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Aos 84 anos Morreu o almirante Rosa Coutinho

Rotertinho

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Aos 84 anos
Morreu o almirante Rosa Coutinho

Morreu esta quarta-feira o almirante António Alva Rosa Coutinho, aos 84 anos. O corpo de uma das figuras mais destacadas e polémicas do pós-25 de Abril já se encontra em câmara ardente na Capela de São Roque, nas instalações da Marinha, em Lisboa.

Oficial da Armada, passou grande parte da sua carreira naval a bordo — e, a partir de um certo momento, no comando — de navios hidrográficos. Nos anos 60, uma missão de patrulhamento e pesquisa no rio Zaire valeu-lhe a captura por guerrilheiros da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) e alguns meses de privação da liberdade.

Aquando do 25 de Abril de 1974, era capitão-de-fragata e foi um dos elementos da Armada designados para integrar a Junta de Salvação Nacional (JSN); data de então a sua promoção a vice-almirante. Nos primeiros meses da nova situação a sua actuação foi discreta; chegou a coordenar o Serviço de Extinção da PIDE-DGS e da Legião Portuguesa.

Em finais de Julho, após a demissão do último governador-geral de Angola, general Silvino Silvério Marques, Rosa Coutinho foi chamado a substituí-lo, na qualidade de presidente da Junta Governativa de Angola.

Confirmado membro da JSN após os acontecimentos de 28 de Setembro de 1974, ganhando a qualidade de alto-comissário em Angola a partir de Outubro, Rosa Coutinho permaneceu no território até à assinatura dos Acordos de Alvor (Janeiro de 1975), entre o Estado Português e os três movimentos de libertação - FNLA, Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA). A sua actuação em Angola é normalmente vista como favorável ao movimento que ainda hoje detém o poder no país africano.

A sua actuação ao longo de 1975, num sentido próximo do Partido Comunista (PCP), valeram-lhe o epíteto de "almirante vermelho". Nos primeiros meses do ano viu o seu nome ligado à preparação de "legislação revolucionária", num sentido de radicalização do processo político iniciado em Abril do ano anterior, o que se concretizou após os acontecimentos de 11 de Março. Após esta data ingressou no Conselho da Revolução (CR), então criado.

Se a sua imagem 'esquerdista' não deixou de se acentuar, saliente-se que aquando da tentativa de golpe de 25 de Novembro do ano em causa cumpriu plenamente as instruções do Presidente da República e Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas (CEMGFA), general Francisco Costa Gomes, no sentido de desmobilizar forças navais da Margem Sul, inicialmente favoráveis aos golpistas.

Afastado do CR no novo quadro pós-25 de Novembro, passado à reserva pouco depois, o almirante Rosa Coutinho não mais voltaria à ribalta político-militar.





REACÇÕES

'Almirante foi saneado injustamente da Armada'

Recordando o almirante António Alva Rosa Coutinho, falecido esta quarta-feira, aos 84 anos, o coronel Sousa e Castro, que o substituiu após o 25 de Novembro de 1975, na presidência do Serviço de Apoio ao Conselho de Revolução – órgão que geria todo o apoio logístico e outros dossiers – diz que “o almirante foi saneado muito injustamente da Armada, depois do 25 de Novembro, pelo então Chefe de Estado-Maior da Armada, almirante Souto Cruz”. Segundo Sousa Castro, “o próprio conselho de disciplina da Armada votou unanimamente pelo não afastamento de Rosa Coutinho”, acrescento que “na altura, nem o Conselho da Revolução (extinto em 1982), nem o Presidente da República (Ramalho Eanes), que acumulava as funções de Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA), poderiam ter feito alguma coisa par impedir o afastamento”. Tratava-se, diz o capitão de Abril, de “uma decisão do chefe do ramo”.

Sousa e Castro frisa que “tem sido muito injusta a ligação estabelecida entre o almirante Rosa Coutinho e sectores mais esquerdizantes e Partido Comunista, depois do 25 de Abril” e que “essa colagem se deve ao papel que ele teve em Angola e no processo dos Acordos de Alvor”, que segundo este militar “está mal interpretado, devido a uma falsa percepção passada por antigos residentes nas colónias, particularmente, em Angola”.

“O almirante deixou o SACR integro, e até para meu espanto na altura, quando assumi funções não encontrei nada que fosse, segundo os padrões da época, ilegal”, revela este capitão de Abril.

Sousa e Castro recorda que António Rosa Coutinho mantinha inclusive “boas relações com o antigo embaixador dos Estados Unidos em Lisboa, no período revolucionário, Frank Carlucci, com alguns empresários internacionais e até com jornalistas conotados com a direita, designadamente com Nuno Rocha director do jornal O Tempo” e que “não tinha qualquer ligação orgânica a nenhum partido”.

O general Loureiro dos Santos, que foi secretário do Conselho da Revolução entre Abril e Agosto de 1975, afirma sobre António Rosa Coutinho “conheci-o muito pouco, mas o que constatei é que se tratava de um homem muito determinado, sabia o que queria, agia de acordo com as suas deliberações”. Loureiro dos Santos adianta que “ele defendia com veemência as suas ideias”.


Correio da Manha
 
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