• Olá Visitante, se gosta do forum e pretende contribuir com um donativo para auxiliar nos encargos financeiros inerentes ao alojamento desta plataforma, pode encontrar mais informações sobre os várias formas disponíveis para o fazer no seguinte tópico: leia mais... O seu contributo é importante! Obrigado.

Roberto Carlos. "As manias tornavam-me desagradável" - vídeo

interstar@

GF Ouro
Membro Inactivo
Entrou
Set 26, 2006
Mensagens
3,873
Gostos Recebidos
0
O cantor, que faz 50 anos de carreira, fala da doença e do seu estilo de vida. Já foi o Elvis do Brasil, hoje é o Sinatra latino

0000162245.jpg




Roberto Carlos tem uma presença tão grande na música pop desde há tanto tempo que quando surgiu foi apelidado de Elvis Presley do Brasil. Em tempos abriu mesmo um espectáculo no país para Bill Haley e os seus Comets. Porém, 50 anos, 120 milhões de discos vendidos e diversas mudanças de estilo depois, é hoje apresentado por muitos como o Frank Sinatra da América Latina.

Nenhum latino-americano vendeu mais discos do que Roberto Carlos, que actuou nos dias 16 e 17 de Abril no Radio City Music Hall (Nova Iorque), em espectáculos integrados na sua digressão pela América do Norte, a terminar um ano cheio de eventos comemorativos do seu meio século de gravações. Peçam-lhe para explicar o segredo do seu longo sucesso e a resposta fará alusões ao seu carácter e gostos de camaleão.

"Ouço e gosto de todos os tipos de música, de bossa nova a country, e de vez em quando corro alguns riscos", afirma o cantor, que completou 69 anos no passado dia 19 de Abril, em entrevista telefónica feita a partir da sua casa no Rio de Janeiro. "Mas o rock'n'roll, aquele ritmo alto e constante, aquela instrumentação, estão sempre presentes no meu estilo, mesmo que surja de uma forma um pouco suave."

Roberto Carlos Braga nasceu numa pequena cidade do interior do Brasil, tendo feito a sua primeira apresentação numa estação de rádio local, aos nove anos. Inspirado por Presley e Little Richard, mudou-se para o Rio na adolescência, cantando e tocando guitarra em bandas com nomes como Sputniks, até conseguir um contrato de gravação como artista a solo.

Nesse período inicial, como líder daquilo que ficou conhecido como o movimento da Jovem Guarda, Roberto Carlos teve alguns dos seus maiores sucessos com versões de êxitos do rock'n'roll e da pop norte-americanos, como "Splish Splash", "Road Hog", "Unchain My Heart", "Alley-Oop" ou "The Wanderer". Mas por volta de 1965 começou a emergir como escritor de canções com uma aptidão para adivinhar o que agradava ao público consumidor de discos, compondo habitualmente com Erasmo Carlos Esteves, um amigo e companheiro de banda dos seus anos de adolescente.

A parceria mantém-se até hoje e rendeu mais de 500 canções, muitas delas também gravadas por outros artistas. Os críticos brasileiros gostam de comparar a dupla a Lennon e McCartney, não só em termos do imenso resultado mas também por causa do contraste de estilo e gosto entre os dois homens.

"Eles já não passam assim tanto tempo juntos nesta altura, mas existe uma química quase perfeita entre os dois" quando escrevem, afirma Paulo Cesar de Araújo, autor da biografia "Roberto Carlos: em Detalhes". "Erasmo é mais demarcado, com o rock'n'roll a pulsar nas suas veias, enquanto Roberto tende a ser mais suave, mais romântico."

Em meados da década de 1960, Roberto Carlos começou também a gravar em espanhol, à procura de um lugar no mercado da vizinha Argentina. Mas conforme evoluiu para um crooner romântico, que gosta de Sinatra e Tony Bennett, de boleros e outros estilos melodramáticos latinos, a sua popularidade disparou e estendeu-se em direcção ao norte, até ao México, rivalizando com a de Julio Iglesias.

Desde os anos 70 do século passado, as composições mais populares de Roberto Carlos - como "Detalhes", "Amada Amante" e "Café da Manhã" - têm sido baladas românticas e não canções rock na linha de "Quero que Vá Tudo para o Inferno", um dos seus primeiros sucessos ainda popular junto das bandas punk. "Amigo", outro êxito, era um dos temas favoritos do Papa João Paulo II, interpretado com frequência durante as suas visitas ao continente americano, algo que o cantor considerava particularmente gratificante. "Sou religioso, sou católico, gosto de mensagens", afirma.

Porém mesmo quando canta uma melodia optimista, a sua voz é invadida por uma certa melancolia. A sua vida não tem sido fácil: perdeu parte da perna num acidente de comboio quando criança; o filho, Roberto Jr., é cego; e em 1999, Maria Rita, a sua terceira mulher, que considera o amor da sua vida e a inspiração para as canções mais românticas, foi vítima de um cancro, aos 38 anos.

A certa altura durante a década de 1990, Roberto Carlos começou a ser obsessivo--compulsivo. Isso impediu-o de cantar alguns dos seus maiores êxitos, que incluem palavras que se tornaram tabu para ele, casos de "mal" e "mentira", e reforçou os seus tiques em palco, como aparecer com um fundo em azul e vestir-se sempre de branco.

Mas em 2004 tornou público o seu problema. "As minhas manias estavam a tornar-me desagradável", revelou a uma revista brasileira e anunciou que iria receber tratamento. Talvez em resultado disso, as suas actuações pareceram revigoradas nos anos mais recentes.

"Sempre me senti confortável em palco e nunca pensei que ser obsessivo-compulsivo interferisse comigo quando estava lá em cima", explicou o cantor quando questionado acerca do problema. "É verdade que há algumas canções que não interpreto de todo e outras em que evito uma ou outra palavra e tenho de encontrar uma substituta. Mas voltei a cantar muitas delas e tenho esperança de cantá-las a todas."

No entanto, o seu estilo de vida permanece recluso, ao ponto de ter ido a tribunal há alguns anos e conseguido uma providência cautelar que interrompeu a distribuição da biografia escrita por Araújo, sob a acusação de invasão de privacidade. Vive num bairro não particularmente na moda, no sopé do Pão de Açúcar, e evita assiduamente concertos, jogos de futebol e outros eventos públicos em que se arrisque a ser alvo de cobertura mediática.

"Sei que quando saio, vou encontrar o afecto do público e estou bastante tranquilo acerca disso", afirma. "Temos de ver isso de uma forma positiva. Mas toda a gente gosta de um pouco de privacidade, de ter a sua liberdade, e eu também não sou diferente."

Antes da digressão de aniversário, o projecto mais recente de Roberto Carlos foi uma colaboração com Caetano Veloso, um tributo bossa nova a António Carlos Jobim gravado ao vivo, depois editado em CD e DVD. Veloso, um dos fundadores do movimento Tropicalista, é um dos favoritos da crítica, elogiado pelas suas tendências vanguardistas e experimentação constante. Isso poderia situá--lo numa área estética bastante diferente, mas ele cita Roberto Carlos como uma das suas maiores influências.

Por exemplo, na sua autobiografia, "Verdade Tropical", Veloso chama a Roberto Carlos "O Rei" e descreve-o como "a presença simbólica do Brasil". Também elogia algum do trabalho inicial de Roberto Carlos, considerando-o semelhante aos Beatles e aos Rolling Stones, com a diferença de a banda funk original do cantor "estar mais próxima da Motown e de James Brown do que de um grupo inglês de neo-rock'n'roll".

Para Roberto Carlos, o projecto bossa nova representou um regresso às suas raízes que pareceu anunciar outra mudança de estilo. "Foi um marco", afirma Nelson Motta, compositor, produtor e autor, que se recorda de o ver no início da carreira, quando ele era menosprezado como um clone de João Gilberto, o inventor do estilo comedido e suave de cantar bossa nova.

"Uma pessoa tem de ser muito boa, com um talento enorme, para ser criticada por isso", explica Motta. "É como ser acusado de ser uma cópia de Pelé quando se joga futebol. Roberto sempre teve esse temperamento e voz bossa nova, esse factor contido, mas por ter sido rejeitado pelos grupos da bossa nova, passou para o lado do rock. Ele tem estado numa longa crise com todos esses discos românticos e religiosos, mas agora vejo-o ressuscitado e animado, e isso deixa-me desejoso de ouvir o seu próximo álbum de canções próprias."

















ionline.pt
 
Topo