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"Os bancos têm de mudar o seu comportamento"

florindo

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Stark acredita que Portugal conseguirá ultrapassar este período de turbulência "sem apoio externo" e pede uma "mudança de mentalidade" à banca
A utilização do Fundo Europeu de Estabilização Financeira não pode ser alternativa para uma economia como Portugal, dada a sua situação débil?
Portugal não está numa situação frágil: conseguirá atravessar este processo de reforma sem apoio externo. O Fundo não é uma saída fácil e deve ser activado apenas em caso de perda de acesso aos mercados, e com uma taxa acima da praticada no mercado e com condicionalidade rigorosa.

A condicionalidade seria mais rigorosa que estas medidas do Governo?
Depende do que for implementado efectivamente. Mas é certo que não há saída fácil. Alguns países terão de atravessar um processo de reestruturação muito doloroso.

O Fundo não cria o efeito perverso de incentivar os mercados a levarem as taxas de juro para os níveis mais altos que conseguirem?
Não. Está nas mãos do governo controlar o orçamento e adoptar medidas credíveis. Se está numa situação de escrutínio pelos mercados, em princípio terá de fazer ainda mais do que os mercados esperam.

Economistas como Hans-Werner Sinn, Martin Wolf, Simon Johnson ou Willem Buiter defendem que, no caso grego, deveria ter havido algum tipo de reestruturação de dívida ou perda imposta aos investidores ("haircut").
A Grécia tem um programa de ajustamento muito sério e credível que foi acordado entre o governo, a Comissão Europeia, o FMI e o BCE. Uma reestruturação da dívida, ou aplicar um "haircut", não é, de forma alguma, uma opção.

Se um Estado avançasse com uma reestruturação da dívida, isso seria muito prejudicial para a Zona Euro?
A solidariedade não deve ser interpretada de tal forma que um país possa avançar, de forma unilateral, distribuindo perdas pelos outros. Criaria um problema enorme.

Diria que houve muita solidariedade para com a Grécia?
Sim. A Grécia recebeu os fundos necessários, mas com condicionalidade rigorosa e só depois de ter perdido o acesso aos mercados.

As pessoas têm a sensação de que os bancos receberam toda a assistência de que precisaram e de que agora os governos não recebem muita ajuda.
Estivemos à beira da destruição do sistema financeiro, tinha de evitar-se. A questão que levanta é: houve mais apoio ao sistema bancário que aos países. Mas, no fim, quem é o segurador de um país? Há algum?

Pergunto-lhe a si? Na União Europeia esperava por um seguro implícito entre países...
Não, não. Não há qualquer seguro implícito, de acordo com o Tratado. Nem a UE, nem um Estado-membro é responsável pelos compromissos de outros países. O seguro cria risco moral, e foi por isso que tivemos uma condicionalidade rigorosa à Grécia.

Mas os bancos tiveram esse seguro e o risco moral foi criado.
Concordo, e é por isso que estamos a avançar com mais regulação, com requisitos de capital, melhor supervisão, novas instituições. Estão a ser feitos progressos na regulação e supervisão de forma a evitar a repetição do que se passou.

O BCE e outros bancos centrais evitaram que muitos bancos falissem. Agora, a indústria volta ao "business as usual". A população vai compreender o que as autoridades fizeram?
Os bancos estão de volta ao "business as usual" como se nada tivesse acontecido, e isso não pode ser tolerado. Os bancos dependeram muito do dinheiro dos contribuintes e, como o nosso presidente diz muitas vezes: outra crise deste tipo não será aceite no nosso sistema democrático. Os bancos têm de mudar o seu comportamento, mas eu não vejo uma mudança de mentalidade na banca. E este é um assunto muito sério. Este é outro risco relacionado com o fornecimento de liquidez acima do necessário para um crescimento económico saudável: com o tempo, novas bolhas e novos desequilíbrios poderão surgir.

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