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Cartuchos ecológicos...

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Autor: Alexandre Miguel Silva Martinho Reis Caetano

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Os cartuchos de bismuto para aves aquáticas são bastante caros!



Na época venatória de 2010-2011, os caçadores portugueses vão começar a familiarizar-se e a utilizar um novo tipo de munição até agora desconhecido para muitos: os cartuchos “ecológicos” ou de baixa toxicidade.

Com a publicação da Portaria n.º 288/2010 de 27 de Maio, passa a ser proibido a utilização de cartuchos carregados com múltiplos projécteis de chumbo na caça às aves aquáticas independentemente do local, e a qualquer outra espécie nas zonas húmidas localizadas em áreas classificadas.

Como é do conhecimento geral, o chumbo deixado nas zonas húmidas e massas de água resultante das munições utilizadas no acto venatório, provoca o envenenamento das aves aquáticas. Estas aves ao ingerirem pequenas pedrinhas para ajudar na digestão mecânica dos alimentos na moela, acabam por involuntariamente engolir os bagos de chumbo existentes no meio. Os bagos de chumbo ingeridos são desgastados na moela pela fricção com as outras substâncias inertes aí existentes e o chumbo acaba por ser dissolvido pelos ácidos digestivos, entrando para o sangue das aves. Acumula-se então em vários órgãos (ossos, cérebro, fígado, …) e debilita as aves, ao ponto de causar a morte por envenenamento ou provocar mal formação congénita dos seus descendentes – o conhecido saturnismo.
 

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As primeiras alternativas

A primeira alternativa ao chumbo foi o aço ou “ferro leve”.

Porém o ferro por ser um metal bastante duro é em consequência disso pouco maleável, o que significa que os canos das espingardas, especialmente aqueles com maior estrangulamento, sofrem um desgaste superior e simultaneamente uma maior pressão à saída dos mesmos.

Com o chumbo, não existe este tipo de problema, pois fica tudo resolvido com uma compressão da carga por este metal ser mais macio, deformando-se se necessário para poder ser expulso pelo cano.

No caso das esferas de aço, particularmente se tratar-se de armas mais antigas, com os canos mais finos ou constituídos por aço mais macio, pode ocorrer o rebentamento destes. Nas espingardas justapostas e sobrepostas não preparadas para este tipo de munições, os canos podem chegar a dessoldar na sua união ou a separar-se junto à sua boca, especialmente quando as esferas são de maior diâmetro e os estrangulamentos dos canos são grandes.

Em termos de igualdade de cargas, as esferas de aço por serem de maior diâmetro formam uma coluna de projécteis mais larga, submetendo deste modo o interior dos canos maior a uma maior fricção, e como consequência submete-os a pressões mais elevadas.


Precauções e soluções

A forma de evitar qualquer das contrariedades anteriormente descritas, é utilizar apenas armas cujos canos apresentem uma maior espessura e sejam constituídos por aço mais resistente. Simultaneamente, é conveniente que estes possuam o cone de saída da câmara mais largo e com uma inclinação mais suave.

Deverá também existir o cuidado de não se utilizar chokes mais fechados que o ½ (***), pois aparte da deterioração da arma, não se vai conseguir cargas mais concentradas por isso, pois o aço apenas “cede” muito ligeiramente, e o efeito de comprimir mais a carga é submetê-la a um esforço que apenas prejudica a sua correcta distribuição, “aplanando” as esferas na diagonal, por efeito de deformação “elástica” do cano e da carga.

Outro factor a ter em conta e especial atenção em relação aos chokes, é o facto destes não estarem preparados para este tipo de munições, pois a maioria dos chokes amovíveis, comercializados juntamente com as espingardas não serve para as esferas de aço. Aqueles que estão preparados para estas munições, normalmente apresentam gravado a palavra steel no cilindro.
 

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Mais volume, menos peso e pior balística

Desde há 25 anos, quando apareceram os primeiros cartuchos com esferas de aço, que este tipo de munições para além de se terem tornado mais económicas entre as demais munições não tóxicas, também experimentaram significativas melhorias. Actualmente em alguns cartuchos, as esferas são revestidas com materiais sintéticos de modo a evitar a corrosão e facilitar a passagem das esferas umas sobre as outras, e especialmente nas zonas de maior estrangulamento. O mesmo aconteceu às buchas, que actualmente são elaboradas de modo a impedir o contacto dos projécteis com a alma do cano, evitando assim qualquer tipo de fricção ou escoriação.

Aliado a isso, juntamente com as melhorias dos canos, câmaras e chokes, consegue-se actualmente utilizar cargas mais velozes (mais 20% que o normal), de modo a compensar o pior desempenho balístico do aço, conseguindo-se assim uma maior capacidade de impacto e poder de penetração.

Não obstante, as esferas de aço para além do defeito de não poderem ser utilizadas em armas antigas ou de canos pouco robustos, o seu alcance máximo não vai para além dos 45 - 50m.

Para precaver o primeiro defeito, a CIP – Comissão Internacional que regulamenta as normas que caracterizam as armas e munições na Europa e outros países – fixou os valores máximos de pressão, velocidade, chokes e diâmetro para as esferas de aço:

- Para armas ditas “normais”, testadas até uma pressão de 900 bar (atm) e com qualquer tipo de choke preparado para admitir a passagem deste tipo de projécteis, podem ser utilizadas munições de aço cujo diâmetro das esferas não ultrapasse os 3,25mm (nº4), a velocidade máxima à saída do cano até aos 2,5m não exceda os 400m/s, e a pressão não seja superior a 700 bar (atm);

- Para armas testadas até uma pressão de 1200 bar (atm) e com choke mais fechado preparado para admitir a passagem deste tipo de projécteis, podem ser utilizadas munições de aço cujo diâmetro pode ir dos 3,25mm. Com um choke até ½ (***) podem ser utilizados cartuchos com esferas de diâmetro superior a 3,25mm. A velocidade máxima à saída do cano até aos 2,5m não pode ultrapassar os 430m/s, e a pressão não exceder 1050 bar (atm), em qualquer das situações.

Em relação ao comportamento balístico, o problema reside no facto de que uma esfera de aço em igualdade de tamanho pesa menos 30% que uma esfera de chumbo. O que se traduzirá em termos práticos, numa redução de velocidade para cerca de metade em relação ao chumbo a 35m, perdendo deste modo também capacidade de impacto e penetração.

Exemplificando no caso de uma esfera de aço nº2, podemos afirmar em termos balísticos que o seu comportamento é quase igual a uma esfera de chumbo nº6, ou seja, para distâncias superiores a 45 – 50m é insuficiente para aves de porte ligeiramente maior. Mesmo com cargas mais rápidas, a velocidade das esferas de aço é apenas de 160 – 170 m/s a essas distâncias, o que se reflecte em menos 4cm de penetração nos tecidos musculares, não contando com a espessura das penas, pele, etc…

Para compensar este tipo de situação devemos disparar apenas dentro do limite aceitável, e escolher esferas de aço 2 números acima do número do chumbo normalmente utilizado, e simultaneamente cargas mais rápidas. Deste modo teremos uma esfera um pouco mais pesada, e embora a sua velocidade de impacto seja menor (em teoria, pois a esfera ao não deformar-se “voa” melhor), a energia total é semelhante.
 

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O bismuto

O bismuto é um metal não tóxico, muito utilizado em farmácia para curar desarranjos intestinais. Para além desse facto, está demonstrado que também pode ser utilizado na “dieta” das armas mais antigas ou com canos de aço mais “macio” ou fino, sendo inclusive aconselhado pela prestigiada marca inglesa Purdey para as suas arma de fabrico mais antigo. O motivo reside na sua dureza, ainda que maior que o chumbo, não é muito superior à deste, sendo muito parecido com o alumínio puro, mas muito mais pesado que este metal leve.

A sua densidade é de 9,8, o que significa uns 13% menos que no chumbo puro, ainda que as esferas de chumbo das munições são menos densas por se tratar de ligas de chumbo com outros metais. Em todo o caso, a sua densidade é muito semelhante à do chumbo, o que em termos práticos é quase indistinto.

Porém, o bismuto não é perfeito e destaca-se entre os metais por uma característica física que não é muito propícia nesta situação, pois é o menos maleável e mais quebradiço de todos. Isto verificou-se nas primeiras experiências de tiro, quando as esferas deste metal se quebravam como cristal. Actualmente para o evitar, é utilizado uma liga de estanho com o bismuto, de modo a aumentar a sua tensão superficial.

Os outros problemas prendem-se com a disponibilidade e custo destas munições. No primeiro caso deve-se ao facto do canadense que inventou esta liga ter vendido os direitos de produção apenas a um par de firmas – a Eley-Hawk e a Bismuth-Winchester. O segundo deve ser consequência do primeiro, devido a estas firmas possuírem o monopólio destas munições, porque na realidade o processo de fabrico, excepto nos tamanhos maiores, é o mesmo que para as esferas de chumbo. Ainda que o custo deste metal não seja barato, também não é excessivamente elevado.

 

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O tungsténio

Embora o bismuto representasse a solução na busca para outro metal alternativo ao chumbo e ao aço, os investigadores procuraram um novo material que cumprisse os requisitos de funcionalidade, estrutura, indústria e economia necessários. O resultado obtido foi o chamado “tungsténio-polímero”, que consiste numa mistura de volfrâmio disperso numa massa fundida de material plástico.

O tungsténio é um metal muito duro e pesado – uns 70% mais que o chumbo. A mistura com o polímero não é tóxica, e foi aprovada pelos diversos organismos de conservação da natureza da América do Norte. Como é lógico, ao misturá-lo com plástico a sua densidade diminui consideravelmente, embora combinando correctamente as partículas metálicas em vários tamanhos e proporções consegue-se que seja tão denso como o chumbo.

Na realidade é uma alternativa ao chumbo para quem queira continuar a usar armas antigas ou de canos menos robustos, e as características actuais deste material são bastante semelhantes às do bismuto. Porém tal como este, também apresenta as suas fragilidades, e o formato das esferas também é menos regular, devido ao seu processo de fabrico. A esfericidade deste material obtêm-se através da rotação da massa entre 2 placas, e o resultado final assemelha-se mais a um chumbo de pesca.

Outro problema prende-se com os custos, pois a sua oferta também está reduzida a um par ou dois de marcas.

Apareceu mais recentemente, outro tipo de material igualmente composto com tungsténio, similarmente não tóxico, e que oferece melhores resultados em termos balísticos: o tungsténio-aço. Este consegue apresentar a estabilidade de forma e resistência do aço para ser lançado a grande velocidade, e simultaneamente apresenta uma maior densidade que melhora a retenção de velocidade e potência de impulso das esferas.

Este tipo de esferas é fabricado por compressão de grãos dos dois metais que o compõem a altas temperaturas, obtendo-se assim um material com uma densidade de 91,5% em relação ao chumbo. Ou seja, a sua densidade é ligeiramente superior ao bismuto, mas abaixo do chumbo e do tungsténio-polímero.

As contrapartidas que este material apresenta são a sua dureza, e também os custos. Munições com este tipo de material só podem ser utilizadas em armas preparadas para esferas de aço. O preço também é semelhante ao das munições de bismuto e tungsténio-polímero.

 

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Que arma? Que munição?

A experiência e as normas CIP sobre os cartuchos “ecológicos” aconselham o seguinte:

1 - Para armas mais antigas ou de canos mais finos, utilizar munições de bismuto ou de tungsténio-polímero.

2 – Os cartuchos de aço standard, cuja velocidade até 2,5m do cano não exceda os 400m/s e a pressão não ultrapasse os 740 bars (atm), e as esferas de aço não apresentem um diâmetro superior a 3,25mm, podem ser utilizadas em espingardas preparadas para cartuchos convencionais testadas até 900 bar (atm), com qualquer tipo de choke steel.

3 – Os cartuchos de aço high performance, cuja velocidade até 2,5m do cano não excede normalmente os 430m/s e a pressão não ultrapassa os 1050 bar (atm), podem ser utilizados em armas preparadas para o efeito e testadas até 1200 bar (atm), em duas situações distintas:
- com qualquer tipo de choke steel: pode-se utilizar esferas até 3,25mm de diâmetro;
- com choke steel até ½ (***): pode-se utilizar esferas de diâmetro superior a 3,25mm

4 – A utilização de chokes steel mais fechados com cartuchos de aço high performance, não concentra mais as esferas por esse motivo e prejudica inclusive a sua uniformidade.

 
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