• Olá Visitante, se gosta do forum e pretende contribuir com um donativo para auxiliar nos encargos financeiros inerentes ao alojamento desta plataforma, pode encontrar mais informações sobre os várias formas disponíveis para o fazer no seguinte tópico: leia mais... O seu contributo é importante! Obrigado.

Paulo Bento: «Se fosse atrás do dinheiro não seria selecionador»

florindo

Administrator
Team GForum
Entrou
Out 11, 2006
Mensagens
38,984
Gostos Recebidos
345
ENTREVISTA EXCLUSIVA RECORD

Menos de 50 dias após ter assumido o comando da Seleção Nacional, o técnico confessa os sonhos que o motivam e o porquê de ter ficado tanto tempo parado.

RECORD – Quando foi confrontado com o convite de Gilberto Madaíl disse logo que sim?

PAULO BENTO – O convite foi-me formulado dois dias antes de apresentação, a 20 de setembro. Tive pouco tempo para… aceitar. É um cargo e um desafio que pouca gente rejeitaria, pois é um objetivo de carreira. É uma algo que orgulha e prestigia. Além disso também havia, e há, a ideia de poder levar Portugal ao Euro’2012, sabendo que se estava numa situação complicada.

R – Alguma coisa o fez pensar que estaria perante um presente envenenado?

PB – Acho que todo o convite, por mais aliciante que seja, deve ter algum tempo de ponderação. Não pensaria nesta situação uns meses antes, mas o que me levou a aceitar foi ter a possibilidade de ajudar o meu país a continuar a estar presente nos grandes acontecimentos. Tinha consciência que vinha num momento difícil para a Seleção, em termos desportivos, tendo em conta o que tinham sido os resultados dos dois primeiros jogos.

R – Tudo aquilo que estava à volta da Seleção, os processos a Carlos Queiroz, por exemplo, não mexeu consigo, não teve influência na decisão?

PB – Teria de passar-me ao lado. Foi um processo que teve o seu início após Mundial e que envolvia o ex-selecionador e a FPF. Não era um processo que afectasse o próximo selecionador. O objetivo que tracei foi tentar reencaminhar a Seleção no plano desportivo em relação ao apuramento para o Europeu e tentar abstrair o grupo desse processo.

R – Como mero observador, que opinião tem da forma como Queiroz foi despedido?

PB – Processos deste tipo não fazem bem a ninguém, tanto às pessoas que estão envolvidas como à Seleção que teve de segui o seu caminho. Sabemos que são coisas que acontecem no futebol, que levam mais ou menos tempo a ser resolvidas.

R – Se este convite não tivesse aparecido, teria cumprido mais um ano sabático?

PB – Acredito que não. Não estava deprimido nem ansioso pela situação em que me encontrava, pois qualquer treinador de futebol a pode viver. Eu vivi-a por opção pessoal. Se quisesse ter trabalhado nesse período, poderia tê-lo feito, pois recebi convites, mas entendi que o que me interessava mesmo era descansar, estar fora do futebol durante algum tempo. Também entendi que só algumas situações concretas é que me interessariam e, por isso, não fui atrás da vertente financeira. Se tivesse ido, provavelmente não estaria aqui agora, como selecionador nacional.

R – Houve algum convite que esteve perto de aceitar?

PB – Houve situações que se aproximaram, mas a componente desportiva não chegava. Se fosse só pela financeira, repito, podia ter voltado a trabalhar logo após a saída do Sporting. Queria algo que me satisfizesse em termos desportivos, que fosse um projeto que me aliciasse. Por um motivo ou outro, essas situações não se concretizaram, acabando por acontecer a chegada à Seleção Nacional. É uma situação diferente, mas que tem, em termos desportivos, aquilo que eu queria.

R – Ficou claro naquela primeira semana de trabalho, entre Óbidos e Reiquejavique, uma grande facilidade de relacionamento e de comunicação entre as partes. O facto do Paulo Bento ter sido companheiro de alguns deles ajuda?

PB – Há dois factores que ajudam sempre: o conhecimento, e aqui falo da questão técnica e táctica, e a liderança. São determinantes para um treinador. Depois, ter capacidade para se adaptar ao contexto onde está inserido ou onde se vai inserir. Treinar a Seleção é diferente de treinar um clube. O que ajudou muito a Seleção e aqueles que fizeram parte deste estágio, foram os 6 pontos que conquistámos. Se não fosse isso, a questão da unanimidade, das opções, do relacionamento, se calhar tudo era posto em causa nesta altura.

R – Mas logo no primeiro dia sentiu-se uma empatia com o selecionador que talvez se tivesse perdido nos tempos mais recentes...

PB – Já o disse, também, que os jogadores é que podem fazer essa comparação, mesmo que por vezes seja difícil para eles. Eu não tenho dados para essa avaliação, porque não estava antes. O que me interessava era o objetivo desportivo, além, claro, como acontecerá sempre no futuro, o melhor relacionamento possível com aqueles que trabalham comigo, sejam eles jogadores, dirigentes, secretários- técnicos, pessoas da imprensa. O meu relacionamento pode não chegar ao ponto da amizade, mas tem de ser totalmente aberto, franco, solidário e sério. Esse foi o meu princípio, agregado à parte técnica e táctica, que passava por estarmos bem preparados para conseguirmos os 6 pontos fundamentais para nós.

R – O próprio Paulo admite que era natural os jogadores fazerem comparações. Durante aquela semana alguma vez ouviu falar de Queiroz?

PB – Acho que temos de ter respeito. Seguramente, o ex-selecionador procurou fazer o melhor durante o tempo em que esteve no cargo. A mim, compete-me fazer o meu trabalho, ser fiel ás minhas ideias e convicções e levar os nossos jogadores e os nossos dirigentes para aquilo que é a minha ideia de trabalho para a Seleção.

R – A propósito dessa tremenda pressão a que a Seleção estava sujeita – que em termos desportivos, quer pelo ambiente que se vivia internamente – houve alguma palavra especial por parte de Gilberto Madaíl?

PB – Não. Era muito fácil sabermos todos qual era o objetivo comum a todos – estar no Euro’2012. Portugal tem um registo de 1996 para cá que, na minha opinião, não é bom, é muito bom! Por isso, tendo em conta aquilo que tínhamos ao fim de duas jornadas, era lógico que não se podia pedir outra coisa na abordagem destes dois jogos que não fosse a conquista dos 6 pontos e colocarmo-nos numa situação melhor do que aquela em que estávamos. A partir daqui, podemos abordar outras questões.

«Não houve passagem de testemunho»

R – Carlos Queiroz queixou-se de Scolari, quando assumiu o cargo, de não ter tido uma passagem de testemunho. No seu caso, isso aconteceu?

PB – Não, não falei com o Carlos Queiroz. Como é de domínio público, não tenho qualquer tipo de problema com o ex-selecionador, e o que poderá ter acontecido entre ele e Scolari a mim não me diz respeito. Havia um curto espaço de tempo em que foi necessário fazer muita coisa para chegar ao estágio com tudo planeado e acima de tudo focalizar os jogadores num único objetivo: eles só tinham de se preocupar em chegar ao jogo com a Dinamarca e depois ao jogo com a Islândia preparados para ganhar.

«A nossa matriz está no 4x3x3»

R – À chegada, percebe-se a opção de não ter mexido no sistema táctico. Agora, com os jogos de preparação que aí vêm, é tempo para testar coisas novas ou assim está bem?

PB – Portugal tem, há muitos anos e com bons resultados, uma matriz de jogo em termos de sistema táctico, entre os 4x3x3 e o 4x2x3x1. Com vários selecionadores não tem fugido muito a isso. Logicamente, com pouco tempo para trabalhar como nós tínhamos, com os jogadores mais habituados a essa situação – apesar de nos clubes até poderem jogar de outra forma – pensei que não fazia sentido estar a mexer. O nosso objetivo, no estágio, foi prepararmo-nos para jogar em 4x3x3. No futuro, não sei... Não iremos perder esta matriz, mas num momento ou outro dos jogos particulares que vamos fazer antes do encontro com a Noruega, talvez possamos testar outras soluções. O que podemos é tentar criar uma identidade que tenha mais a ver com o modelo de jogo de Portugal do que com a questão dos sistema. Pela qualidade dos nossos futebolistas acho que se deve construir algo em que seja predominante ter a bola, agregando outros factores, como defensivamente sermos uma equipa que joga mais alto e menos em situações de contra-ataque, especialmente quando necessita de ir à procura do resultado. O grande objetivo passa por chegar a outubro de 2011 e conquistar o apuramento e depois, com espaço de tempo maior, no estágio final, trabalhar de uma forma mais segura.

RC
 
Topo