: ZONA PERIGOSA
O condutor terá sido surpreendido pelos peregrinos na estrada, logo a seguir a uma curva. A via é considerada perigosa por permitir altas velocidades e na zona já morreram outras pessoas
PEREGRINOS: TENTARAM AVISAR
No instante em que viram aproximar-se o carro, alguns peregrinos ainda fizeram sinais com as mãos ao condutor para que abrandasse, mas já não conseguiram evitar a tragédia
HABITUAL: MESMO PERCURSO
Muitos dos peregrinos estavam habituados a caminhar na EN238, mas a estrada não reúne as condições para o efeito, já que não possui bermas, obrigando-os a seguir pelo alcatrão .
Correio da Manha