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“Vivemos o dia-a-dia em clima de terror”

Rotertinho

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Crimes nas cidades: Assalto ao tabaco
“Vivemos o dia-a-dia em clima de terror”

José Costa passa os dias em constante sobressalto. Dono de um dos maiores armazéns de distribuição de tabaco do distrito de Braga e ‘calejado’ por vários assaltos, confessa que quando abre a porta do armazém, pela manhã, a eventualidade de um assalto é a primeira coisa que lhe vem à ideia.

'Isto está pior do que nunca. Quando saímos para a distribuição vamos sempre a pensar no pior. Vivemos o dia-a-dia em clima de terror', diz este empresário, que gasta muito do seu tempo a 'pensar em esquemas que possam prevenir ou evitar os assaltos'.

'Temos as carrinhas com alarme, com GPS, alteramos as rotinas, fazemos o trabalho com o maior dos cuidados e, mesmo assim, somos assaltados. É que o tabaco é fácil de vender e, por isso, um alvo preferencial dos assaltantes', explica José Costa, cuja empresa já foi várias vezes vítima de assaltos.

No último, em Março, graças a um moderno sistema de GPS, a GNR acabou por interceptar a carrinha e deter dois dos três assaltantes, quando, depois de terem sequestrado o distribuidor, procediam à mudança do tabaco para outra viatura.

Mas nem todos acreditam nas vantagens desse sistema electrónico de detecção dos veículos. António Faria, que há mais de vinte anos distribui tabaco em Braga, lembra que 'o assalto é tão rápido, dois a cinco minutos, que, quando as autoridades se põem a caminho, já eles estão a milhas'.

'Andar neste serviço por zonas isoladas é muito perigoso. Às vezes, até nas cidades, à frente de toda a gente, eles fazem os roubos à mão armada e com a maior tranquilidade, quanto mais no meio de um monte', afirma António Faria, para quem 'enquanto a fiscalização à venda de tabaco não for eficaz, não há forma de fazer baixar os assaltos'.

'Não faltam cafés que compram tabaco roubado, a preço mais baixo, naturalmente, e isso é que incentiva a realização dos assaltos', refere este distribuidor, para quem 'o medo tem de ficar em casa'.

'Nós temos de viver e de sair para o terreno. Quem tiver medo, como se costuma dizer, que compre um cão', sublinha, adiantando, no entanto, que 'estas coisas são muito complicadas. Conheço colegas que, por causa de um assalto violento, ficaram traumatizados para o resto da vida'.

Alvo dos assaltantes são também as máquinas de venda de tabaco. Só na semana passada, foram roubadas oito nos concelhos de Barcelos, Famalicão e Esposende.

SAIBA MAIS

UM MILHÃO

Cerca de um milhão de euros foi roubado em tabaco no primeiro trimestre deste ano.

30

Entre Janeiro e Março foram assaltadas trinta carrinhas de distribuição.

500

Em 2009, foram roubadas 500 máquinas dos estabelecimentos comerciais. As máquinas continuam a ser o alvo dos ladrões por poderem ser levadas durante a noite.

DISCURSO DIRECTO

'MÁQUINAS SÃO MAIOR ALVO', Helena Batista, Associação de Armazenistas de Tabaco

Correio da Manhã – O roubo de tabaco aumentou?

Helena Batista– Há roubos todos os dias, sobretudo a máquinas de tabaco. Acho que os assaltos às carrinhas diminuíram porque os comerciantes tomaram maiores medidas de protecção e têm também mais cuidados. Agora o maior alvo são as máquinas em cafés, bares e restaurantes.

– E por que é que as máquinas são, nesta altura, o alvo preferido dos ladrões?

– Porque perceberam que é um crime menor e que nem precisam de usar armas. Assaltam de noite e, se foram apanhados, vão a tribunal e saem em liberdade no mesmo dia.

– Qual a frequência de roubos a máquinas, no Grande Porto?

– Por dia, dez a doze máquinas de tabaco.

– O tabaco roubado é um produto que dá muito lucro?

– Dá, para quem rouba. Quem vende de forma totalmente legal tem uma margem de lucro bastante reduzida, porque o tabaco paga muitos impostos. No mercado ilegal paralelo, como o produto é roubado ou contrafeito, a venda é fácil e, no final, só há lucro a apresentar.

SISTEMA GPS NÃO TRAVA LADRÕES

O sistema de gestão de frotas e localização GPS não trava com eficácia os assaltos às carrinhas de transporte de tabaco. A função é localizar o veículo em caso de perigo mas, na maior parte dos casos, os ladrões são rápidos. Quando as autoridades encontram a viatura, o tabaco já desapareceu. Os assaltantes passam, de forma instantânea, a mercadoria para outros veículos.

VÍTIMA DEIXA EMPREGO

As carrinhas da empresa António Raposo já foram assaltadas onze vezes, à média de um roubo por mês. O medo instalou-se entre os trabalhadores da distribuição. 'Um dos meus melhores funcionários despediu-se depois de ter sido roubado. O homem teve a pistola apontada à cabeça e ficou muito traumatizado. Ainda anda em tratamento', conta, ao CM, António Raposo. Já tentou convencer o funcionário a regressar ao trabalho, mas ele recusa. 'Apesar de ainda não ter emprego certo, ele não consegue arriscar a passar pelos mesmos momentos de terror', diz o retalhista de tabaco.

Vários outros funcionários da empresa foram também vítimas de assaltos violentos, sempre realizados por homens encapuzados e armados. Perseguiam as carrinhas e atacavam em locais mais desertos, obrigando o condutor a parar. 'Foram ameaçados e abandonados nas estradas. Alguns ladrões até chegaram a disparar para intimidar os funcionários', descreve António.

Num dos ataques, a mulher do empresário viveu momentos de pânico. 'Foi num assalto à porta de um armazém que tinha. Com o barulho, a minha mulher veio à janela e os ladrões dispararam na direcção dela', refere António Raposo, que sofreu milhares de euros de prejuízos nos assaltos de que a empresa foi alvo.

SEGUROS REJEITAM AS MÁQUINAS

De acordo com os profissionais do sector de revenda de tabaco, as seguradoras não aceitam apólices para as máquinas de cigarros. É considerado material de alto risco. É mais fácil apostarem em seguros para os armazéns e lojas. Outro investimento dos empresários passa pela segurança dos estabelecimentos e viaturas.

ROUBO DE MÁQUINA CUSTA 6500 EUROS

O roubo de uma máquina de tabaco causa sempre um prejuízo ao distribuidor próximo dos 6500 euros. É que, para além do tabaco, ou do dinheiro correspondente, a máquina fica num estado de destruição irrecuperável. E só a máquina custa, em média, três a quatro mil euros.


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