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De barco ou de avião? Adolescentes do Corvo têm de mudar de ilha para ir à escola

aiam

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Mai 11, 2007
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Grupo de pais vai processar o governo açoriano por não aprovar o ensino secundário na região. PPM quer audiência com a Comissão de Protecção de Crianças e Jovens em Risco.

A ilha do Corvo, no arquipélago dos Açores, não tem ensino secundário. A Escola Básica Integrada Mouzinho da Silveira é a única instituição e só garante o 9.o ano de escolaridade, obrigando a que os alunos saiam da região por volta dos 14 anos. Por esta razão, o deputado do Partido Popular Monárquico (PPM), Paulo Estêvão, entregou uma proposta na Assembleia Regional, esta semana, para aprovar o ensino secundário na Vila do Corvo. A sugestão acabou chumbada pela maioria, o Partido Socialista, com o argumento de que não se justifica pagar a mais professores para darem aulas a cerca de 40 alunos. "A partir do momento em que obrigam crianças com 14/15 anos a abandonar a ilha, sem apoio familiar, os senhores têm de se sentar no tribunal", acusa o deputado do PPM.

A opinião é partilhada por um grupo de pais locais, que quer processar o governo açoriano por fazer com que as crianças abandonem a ilha para concluir o ensino obrigatório. Fátima Patrício é a representante dos encarregados de educação do Corvo e defende: "Somos poucos - cerca de 450 habitantes -, mas temos os mesmos direitos que uma cidade grande." E alega que os "subsídios disponíveis [calculados através do rendimento das famílias] não chegam". No seu caso, com uma filha no 6.o ano e um filho a frequentar o 9.o, pediu transferência para a ilha do Pico, já no próximo ano, de forma a acompanhar as crianças: "Mas nem todos conseguem fazer isto e nada compensa a falta dos pais. Há muitos miúdos que longe deles não conseguem um bom aproveitamento", assegura.

A directora-executiva da Escola Mouzinho da Silveira, Deolinda Estêvão, tem um filho no 10.o ano a estudar na Terceira e contou ao i que "a frequência do ensino secundário sempre foi uma opção". Com a escolaridade obrigatória até ao 12.o ano o problema é maior. "Temos duas situações de pais, que até tinham direito a uma bolsa mas não deixaram que os filhos fossem para longe. Já sabiam que, mesmo com esse apoio, era difícil suportar os custos."

Além do material escolar, estudar fora de casa implica pagar viagens de avião, alojamento e alimentação. Para que os adolescentes corvinos não tenham de sair de casa em idade precoce, a ideia é criar o "ensino à distância", feito através de computador, onde fica a faltar a dinâmica da sala de aulas. Sem vacilar no discurso, a maioria dos pais que falou com o i recusa essa opção. Orlando Rosa, pai de três crianças, uma no 6.o, uma no 9.o e um bebé, explica porquê: "Com este tipo de ensino não ficam preparados para os exames." É por isso que a mãe vai para a ilha do Pico, para que o filho mais velho não fique sozinho. Orlando, que vai desdobrar-se em visitas à família, questiona: "Em vez de subsídios, porque não investem em professores?"

Teresa, mãe de um rapaz de 11 anos, actualmente a frequentar o 6.o ano, é terminante quando lhe perguntamos quais os planos traçados para o futuro: "A situação tem de ser resolvida. Tem de haver ensino secundário." Quando tinha dez anos, Teresa teve de abandonar os estudos, já que à data a escola da ilha só funcionava até ao segundo ciclo: "Só pude fazer o 6.o ano porque não tinha dinheiro para ir para fora." É isto que não quer que aconteça com o seu filho.

Quando têm possibilidade de partir para outras ilhas, as crianças ficam normalmente em casas de particulares, que cobram o aluguer e apenas garantem alimentação: "É uma idade complicada porque há droga e é a altura em que começam os namoricos. A viverem sozinhos correm o risco de entrar por caminhos desviantes. Nada substitui os pais", desabafa Teresa. E conclui: "Querem pôr as crianças do Corvo como as que havia nos anos 60. Não admito e não aceito desculpas."


Nos anos 60 só podia continuar os estudos, quem tivesse dinheiro. Passado meio século, a situação permanece


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