Rotertinho
GF Ouro
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Crime nas cidades: Ladrões são cada vez mais novos
Jovens escolhem escola do crime
Alfredo Monteiro, de 19 anos, e Paulo Costa, de 23, foram condenados a sete anos de prisão, que cumprem desde Fevereiro. Ambos faziam parte de um gang de cinco jovens – entre os quais duas raparigas de 16 e 17 anos – que em cerca de duas semanas praticou 76 crimes violentos, entre os quais o sequestro de quatro rapazes e diversos assaltos armados em várias zonas do distrito do Porto.
Alfredo tinha apenas 14 anos quando participou no assalto armado à farmácia Nelas, em Guimarães. O farmacêutico foi baleado e ficou paraplégico. Como à época era menor, Alfredo foi internado numa instituição da qual acabou por fugir. Juntou-se aos outros quatro, também oriundos de centros de acolhimento de menores problemáticos, e iniciaram uma onda de roubos e assaltos a cafés e gasolineiras, nas zonas de Lousada, Paredes, Felgueiras, Santo Tirso e Guimarães. Em Lousada, junto ao bowling, sequestraram quatro amigos dentro de dois carros. Ameaçaram-nos com arma e obrigaram-nos a entregar o dinheiro num multibanco. Entre finais de 2008 e inícios de 2009 o grupo espalhava o terror por onde passava.
Este grupo é um dos exemplos da criminalidade juvenil que cresce em famílias disfuncionais e em bairros sociais problemáticos. Os juízes de instrução criminal recebem por mês dezenas de jovens suspeitos da prática de crimes de tráfico de drogas, roubos, furto e assaltos violentos.
Outros, mais novos, acabam no Tribunal de Família e Menores, que os envia para centros de acolhimento. Mas nem assim os resultados são os melhores. Muitos mantém uma vida marginal. Outros que não conseguem fugir dos lares aproveitam o regime aberto para praticar todo o tipo de crimes.
Foi o caso do grupo de adolescentes do Porto que matou a transexual Gisberta, em 2006. Vítor Santos tinha 16 anos e era o mais velho do grupo de 13 rapazes, quase todos internados na instituição Oficinas de S. José. Durante vários dias de maus-tratos continuados, Gisberta foi lançada num poço pelos menores no parque de estacionamento onde dormia. Vítor foi julgado já com 18 anos e condenado a oito meses de prisão. Os restantes foram condenados no âmbito das penas do tribunal de menores.
MAIS DE 76 CRIMES EM DUAS SEMANAS
O grupo de três rapazes e duas raparigas espalhou o terror durante cerca de duas semanas. Praticou mais de 76 crimes, desde roubos a pessoas a assaltos à mão armada e até sequestro. Actuava num raio de 100 quilómetros, entre as zonas de Lousada, Paredes, Felgueiras e Santo Tirso.
SAIBA MAIS
AUMENTO DE CASOS
Número de ocorrências de delinquência juvenil aumentou dez por cento em 2009 nas áreas urbanas. Porto está em segundo lugar.
16
É a partir dos 16 anos que se regista a maior percentagem de comportamento delinquente.
4
Estudos e relatórios policiais revelam que os adolescentes actuam geralmente em grupo de três a quatro elementos.
MEDIDA CAUTELAR
Até aos 16 anos, os jovens que praticam delitos cumprem medidas cautelares aplicadas pelo tribunal de família e menores.
SÉRGIO 'CHINA' COMEÇOU A ROUBAR NA PRIMÁRIA
Sérgio ‘China’ é um dos jovens criminosos da zona Norte. Começou por aterrorizar os colegas da escola primária em Joane, Famalicão e nunca mais parou. Do lanche escolar passou rapidamente ao roubo de carros, electrodomésticos e quase tudo o que podia levar de estabelecimentos comercias. O roubo tornou-se uma espécie de vício que foi crescendo de dia para dia. Aos 13 anos, ‘China’ já fazia frente aos ladrões mais adultos . O rapaz conduzia sem carta os carros que roubava e até tinha a arte de conseguir enganar a polícia. Mostrou várias vezes os documentos do irmão mais velho para ludibriar as autoridades. O crime fez parte da vida de Sérgio ‘China’ e com apenas 16 anos liderou um gang que fez inúmeros assaltos nas zonas de Vila das Aves, Famalicão e Póvoa de Varzim.
‘China’ foi preso, mas fugiu da cadeia de Guimarães em Agosto de 2007, com outros cinco detidos. Foi ele o mentor da fuga do grupo que durante o horário da medicação agrediu e manietou três guardas prisionais. ‘China’ roubou a arma de um deles e conseguiu escapar na carrinha da empresa de catering que fornecia a comida à prisão. Como não tinha carta de condução tornou-se um especialista em fugas a alta velocidade. As autoridades suspeitam que o grupo tenha estado envolvido na tentativa de furto de uma caixa multibanco dois dias depois. Três meses após a fuga foi apanhado pela GNR a tentar roubar o carro de um militar que também tentou agredir. Presente a tribunal, apresentou mais uma vez os documentos do irmão e saiu em liberdade porque não foi reconhecido. As autoridades só se aperceberam do erro mais tarde, após o visionamento de fotografias. O jovem foi detido por mero acaso pela GNR de Joane, com quem se cruzou na via pública. ‘China’ ainda conseguiu fugir à perseguição da patrulha, que acabou por prendê--lo em casa dos pais, em Joane, Famalicão. Está ainda a cumprir pena de prisão.
DISCURSO DIRECTO
"INVESTIR NA EDUCAÇÃO": Daniel Sampaio, psiquiatra e terapeuta familiar
Correio da Manhã – Como é que se trava o aumento da delinquência juvenil?
Daniel Sampaio – Deve ser travado na prevenção e muito cedo, com programas de educação familiar. O problema é que neste País não existe esse tipo de investimento para se actuar junto de famílias problemáticas.
– Quais são os sinais reveladores de possíveis problemas?
– Aos oito anos é possível captar sinais. O insucesso escolar, a agressividade contra professores e colegas, a destruição de material escolar são alguns indicadores de que a criança precisa de ajuda especializada, que deve ser alargada aos familiares.
– Famílias problemáticas são potenciais causas de comportamentos desviantes?
– Sim. Na maioria das vezes são crianças que vivem em ambientes violentos. Famílias ligadas ao crime, à droga ou alcoólicos potenciam desvios. Os professores têm que estar atentos aos quadros familiares e os centros de saúde deviam ter programas.
CASOS E SITUAÇÕES
GISBERTA
Vítor Santos e outros doze menores agrediram a transexual Gisberta durante vários dias e atiram-na a um poço, onde morreu. Vítor tinha 16 anos.
OPERAÇÕES POLICIAIS
As acções policiais apanham dezenas de jovens entre os suspeitos de crimes de tráfico de droga. Alguns também se dedicam à venda de estupefacientes, roubos e assaltos.
BAIRROS DEGRADADOS
Os bairros problemáticos e degradados do Grande Porto potenciam hábitos delinquentes entre os mais novos. Cedo trocam a escola pela vida nas ruas.
RAPARIGAS
Os estudos mais recentes sobre delinquência juvenil revelam que há cada vez mais jovens do sexo feminino a caminho da criminalidade. Juntam-se aos rapazes muito cedo.
MAIS DE 80 ROUBOS
Arnaldo ‘Olhos de Gato’ foi preso aos 29 anos depois de fazer mais de 80 assaltos e roubos nas imediações da zona onde vivia, em Santo Tirso.
Correio da Manha
Jovens escolhem escola do crime
Alfredo Monteiro, de 19 anos, e Paulo Costa, de 23, foram condenados a sete anos de prisão, que cumprem desde Fevereiro. Ambos faziam parte de um gang de cinco jovens – entre os quais duas raparigas de 16 e 17 anos – que em cerca de duas semanas praticou 76 crimes violentos, entre os quais o sequestro de quatro rapazes e diversos assaltos armados em várias zonas do distrito do Porto.
Alfredo tinha apenas 14 anos quando participou no assalto armado à farmácia Nelas, em Guimarães. O farmacêutico foi baleado e ficou paraplégico. Como à época era menor, Alfredo foi internado numa instituição da qual acabou por fugir. Juntou-se aos outros quatro, também oriundos de centros de acolhimento de menores problemáticos, e iniciaram uma onda de roubos e assaltos a cafés e gasolineiras, nas zonas de Lousada, Paredes, Felgueiras, Santo Tirso e Guimarães. Em Lousada, junto ao bowling, sequestraram quatro amigos dentro de dois carros. Ameaçaram-nos com arma e obrigaram-nos a entregar o dinheiro num multibanco. Entre finais de 2008 e inícios de 2009 o grupo espalhava o terror por onde passava.
Este grupo é um dos exemplos da criminalidade juvenil que cresce em famílias disfuncionais e em bairros sociais problemáticos. Os juízes de instrução criminal recebem por mês dezenas de jovens suspeitos da prática de crimes de tráfico de drogas, roubos, furto e assaltos violentos.
Outros, mais novos, acabam no Tribunal de Família e Menores, que os envia para centros de acolhimento. Mas nem assim os resultados são os melhores. Muitos mantém uma vida marginal. Outros que não conseguem fugir dos lares aproveitam o regime aberto para praticar todo o tipo de crimes.
Foi o caso do grupo de adolescentes do Porto que matou a transexual Gisberta, em 2006. Vítor Santos tinha 16 anos e era o mais velho do grupo de 13 rapazes, quase todos internados na instituição Oficinas de S. José. Durante vários dias de maus-tratos continuados, Gisberta foi lançada num poço pelos menores no parque de estacionamento onde dormia. Vítor foi julgado já com 18 anos e condenado a oito meses de prisão. Os restantes foram condenados no âmbito das penas do tribunal de menores.
MAIS DE 76 CRIMES EM DUAS SEMANAS
O grupo de três rapazes e duas raparigas espalhou o terror durante cerca de duas semanas. Praticou mais de 76 crimes, desde roubos a pessoas a assaltos à mão armada e até sequestro. Actuava num raio de 100 quilómetros, entre as zonas de Lousada, Paredes, Felgueiras e Santo Tirso.
SAIBA MAIS
AUMENTO DE CASOS
Número de ocorrências de delinquência juvenil aumentou dez por cento em 2009 nas áreas urbanas. Porto está em segundo lugar.
16
É a partir dos 16 anos que se regista a maior percentagem de comportamento delinquente.
4
Estudos e relatórios policiais revelam que os adolescentes actuam geralmente em grupo de três a quatro elementos.
MEDIDA CAUTELAR
Até aos 16 anos, os jovens que praticam delitos cumprem medidas cautelares aplicadas pelo tribunal de família e menores.
SÉRGIO 'CHINA' COMEÇOU A ROUBAR NA PRIMÁRIA
Sérgio ‘China’ é um dos jovens criminosos da zona Norte. Começou por aterrorizar os colegas da escola primária em Joane, Famalicão e nunca mais parou. Do lanche escolar passou rapidamente ao roubo de carros, electrodomésticos e quase tudo o que podia levar de estabelecimentos comercias. O roubo tornou-se uma espécie de vício que foi crescendo de dia para dia. Aos 13 anos, ‘China’ já fazia frente aos ladrões mais adultos . O rapaz conduzia sem carta os carros que roubava e até tinha a arte de conseguir enganar a polícia. Mostrou várias vezes os documentos do irmão mais velho para ludibriar as autoridades. O crime fez parte da vida de Sérgio ‘China’ e com apenas 16 anos liderou um gang que fez inúmeros assaltos nas zonas de Vila das Aves, Famalicão e Póvoa de Varzim.
‘China’ foi preso, mas fugiu da cadeia de Guimarães em Agosto de 2007, com outros cinco detidos. Foi ele o mentor da fuga do grupo que durante o horário da medicação agrediu e manietou três guardas prisionais. ‘China’ roubou a arma de um deles e conseguiu escapar na carrinha da empresa de catering que fornecia a comida à prisão. Como não tinha carta de condução tornou-se um especialista em fugas a alta velocidade. As autoridades suspeitam que o grupo tenha estado envolvido na tentativa de furto de uma caixa multibanco dois dias depois. Três meses após a fuga foi apanhado pela GNR a tentar roubar o carro de um militar que também tentou agredir. Presente a tribunal, apresentou mais uma vez os documentos do irmão e saiu em liberdade porque não foi reconhecido. As autoridades só se aperceberam do erro mais tarde, após o visionamento de fotografias. O jovem foi detido por mero acaso pela GNR de Joane, com quem se cruzou na via pública. ‘China’ ainda conseguiu fugir à perseguição da patrulha, que acabou por prendê--lo em casa dos pais, em Joane, Famalicão. Está ainda a cumprir pena de prisão.
DISCURSO DIRECTO
"INVESTIR NA EDUCAÇÃO": Daniel Sampaio, psiquiatra e terapeuta familiar
Correio da Manhã – Como é que se trava o aumento da delinquência juvenil?
Daniel Sampaio – Deve ser travado na prevenção e muito cedo, com programas de educação familiar. O problema é que neste País não existe esse tipo de investimento para se actuar junto de famílias problemáticas.
– Quais são os sinais reveladores de possíveis problemas?
– Aos oito anos é possível captar sinais. O insucesso escolar, a agressividade contra professores e colegas, a destruição de material escolar são alguns indicadores de que a criança precisa de ajuda especializada, que deve ser alargada aos familiares.
– Famílias problemáticas são potenciais causas de comportamentos desviantes?
– Sim. Na maioria das vezes são crianças que vivem em ambientes violentos. Famílias ligadas ao crime, à droga ou alcoólicos potenciam desvios. Os professores têm que estar atentos aos quadros familiares e os centros de saúde deviam ter programas.
CASOS E SITUAÇÕES
GISBERTA
Vítor Santos e outros doze menores agrediram a transexual Gisberta durante vários dias e atiram-na a um poço, onde morreu. Vítor tinha 16 anos.
OPERAÇÕES POLICIAIS
As acções policiais apanham dezenas de jovens entre os suspeitos de crimes de tráfico de droga. Alguns também se dedicam à venda de estupefacientes, roubos e assaltos.
BAIRROS DEGRADADOS
Os bairros problemáticos e degradados do Grande Porto potenciam hábitos delinquentes entre os mais novos. Cedo trocam a escola pela vida nas ruas.
RAPARIGAS
Os estudos mais recentes sobre delinquência juvenil revelam que há cada vez mais jovens do sexo feminino a caminho da criminalidade. Juntam-se aos rapazes muito cedo.
MAIS DE 80 ROUBOS
Arnaldo ‘Olhos de Gato’ foi preso aos 29 anos depois de fazer mais de 80 assaltos e roubos nas imediações da zona onde vivia, em Santo Tirso.
Correio da Manha