• Olá Visitante, se gosta do forum e pretende contribuir com um donativo para auxiliar nos encargos financeiros inerentes ao alojamento desta plataforma, pode encontrar mais informações sobre os várias formas disponíveis para o fazer no seguinte tópico: leia mais... O seu contributo é importante! Obrigado.

Bairro de ninguém continua a degradar-se

florindo

Administrator
Team GForum
Entrou
Out 11, 2006
Mensagens
38,984
Gostos Recebidos
345
"Vim do inferno para aqui", diz Albino Cunha, que era carteiro há 32 anos e concorreu para ter um pequeno apartamento no bairro dos CTT, em Ramalde, Porto.

Antes disso, era ele, a mulher e quatro filhas num barraco em Vila Nova de Gaia, no Candal. Hoje, o bloco onde vive é um de dois que ninguém sabe bem a quem pertencem. Zonas comuns muito degradadas e várias partes da estrutura ameaçando ruir: "Já não é o céu, mas também não é o inferno".

Longe da vista, longe do coração, e este bairro dos CTT, erguido há mais de meio século, fica numa zona que não dá no olho.

Apesar do enquadramento bucólico da toponímia - está entre as ruas dos Plátanos, dos Choupos e dos Cedros -, é um de muitos rostos que tem a cidade esquecida.

As escadas de acesso aos pisos superiores, que ameaçam ruína e ninguém conserta, estão escoradas por andaimes desde Abril de 2009. De vez em quando, caem pedaços dos beirais ou dos degraus. Diz uma moradora: "Só vão reparar nisto quando cair tudo".

Pessoas meteram-nos em casa. As que vimos, embora pequeninas, estavam bem arranjadas. Adolfo Martins, que para ali foi com a mulher há 48 anos, criou sete filhos no segundo andar do Bloco A.

"Na altura, era muito bom. Agora, não mora aqui quase ninguém. Os velhos, os meus colegas, têm morrido todos". Di-lo sem amargura, com naturalidade. Nem sabe quanto paga de renda, "a mulher é que trata disso".

As rendas são muito baixas, o que não desculpa o abandono. Pago anualmente, um T2 daqueles custa menos de um euro por mês. Mas até isso é um sintoma do esquecimento a que votaram aquela gente. Quando trabalhavam no correio, a renda era descontada no salário; agora pagam à Câmara. Mas a propriedade e gestão permanecem por definir, entre os Correios e o município.

Maria Amélia Viana, 70 anos, queria passar para um rés-do-chão. As pernas do marido, de 84, torcem o nariz às escadas. Há casas devolutas, mas assim ficam. "Ando nesta vida há sete anos e não resolvem o problema", diz, desbobinando uma vida que não saiu dali. Enviuvou, voltou a casar, perdeu dois filhos: "Eu não me assusto com isto. Quando cair, caiu".

JN
 
Topo